segunda-feira, 7 de agosto de 2017

O Menino

De um lado estava Tokyo, cinza e alta com seus prédios azulados meio cobertos por nuvens brancas de uma manhã fria, eu descia aquela rua e chegava ao outro lado de um viaduto igualmente cinza. Havia bancas e coisas sendo vendidas ao lado, azul e cinza. Esse cenário não é de todo desconhecido para mim, esse viaduto, essa cidade, esse azulado todo já havia estado presente em algum outro sonho complexo, mas Tokyo não, não é a primeira vez que sonho com uma cidade especifica, sabendo por meio do próprio sonho qual cidade é, mas é a estreia de Tokyo no meu inconsciente, Tokyo nunca esteve tão viva dentro de mim como estava nesse sonho. Como eu dizia, havia essas bancas, coisas dependuradas e azuis sendo vendidas, azul e cinza. De lá eu podia ver o topo da Torre de Tokyo, meio encoberta ainda pelas nuvens, eu via as casas baixas e pequenas, os prédios altos e as janelas cerradas dos minúsculos apartamentos. Fora tudo, Tokyo era barulhenta e eu corria. Noutro lado aviso meu pai, mas aquela apesar de ser eu, não sou eu, entro numa casa pulando um portão branco e alto, agora a minha visão se foca no suceder desta ação, eu consigo ver de perto meus pés se apoiando nas emendas da grade, consigo calcular o meu apoio e faço uma força significativa para me lançar sobre o topo do portão. Parece por instantes que aquela eu, não eu, havia feito isso algumas vezes, havia ali uma certa familiaridade em pular aquele portão especifico.
Dentro da casa há uma torre, eu vejo Tokyo ao fundo, mas ali, ali não é Tokyo, ali não é nada, a casa é um cenário novo, como as férias e o inicio de Agosto têm me proporcionado. Novos cenários para sonhos, esses lugares que eu nunca vi e que minha mente tira lá do fundo de mim e funde numa situação louca, trotando entre os sonhos claros e escuros, Tokyo é cinza e azul, mas o céu branco de nuvens nos deixa claro que no lado externo há mais luz que dentro da casa. O quintal, próximo a torre é repleto de velharias e sucata, nothing new, se eu puxar algumas anotações do diário de sonhos verei que não é a primeira vez que estou num lugar que me lembra um ferro velho, quando criança o ferro velho era um dos meus passeios favoritos, mas ali na casa do sonho havia um acumulo tão grande de coisas que a luz mal podia entrar, um muro alto cercava os lados da casa, de forma que fazia-se um corredor, era aquele tipo casa trem, você entra num comodo e vai seguindo de porta em porta um linha só, uma porta da no outro comodo, de modo que o quarto onde eu estava tinha então três portas, uma que vinha da sala, outra que dava na cozinha e uma que dava no muro, mas essa terceira podia ser uma janela. A casa assim com o quintal estava entulhada de coisas, caixas, brinquedos, roupas, essas em sua maioria eram azuis e vermelhas.
Nesse ponto coisas confusas acontecem e outras estórias se fundem aos acontecimentos dali, quero que no fim elas de alguma forma façam sentido, mas não fazem, num sofá uma moça esta sentada com o menino, essa é uma das estórias paralelas, lembre-se, tente lembrar eu ainda estou no quarto entulhado quando essas estórias acontecem, mas como a eu real, essa que dorme, essa que sonha, tem um foco limitado, foco no que traz a mulher e o menino e perco parte do que esta havendo no quarto, as imagens se sobrepõem, a mulher veste amarelo e faz algo com o menino que eu não consigo entender, há outros filhos, há também um pai. O foco volta para eu estar no quarto, separo roupinhas diminutas, listradas, azuis e brancas, algo sobre um bebê que já não vêm e a eu consciente pensa em usar as roupas na Eva, está frio, Eva agora dorme sozinha na caminha. Duas pessoas saem da cozinha para o quarto, elas me agradecem por algo que eu não faço ideia do que seja, uma mulher com seus 50 e poucos anos e um homem um pouco mais velho, eu me vejo então, sou uma mulher de uns 30, não sou eu, cabelos castanhos no ombro, meio ondulados, eu saio e deixo essa outra eu que até então era eu. Na saída o corredor é escuro, o menino do sofá sofre, a mãe faz mal para ele, há um julgamento paralelo, ela é condenada, o menino é grande e pequeno ao mesmo tempo, ele tem cabelos muito escuros e lisos. Eu tiro o menino do sofá, acesso de alguma forma o cenário paralelo e levo o menino nos braços numa tentativa de tira-lo daquele ciclo terrível, aquela mãe não age de forma normal, aquilo tudo não parece certo, ela me olha e diz "por quê se preocupar com a dor dele? Isso não é real." Tomo consciência do sonho e ainda sim escolho fugir com o menino, sabendo ser um sonho eu poderia deixar a tortura seguir e uma parte de mim não se importava, mas levei o menino do cenário paralelo e corri pelo corredor escuro tentando abaixar a blusinha dele para que nada das velharias pudesse arranhar a pele de suas costas, corro agarrando o menino que agora parece bem menor que antes e pulo a grade novamente, agora para fora da casa, com cuidado com o menino e calculando da mesma forma que entrei onde por os pés, as últimas cenas do sonho são de Tokyo longe com seus contornos azulados.

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