segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

O Grande Final

Estamos aqui, eu, você, eu, eu, eu, eu. Perante mim, o medo, porque o amanhã não existe, a única coisa que pode ser feita é agora, aqui, esse preciso momento. E estamos aqui e chove muito lá fora e inunda tanta coisa aqui dentro. Medos, confusões, incertezas flutuam num mar salubre e ácido de mim, ás vezes dissolvem, mas voltam como um iceberg profundo e gigante bem no meio do meu ser. Agora está aqui na minha frente, o caminho árduo por entre as brancas geleiras do ártico e eu, eu estou descalça, sei que vai ser fadigante e doloroso, mas o bom é que o gelo adormece tudo. Dei o primeiro passo, aquele mais difícil, aquele que faz congelar até a alma mais cândida e terna, mas eu pisei forte e fui certeira. Ainda sinto medo, eu realmente não sei que caminho seguir, olho para os lados e tudo é novo, alvo e reluzente. Beleza e insanidade caminham lado a lado, incertezas e medos estão logo ali na frente, mas nós continuamos e continuaremos. Que mais fazemos da vida se não continuar? Seguir um caminho? Adentrar o futuro inexistente, que passa a ser agora a partir do momento que é tocado. Nós estamos aqui, eu, você. é o final do ciclo e foi dada a largada.

Contrato de Talvez Três

Maio 2016- Macieira de Anedotas


Eu precisava dizer que tudo isso que nos aconteceu fez bastante diferença na minha vida, percebo que existem alguns pontos em mim que não mudaram desde as nossas últimas conversas, desde as últimas discussões, isso é sobre todas as vezes que você disse que eu era um fracasso e  as vezes em que eu acreditei, mesmo sem perceber. Saber que parte do que sinto hoje foi conquistado nos meus primeiros anos de liberdade, os primeiros anos longe de casa, os primeiros segundos de solidão. A gente aceita o amor que acredita merecer, a gente devolve o amor da forma que o recebe, eu sinto em lhe dizer, mas minhas explosões de ciúmes e meus impulsos de morte sempre tiveram um nome e eu nunca pude entender, me desculpe por um dia ter batido sua cabeça na janela ou ter jogado as flores que me dera no chão, por atirar suco de cajá em seu rosto, te perseguir pela casa, te trancar, me desculpa por ter arranhado seu rosto, jogado suas coisas para fora do quarto, gritado, puxado seus cabelos ou ter te empurrado na mesa da sala de estar, eu não sabia,  eu chorava por não compreender o que ocorria dentro da minha cabeça e com isso não podia ao menos me mover e tudo passava a nossa volta, os carros, as pessoas, os sentidos, a vida, por mim nunca seriamos agentes do nosso próprio destino. Hoje uma amiga minha se casou, fiquei olhando as borboletas enquanto meus colegas conversavam sobre drogas e quedas de bicicleta, pela primeira vez consegui dizer em público e olhando nos olhos das pessoas o nome do mal que tem assombrado meus dias. Lutei muito contra tudo isso e muitas vezes a certeza de ser um fracasso era tão grande que novamente não podia me mover. Acho que mover qualquer parte de mim sempre foi algo difícil nos momentos de grandes crises, lembro que quando criança fiquei cinco dias sem me mover pois havia tomado uma vacina dolorida, não lembro ao certo o que me fez voltar a andar, mas lembro que meu maior medo era de mexer as pernas.Hoje meu maior medo é novamente me mover, me mover pra frente, seguir e continuar sem medo da possível precipitação, afinal já cai tantas e tantas vezes. No fundo acho que eu sempre precisei te dizer tanta coisa e ao mesmo tempo  nada. Aprendi tudo de errado sobre o amor quando estive com você e me viciei em coisas tristes, não foi culpa sua, mas a submissão me dá um enorme prazer e a dor me causa calafrios, risos, espasmos, às vezes é como se toda minha libido dependesse disso. todas aquelas vezes em que gritávamos freneticamente uma com a outra e no final eu só desejava me entregar a você e quanto mais gritaria, maior o prazer. hoje eu consigo por fim entender, aqueles meses me causaram danos que até agora não pude mensurar, não sou o tipo de pessoa forte que lida bem com tudo, mas hoje tenho lidado muito melhor com quem tenho sido e quem venho buscando ser, como disse às vezes é como se eu estivesse remando loucamente contra um mar em fúria, mas sou apenas eu. Sabe eu precisava te falar que fiquei com medo de amar de novo depois de você, além de acreditar ser um fracasso, não me entender, não saber lidar com quem eu sou, tive minha autoestima destruída, apenas eu sei o quanto foi trabalhoso recupera-la, sem autoestima você apenas não consegue chegar nas pessoas, não consegue se abrir para as pessoas, não se acha válido o suficiente e não pode ao menos arriscar qualquer entrega que seja.por isso queria também me desculpar por todas as mentiras que contei, mesmo não te devendo nem um pouco essa explicação. Disse para Lola que por mais que tentasse muito, havia dias que eu não conseguia não pensar por algum segundo em você, disse que eu gostaria de sentar um dia e dizer tanta coisa e discorrer o quanto foi difícil e trabalhoso o caminho de volta a mim mesma, sentar e dizer em meio a longos goles de chá essas coisas que não teriam nenhuma importância para você, disse que gostaria de um dia sentar te perguntar como estão as coisas e ouvir de você que tudo vai tão bem que não se pode medir, gostaria de te convidar para um café, te apresentar minha Lolita,  minha doce Líli e minha nova companheira Isabela e dizer que tudo isso que vivo hoje tem um pequeno traço seu. Lola apenas me disse que eu devia lhe escrever, que escrevendo os sintomas de precisar falar vão sumindo de pouquinho em pouquinho e assim o tenho feito, todos os dias, quando algo de ruim me assola, quando coisas incríveis acontecem, quando o mundo parece que vai desabar, eu escrevo,  eu escrevo para um você inventado, um você que nunca nem chegará perto de ser real, mas assim as coisas fluem com mais delicadeza e às vezes parecem até mesmo flutuar.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Voltar

Eu havia acabado de dissolver o açúcar orgânico no resto de café requentado quando você chegou aqui, passei a noite meio em claro, acordando diversas vezes e torcendo para que essa manhã não fosse tão chuvosa. Não dormi, você chegou e o dia continuou cinza. Depois de três xícaras de café sai correndo para resolver problemas de adulto, que no fundo gostaria que se resolvessem sozinhos, voltei na hora do almoço e ainda não tinha dado tempo de sentar e te falar as coisas que haviam se passado nesse mais de um mês longe, o açúcar empedrou no fundo da caneca e vi apenas quando já tinha a pia lotada de formigas pequeninas.
Almocei e bocejava enquanto você me ajudava a por a mesa e ia dizendo sobre como era lindo tudo que tinha visto, que desejaria que eu estivesse lá e eu não estava, lenços, ruínas e o som desse aparelho de celular mono que parece estar tocando mesmo quando esta tudo em silêncio.
Acho que a sensação que tenho é de que estava fazendo algo muito errado, errado a ponto de não conseguir te olhar nos olhos e falar. Eu ainda bocejava enquanto você dissertava sobre as cores saturadas e takes sem cortes de Lalaland, para quem ama cinema conversar contigo é um grande deleite, para mim, que gosto de conhecer coisas novas, o assunto passa a ser chato após um tempo e passa a ser insuportável após a análise crítica de ao menos três filmes da atualidade, mas nos clássicos e nos indie a gente sempre se entende. Enfim, eu estava tentando te contar sobre tudo o que ocorreu nesses últimos dias, não consegui te interromper, meu pensamento voava e eu queria entender o que de fato eu queria. Deixei a louça na pia e cancelei compromissos, queria dormir, fazer o que eu precisava fazer, sono, sono, sono, a privação de sono pode causar grandes danos cerebrais. Aí você deitou aqui do meu lado e ao contrário de nos atracarmos fiquei esfregando meu pé embaixo das suas pernas, enquanto você esquentava as mãos nas minhas costas. Ficamos em silêncio, as janelas fechadas, Novos Baianos tocava no notebook ao lado da cama e aquele sensação de completude ia chegando perto de mim. Por que não consigo ver as coisas estampadas na cara? Qual meu medo nisso tudo?Ppor que tanto medo do envolvimento? Por que sempre acabo estragando tudo?

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Para uma eu aos 23

Você esta se saindo muito bem, acredito que isso tudo irá durar por muito tempo, mas tenho uma coisa importante para te dizer sobre o mundo. Você nunca irá saber! Essa é a premissa de toda uma vida e aceite isso para que as coisas fluam mais leves.

Você nunca vai saber o dia de amanhã, apenas não saberá, pode achar que esta começando a compreender as coisas, agora com seus vinte e poucos anos, bom você se considera uma adulta em quase grande parte do tempo, mesmo ainda dependendo minimante de seus pais, mesmo ainda querendo o aval de algo de alguém, mas tudo que você compreende hoje pode tomar outro rumo no momento seguinte e quando você tinha absoluta certeza que ia, não foi. E isso, vai acontecer uma, duas, três vezes.

No entanto, você esta se saindo muito bem, com medo é claro, mas a cada dia as coisas ficam mais claras e mesmo com esse medo todo, uma hora você chega lá. Apenas não queira engolir o mundo antes dos 30 e acredite, é normal estar confusa em grande parte das vezes, no fundo todos estão.

Não queira resolver sua vida esse ano e não se cobre se o concurso não sair ou se ficar alguma disciplina pendente, lembre-se isso tem que ser proveitoso e prazeroso, você tem um grande privilégio de poder estudar o que quer e sabe, muitos dariam tudo para estar no seu lugar. Tem dias que são difíceis, tem dias que parece que nada vai para frente, nada. Mas calma, esses dias passam também, podem demorar a eternidade, mas uma hora chegam ao fim e você estará livre deles.

Não pense que as coisas vão ficar mais fáceis depois, vá com a convicção de que elas nunca estarão mais fáceis, mas sempre passam e sempre trazem algo a que se aprender, tudo isso, absolutamente tudo é necessário para te fazer melhor, muito melhor.

Você tem um objetivo e ele não é enriquecer e sim fazer algo bom pela sociedade, tenha esperança, acredite em seus alunos e deposite muita fé neles, sua missão é ensinar algo, no fundo você sabe que ainda há motivos para seguir na Terra.

Pode ter medo sim e pode ser covarde as vezes, não nascemos prontos e nem sempre nos sentimos bem para estar em alguma situação. Mas lembre-se sempre que não se deve deixar o medo vencer, mas as vezes pode acontecer e esta tudo bem.

Faça o melhor para si, não tente agradar ninguém, apenas não tente, faça o que for te fazer feliz e mais humana.

Entenda que apesar de ter passado tanto tempo, você ainda esta bem no inicio e tem uma vida toda de escolhas por aí, não se preocupe com isso, quando estiver pronta vai dar, apenas assim simples e fácil.

A vida adulta é complexa, complicada e amedrontadora, mas você desfruta de coisas que antes eram impensáveis, como autoconhecimento e uma estranha e confusa clareza, mais segurança em si mesma e mais autonomia.

Conheça ao menos quatro lugares novos, ano passado foram três, mais um ano, mais um lugar.

Apresente seu TCC com maestria e não sinta medo disso, você acreditava que iria demorar muito para esse momento chegar e agora chegou, em breve você deixa de ser uma graduanda para se titular professora de biologia e isso é ao mesmo tempo maravilhoso e aterrador.

Mantenha seus relacionamentos de forma saudável e tente manter contato sempre que se sentir bem para isso.

Cuide de si e cuide de quem você ama, pode insistir as vezes, algumas pessoas funcionam melhor na base da pressão e nem sempre elas percebem o que pode ajudar no momento, naquela situação.

Seja mais tolerante, nem todos tiveram as mesmas vivências que você, é fácil respeitar o momento de desconstrução do outro, quando você sabe que as vivências e realidades são distintas e você sabe disso.

O futuro é incerto e perspicaz, amedrontador e as vezes lindo, apenas tenha certeza de todos esses conselhos, vá com segurança de que nunca, nunca você vai saber. Apenas não vai saber e esse mistério todo é o que torna a vida maravilhosa!

Trechos de rascunhos 2015/2016

Intervalo. Finalmente consegui dormir em um horário razoável, reza braba, mandinga, gasto significativo de energia, não sei. Sei que as onze horas eu estava sentindo muito sono e decidi desenhar ouvindo umas músicas clássicas, pouco tempo depois eu já estava apenas ouvindo música clássica e depois de alguns cochilos tirei a música. Sempre que me deito cedo, quando o sono não vem de vez e fica fazendo um vem não vem em minha cabeça,eu sinto medo. Não é um medo consciente e nem mesmo sei explicar. Sei que esse limiar de sono é tomado por imagens horríveis, acontecimentos bizarros, vozes tenebrosas e eu acordo diversas vezes com palpitação e assustada até finalmente pegar no sono. Eu geralmente tento deixar minha cachorra bem próxima, pois ela me traz uma sensação de segurança nessa entrada de sono.  
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Desrespeitoso é ser homofóbico,foi uma forma de manifesto contra uma instituição machista e homofóbica, isso deve ser respeitado, afinal vivemos numa democracia onde a manifestação e protesto são assegurados pela constituição. No mais, esse cara deve ser o orgulho da família, afinal se formou engenheiro na melhor faculdade de engenharia do Brasil. LGBTs estão em todos os lugares, fazem parte da sociedade, se formam em faculdades e estão no meio acadêmico em peso, não frequentam apenas a Parada Gay.

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As vezes a gente só quer que as coisas voltem ao estado anterior. Isso é medo, isso é falta de coragem de lidar com muitas coisas, mas as vezes essa parece a única opção plausível. Voltar ao estado anterior, voltar a calmaria e a acomodação. Estou prestes a dar um passo grande na minha vida familiar e hoje vi que isso esta mexendo comigo de fato. Não tão perceptivelmente, porém de uma forma sutil e estarrecedora. Eu sei quem sou, em relação a minha sexualidade, eu quase sempre soube quem sou.

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Dado grande introspecção de sábado, achei por bem fazer uma lista (tenho escrito sobre listas com frequência) de tudo que me serviu de gatilho nos últimos três anos, é uma lista grande e acredito que muita coisa dela realmente foi essencial para mim, mas também causaram grandes problemas com os quais eu tive que lidar. Acredito que a introspecção é algo realmente necessário, mas sei que passo melhor o tempo quando ela não ocorre, acho que essa é uma das chaves de se viver bem, se perdoar pelo seu próprio passado e evitar ao máximo desgraçamentos e explosões de informações que possam te fazer pensar demais e talvez reviver coisas que te farão sofrer.

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Eu não conheci Ibiza e nem pretendo conhecer mais, meus planos de viagem futuras não estão incluindo esse passeio no momento, não gosto de festas e não gosto de boates e segundo Lolita, Ibiza tem tudo isso, muito! O forte no turismo da ilha são os festivais de música eletrônica que ocorrem anualmente e eu prefiro não estar inserida nessa brincadeira. 

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Comida rápida e fácil, de preferencia que não suje muitos utensílios domésticos, no mais faço arroz para semana inteira, separo e congelo, tenho costume de congelar outras coisas também, como tortas, vagens, legumes cozidos e bananas, laro quando consigo ir a feira. Com tudo isso a única coisa que me falta fazer, fora aquecer tudo no microondas é um ovo mexido ou dois, as vezes uma omelete, a salada eu deixo lavada e pico tudo num segundo. Na sobremesa, café da manhã ou lanche da tarde um smoothie de banana mais algo, caso não role um preguiça, que trafega entre maça, pêssego, cenoura ou outro diacho qualquer que tiver na geladeira. Nos dias mais corridos, rola comer na casa das tias avós, macarrão com alho e óleo e claro miojinho. No fins de semana em que fico no ócio de casa, geralmente como qualquer merda e as vezes rola uma panqueca ou bolo, as vezes, muito raramente eu diria. 

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Uma, duas histórias

Há um tempinho me relaciono com uma pessoa que realmente usa drogas, não apenas fuma maconha, como conhece todos os analgésicos e opioides disponíveis no mercado legal e ilegal, sabe como, onde e quanto pagar por eles, sabe a dosagem que se pode tomar, os princípios ativos de cada um deles, até quanto se pode ingerir sem morrer, sabe como substituir por similares e quais os efeitos colateiras, sabe bulas de cor e que poderia se passar por uma bela hipocondríaca, se não fosse uma junkie. Conhece também quase todos os estimulantes, sabe onde conseguir, como e quanto pagar em cada um deles na cotação de dolar do dia, com ela conheci a ação de hidrocodona, codeína, morfina, cetamina, metadona, tebaína e claro, heroína, conheci nesse último ano mais de química orgânica que em todo o colegial, passei em química dois com ajuda dessa moça, além de ter me saído maravilhosamente bem em bioquímica, me apaixonei e terminei Breaking Bad e voltei a assistir a série, além te ter lido ótimos artigos de como alguns professores usaram o tema drogas para abordar química com secundaristas.

Já estive adicta( se é que podemos usar essa palavra)  por um tempo, tomando olanzapina, clonazepam, paroxetina, escitalopram, flouxetina e 2000mg de divalproato de sódio diariamente, não por motivos de recreação, mas sim porque provavelmente eu teria tentado sair dessa vida se não tivesse encontrado a tempo essas drogas legais.

Outro dia, Lois me chamou pela primeira vez de careta, porque não havia acendido o beck para ela e não queria que ele fosse aceso no momento, no entanto até então ninguém tinha me dito isso, pelo menos não na minha frente, eu me considerava uma pessoa super mente aberta e que lidava bem com coisas novas, apesar de algumas relutâncias, ás vezes. Fiquei pensativa e não achei careta optar por minha saúde, pelo bem estar do meu corpo e de minha mente. Sei que ela tem os problemas dela, que são muitos e muito maiores que os meus, a droga, no caso de Lola é apenas o escape para lidar com coisas que ela não lida sozinha, na verdade fugir de tudo que ela não sabe lidar, sou contra, mas compreendo o porque da busca frenética pela morte, a droga não é apenas uma recreação para algumas pessoas, ela se torna uma necessidade, há dores reais numa abstinência, dores que não tem motivos para existir, mas estão lá, são reais, são físicas e fazem as pessoas urrarem e se contorcerem, drogas como essas não apenas moldam o psicológico como viciam fisiologicamente, são tóxicas e letais, certamente ninguém acharia careta fugir disso.

No fim, dadas todas as explicações, vamos falar aqui da maconha.

A primeira vez que fumei maconha tinha quase dezessete anos, menos que isso provavelmente, estava numa festa de uma cidade, cidade pequena, com festas anuais. Não lembro direito a época do ano, mas eu havia bebido muita jurupinga, tomado umas vodcas e ficava com um carinha do meu colégio, na época estava acompanhada de algumas amigas, duas em especial, estava hospedada na casa de uma delas e apaixonada pela outra. Na noite passada eu havia ido para algum canto com aquele mesmo carinha, no meio do mato, mais precisamente, também estava bêbada, estava com frio e provavelmente acabada, sumi umas horas com ele, não me envolvi emocionalmente, porém foi uma manobra difícil driblar um cara bastante excitado no meio de um mato sem ninguém para te ouvir, após dizer algumas dúzias de vezes que eu não queria transar com ele ali, no mato, ele foi gentil e me tirou de lá. Ao chegar na casa dessa minha amiga contei pra ela, mas estava meio abalada com a situação. Na próxima noite, essa em que eu realmente bebi muita jurupinga, algumas vodcas e ficava com o carinha, a cidade estava cheia, eu andava com a primeira amiga para lá e para cá, as outras pessoas que nos acompanhavam sempre sumiam, elas diziam "dar um perdido", até que enquanto eu comprava outra garrafinha de jurupinga, minha única acompanhante sumiu. Fiquei like a crazy procurando por ela, odiava ficar sozinha, ainda mais no meio de uma multidão, numa cidade onde eu não conhecia praticamente ninguém. Após procurar um pouquinho, a vi um pouco de longe atracada com o carinha que até então ficava comigo, virei de costas e sai andando. Alguns passos e já tava completamente perdida dela, sozinha, no meio da galera desconhecida e bêbeda. Sai procurando todo mundo, novamente like a crazy e ai enquanto eu subia uma rua uns carinhas me pararam " e ai, tá sozinha andando por aí?", "cola aqui com a gente", eu com raiva, sozinha, perdida, passando meio mal, achei por bem sentar na guia da calçada e trocar uma ideia com os caras, pelo menos pra perguntar onde exatamente eu estava. Contei meus dramas para eles, que ouviram atentamente minhas reclamações, gente dramática bêbeda é foda, eles então me ofereceram um cigarrinho. "obrigada, não fumo" "vamo, vai te deixar mais de boa" (suposto diálogo, não me lembro ao certo o que eu conversei com os caras e nem quanto tempo fiquei ali) Peguei o cigarro, chupei com força, engoli a fumaça, me engasguei, comecei a tossir, achei que fosse botar todo álcool para fora, mas passou. Chupei o cigarro de novo e dessa vez deu tudo certo, fiquei mais um tempo conversando com os caras e não sei se eles me disseram onde meus amigos estavam, ou se encontrei com eles sozinha ou se me encontraram. Desse momento em diante, tudo ficou estranho, minha cabeça girava muito, as pessoas riam e eu achava que estava rindo de mim, fiquei tensa, com tudo girando, estomago doendo, garganta ardendo, foi horrível. Engatinhei numa calçada suja, vomitei horrores e terminei a noite vomitando nessa pessoa que seria minha melhor amiga hoje e por quem eu achava estar apaixonada, diga-se de passagem.

Aos dezoito anos tive a segunda experiencia com a maconha, eu fumava as vezes, mas ficava tranquila apenas, com o corpo relaxado, comprava umas gramas com Carla e ficávamos fumando e ouvindo música, ao ver que fumar não me causava grandes coisas, parei e por alguns meses não fumei nada, apenas cigarro. Um dia, uma ex que manjava das trocas e barganhas, trocou um narguilé por algumas gramas de maconha e algum dinheiro, não me lembro ao certo, ela trocou com um traficantizinho que morava no mesmo condomínio dela, fomos para minha casa, ela estava se mudando para lá e resolvemos fazer um brigadeiro para comemorar, foi tudo para panela, comemos, eu, ela (maybe) e Matheus que morava com a gente. Tudo ia bem, meus pensamentos estavam estranhos e eu estava alucinando muito, coisas muito doidas, com um pensamento tão acelerado que eu mal podia falar. Ficamos os três quietos por tempo indeterminado e foi ai que a trip começou a ficar bad, bem bad, really bad. Fomos para o quarto, na época eu dormia num colchão inflável, com ondas azuis, deitamos, tudo girava e comecei a me sentir em uma correnteza de rio, após uns minutos tinha certeza que estava na correnteza e que ia morrer, achava que ia cair a qualquer momento dali e morrer. A ex me acalmava, "ei, tudo bem" "já vai passar", aos poucos melhorou e transamos, esse momento foi ótimo, mas era só eu fechar os olhos que vários demônios apareciam em minha mente em pop art, o que tornava tudo mais assustador, um menino pedalava um triciclo em vários frames diferentes em cores diferentes e quando virava para mim tinha o rosto deformado e eu gritava e menina tentava me acalmar e eu fechava os olhos e tudo voltava e eu pedia para que ela fizesse aquilo parar e não parava. Acho que minha pressão caiu, sei que passei muito mal e acabei apagando.

Ano passado, no fim do ano, fui "diagnosticada"( se é que é possível um médico fechar um diagnostico tão complexo em um ano e outro seguir os passos do outro médico e dar um prognostico da mesma doença)  como depressiva e posteriormente como bipolar (CID10 F33.3 e F31.5 respectivamente), tive várias experiencias com LSD e mesmo maconha, essas experiencias foram essenciais no ativação de um sintoma que pode ser apresentado tanto nos quadros mais graves de mania como de depressão, a despersonalização. Esse sintoma se caracteriza por dar uma sensação de falta de realidade, hoje, sem as medicações, sei como lidar com episódios assim, esses são até raros, precisam de um gatilho para acontecer, sei mais ou menos quais são os gatilhos que posso encontrar por aí, filmes que é melhor não assistir, séries que melhor não ver, livros que não são recomendados e claro, drogas que são terminantemente proibidas. Meu pensamento é naturalmente acelerado, tenho uma tendencia a criar coisas com muita facilidade, sou boa em fazer isso, tudo dentro da minha cabeça viaja rápido demais, as vezes fica difícil acompanhar e eu acabo parecendo bem lerdinha nas coisas reais, que realmente estão ocorrendo ao meu redor, as coisas mudam muito rápido e quase nunca eu estou no presente. Tenho uma tendencia a paranoia também, isso pode causar medo, pânico, ansiedade e agressividade. Fora as manias, que aparecem como automutilação, tricotilomania, dependência emocional e a necessidade da dor, seja arrancando um pelo, beliscando as coxas e braços, furando a pele ou fazendo pequenos arranhões nos braços. A mania que mais me prejudicou até hoje e um dos psiquiatras que me assistiu acredita que a doença deu os primeiros sinais logo na infância, pensamento mágico, acelerado e mitomania bem acentuados em diversas partes da minha vida. Por fim, tenho a dizer que minha escolha por não fumar maconha não foi por um pensamento antiquado, nada tenho contra maconha, inclusive gosto dela, do cheiro, da cor, da fumaça, do gosto. Acho a planta e flor maravilhosas, sei como ela é, conheço sua morfologia, quais os hormônios que regulam a floração e os princípios ativos, sei mais ou menos como ela funciona no cérebro, como age no SNC e mas importante sei que se eu usar, se eu fumar um beck, der dois pegas que seja, todo meu esforço para me manter mentalmente sã vai por água abaixo. Sei que a paranoia vai tomar conta de mim, que vou me sentir inadequada no ambiente, que vou ficar muito introspectiva tentado acompanhar os pensamentos sobre todas as informações ao redor, TODAS AS INFORMAÇÕES, sei que minha capacidade de socializar vai ficar reduzida, que vou sentir irritação comigo, com os outros, sei que provavelmente vou ficar dias computando todas as informações que meu cérebro tornou visível, o que pode me causar crises depressivas severas, pois o desejo de sumir não apenas imagina uma possível desintegração de matéria terrestre, como traz a tona remédios fáceis que podem levar a uma overdose, vontade de afundar em um rio, mar, lagoa, de pular de lugares altos, toda a corja de pensamentos de sumiço que possam existir, overdose medicamentosa as vezes é uma grande tentação nessas horas. Sei também que fugir de quem se é não é legal, mas no momento seria insano abraçar tudo isso, tenho uma faculdade para terminar e uma carreira para construir. Tenho descoberto todo dia quem sou e aprendo meus limites. Devo respeitar meu corpo acima de tudo, respeitar a serenidade atual de minha mente, essa escolha é consciente de quem sou e do que quero para mim, não um pensamento retrogrado ou um medo de experimentar coisas novas, passa longe de ser uma simples caretice.