quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Limpeza 1

após semanas de reflexão e sem a ajuda terapêutica, venho aqui nesse meu espaço me desfazer das impurezas observadas ao decorrer de setembro. Setembro nunca foi um mês fácil, sendo mais um dos participantes da minha lista de odeio/adoro, sendo parte também da dualidade que é minha vida, odeio e adoro setembro com a mesma intensidade, esse ano setembro passou e logo nem vi, estava ocupada cuidando das coisas, mantendo a vida aceitável, em partes, termino setembro imensamente feliz, tenho conquistado coisas que almejava, artigos, congressos, estágios, cursos, trabalhos entregues e dedicação. No entanto estar conectada me gera sentimentos de repulsa e irritabilidade diversas vezes ao dia, quanto menos acesso às redes, melhor fico e assim tem sido. A madrugada olhando o mar calmo e luminescente de Barra do Una me trouxe diversos pensamentos, que convém registrar. Tenho o banho de mar ocorrido aquela madrugada, como uma limpeza, fazia muito frio, ventava, mas não me contive, não poderia estar tão perto do mar e não provar de sua água salgada, corri para dentro da água, nadei até onde pude sem parar nenhum minuto e voltei, na volta sentei na praia e fiquei a observar meus colegas dançando e pulando na água fria, eis os pensamentos que me ocorreram:
- irritabilidade, me irrita aquilo que observo nos outros e sem querer vejo também em mim
- contradição, a contradição alheia me incomoda num tanto que eu quase sou obrigada a parar qualquer coisa e tentar manter a calma.
- álcool, o consumo de álcool, a veneração ao ato de beber,  ter o consumo alcoólico como um tipo de status disfórico e sem noção, qualquer coisa que envolva álcool me irrita, fico puta, tenho vontade de rir e gritar simultaneamente e dizer "se vocês soubessem o mal que essa porra faz em diversas famílias em tantas partes do mundo, não venerariam essa droga"
- religião/espiritualidade, diz que deus dará, deus não vai dar nada, mantra não faz as pessoas felizes, espiritualidade não se mede por postagens no facebook, recitar qualquer merda não cura depressão
- good vibes, pega o monte de maconha que vocês fumam e enfiem no... pensamento positivo é o caralho, não se pode ignorar aspectos ruins e construir assim uma falsa felicidade, meu psiquiatra uma vez me disse: quem ignora o que incomoda, adoece sem perceber, ninguém é feliz por inteiro, em todos os dias da vida, menos a Sara, a Sara evita saber sobre as coisas para não perder a "felicidade"
- setembro amarelo, quem inventou essa caralha possivelmente nunca teve depressão, é uma piada ver o tanto de gente que nos piores momentos da minha doença não se prestaram nem a dizer um "oi, tá tudo bem?" postando coisas sobre esse mês de conscientização sobre o suicídio, " disponibilizo meu inbox para quem quiser" sim, faz isso pra manter o status de bom samaritano, preocupado com a saúde emocional da sociedade, blá, blá, blá, quando o amigo que tava do lado, na cara do fulano, sumiu, nem pra perguntar o que tá acontecendo, se disponibilizar a fazer uma visita, a ter uma vídeo chamada, nada. Tem ainda gente que posta sobre setembro amarelo, mas fala pro amigo depressivo que ele tem que se esforçar, como se felicidade fosse só querer e pronto, me poupe, nos poupe, se poupe
- falsa empatia, não, deixarei claro, que pedir pro amigo ver o lado bom das coisas não é ser empático com o sofrimento alheio, dizer que entende o sentimento e ficar por isso mesmo, não é ser empático, dizer que realmente não faz ideia do que o outro ser humano esta sentindo, mas que esta ali pra ele, é mais reconfortante que dizer "eu entendo", entender um sentimento não ajuda em nada o outro, mostrar apoio, que esta ali, que esta pronto para um abraço e para ouvir o outro discorrer sobre coisas tristes e bads, ajuda muito mais que dizer "eu entendo, mas você tem que se esforçar"
- um sentimento de cansaço de ir atrás, de quer estar perto e me esforçar para fazer visitas, sendo que ninguém move um puta dedo pra vir até minha casa, chega
- toda vez que ouvi a palavra esforço nesses últimos meses tive vontade de esfregar a fuça das pessoas no chão, mas já passou.


sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Bandolins

Eu não tinha certeza do que estava fazendo, de fato nunca tenho. Queria abrir aquela porta e poder lhe dizer que está tudo bem, mas não, essa insegurança não me permite fazer-lo. Daqui eu posso ouvir,  como fosse um par, que nessa valsa se desenvolvesse ao som dos bandolins, como não? Por que não dizer que o mundo respirava mais se ela apertava assim, seu colo,  como se não fosse o tempo, que já fosse impróprio se dançar assim, ela valsando, só na madrugada, se julgando amada ao som dos bandolins, os olhos se enchem d'Água, mas o coração esquece, ele perdoa, se acomoda e a vontade a fará voltar atrás.

Eu queria não ter esse coração de manteiga, eu queria ter essa mente longe o suficiente para não ter te olhado nos olhos, eu queria estar usando toda a droga que a há no mundo, mas estou aqui e daqui eu posso ouvir, as lágrimas caindo no chão gelado e as mãos suando.

Agora a música parou, ela está sussurrando algo, mas aqui no fundo não se pode escutar, eu queria abrir a porta e lhe dizer, ei, volta! Ei, fica comigo, só mais hoje, só por esse instante. 

Agora o choro cessou, eu acredito que amanhã haverá flores amarelas no gramado, eu ia querer mostrar para ela, dizer que a dor acabou, mas eu sei, ela vai sentir isso ainda tantas vezes, tantas vezes. 

Eu queria que ela realmente não tivesse esse coração de manteiga, queria poder voltar atrás, poder abrir aquela porta gritando, ei! O que pensa que está fazendo? Ei, acalma esse coração! Mas daqui, os sons não a deixam escutar , valsando, como valsa uma criança, que entra na roda a noite está no fim, ela teimou e enfrentou o mundo, se rodopiando ao som dos bandolins. 

Agora, eu apenas paro de querer, esse sentir ainda estará aqui presente, algum tempo mais e eu poderei abrir a porta e lhe dizer, ei, uma vez mais, nós conseguimos!