domingo, 13 de agosto de 2017

Ressaca Social

Não é a coisa mais fácil, eu apenas queria que a maioria das pessoas com quem convivo entendessem que não é tão simples para mim o que aparenta ser demasiado fácil para elas. Eu um dia cansei de ouvir que não queria me divertir, que eu buscava todos os estados com os quais lidava, porquê é sempre fácil para os outros olhar de fora e acreditar que ali não há esforço, que essa melancolia vem por conta de seu pessimismo, que sua falta de vontade de socializar é apenas uma timidez ou qualquer insegurança que seja. Só que não é nada disso, a maioria das pessoas jamais vai experimentar essa sensação única que é não pertencer, essa que nos faz achar ser um ser completamente aparte do lugar onde você nasceu, da condição humana a qual experimenta, esse sentimento que te garante uma falta de estabilidade em grande parte dos seus relacionamentos pessoais, porquê eu nunca sei se falei no momento oportuno, se sorri no momento certo, se fiz aquele barulho estranho com a boca enquanto lia um livro em público ou ouvia música, eu sempre saio desses momentos acreditando que eu estou tão errada de estar ali, que falei demais, que abordei coisas fora de contexto e que fui grossa apenas por ser eu mesma ou por tentar ao máximo parecer ser aceitável socialmente. As pessoas não sabem o que é uma ressaca social, o que é ter de se retirar do mundo após poucas horas de contato com muita gente, de contato com gente que você não conhece, essa relação interpessoal toma rumos desgastantes, sufocantes e aterradores. Elas nunca saberiam o que é não ter o menor jogo de cintura para lidar com assuntos corriqueiros, como o cabelo da menina na nossa frente, como o namorado da fulana ou como a outra ali não está lidando bem com seu relacionamento. Se não tiver densidade, tensão, profundidade em qualquer conversa eu nem vou, coisas superficiais me atrapalham e me irritam. Acho que aos 23 eu perdi totalmente a vontade desse esforço para me adaptar ao padrão social, eu só não quero mais me desgastar para tentar parecer normal, para estar apta a viver dessa forma. Eu levo bem minha vida, eu me dou bem em minhas escolhas quase sempre, em dar minha aulas, em montar meus planos de ensino, eu sou boa no que faço e tenho recebido as recompensas disso tudo, apesar de todas as milhares de dúvidas, apesar da aparente confusão dicotômica entre a pesquisa e a educação, aos 23, talvez eu esteja pronta para lidar com quem eu sou, sem ter que me validar de máscaras, talvez essa seja a melhor idade que experimentei até o momento, aquela tão almejada maturidade, aquela de saber que esta tudo bem, que as coisas vão acontecer e que eu não preciso me parecer nem um pouco com as pessoas da minha idade. Não dá mais para sofrer por não pertencer a locais que não são meus por natureza.


...

Do Clássico ao Funk

 JUNHO 2017

- Lucy in the Sky with Diamonds
- Across The Universe
- Let Be
- Here Comes The Sun
- I want To Hold Your Hand
- I Should Have Know Better
- Eleanor Rigby
- Revolution nº 9 *
- Black Bird
- Lady Madonna
- Strawberry Fields Forever
- I've Just Seen a Face

- Under Pressure
- Bohemian Rhapsody
- Don't Stop Me Now
- Another One Bites the Dust
- Somebody To Love
- Radio Ga Ga
- We Will Rock You
- Love of My Life

-  LOVE  WILL TEAR US APART
- Disorder
- SHE'S LOST CONTROL
-  Atmosphere
- Shadowplay
- Blue Monday
- Lullaby

- OFF TO THE RACES
- BLUE JEANS
- VIDEO GAMES
- DIET MOUNTAIN DEW
- BORN TO DIE
- National Anthem
- CARMEN
- FLORIDA KILOS
- Ultraviolence
- HIGH BY THE BEACH

- Liability
- Royals
- Team
- Green Light
- Tennis Court
- Easy
- Love me on the brain

- Despacito
- Me Gustas Tu
- Ja ne T'aime Plus
- Partiu
- Vai Embrazando
- Olha a Explosão
- Paradinha
- Na sua Cara
- Qual Bumbum mais bate...
- K.O
- Lalá

-Tangerine
- Lonely Boy
- Gold on The Ceiling
- CAN'T HOLD US
- Roxanne
- Highway to Hell
- 505
- Fake Tales of San Francisco
- Do I Wanna Know

- Bandolins
- Quando Bate aquela Saudade
- Sampa
- Por Enquanto
- A noite
- Wave*
- Aquele Abraço*
- Samba de Benção*
- A Tonga da Mironga do Kabuletê*
- Tarde em Itapuã*
- Pela Luz dos Olhos Teus*
- Samba de Orly*
- A Rita*
- A Rosa*
- Quem te viu Quem te vê*
- Fica*
- Samba e Amor*
- Tatuagem *
- Mambembe*
- Leãozinho*
- Disritmia
- Cotidiano*
- O Mundo é um Moinho
- Trevo
- Cabide

Tem asterisco todas as músicas que fazia tempo que não ouvia
Estão em maiúsculas todas as músicas que estão entre as mais ouvidas há mais de 3 meses
Em julho de 2017 adicionei pela primeira vez funks com letras pobres as minhas playlists diárias (???)


segunda-feira, 7 de agosto de 2017

O Menino

De um lado estava Tokyo, cinza e alta com seus prédios azulados meio cobertos por nuvens brancas de uma manhã fria, eu descia aquela rua e chegava ao outro lado de um viaduto igualmente cinza. Havia bancas e coisas sendo vendidas ao lado, azul e cinza. Esse cenário não é de todo desconhecido para mim, esse viaduto, essa cidade, esse azulado todo já havia estado presente em algum outro sonho complexo, mas Tokyo não, não é a primeira vez que sonho com uma cidade especifica, sabendo por meio do próprio sonho qual cidade é, mas é a estreia de Tokyo no meu inconsciente, Tokyo nunca esteve tão viva dentro de mim como estava nesse sonho. Como eu dizia, havia essas bancas, coisas dependuradas e azuis sendo vendidas, azul e cinza. De lá eu podia ver o topo da Torre de Tokyo, meio encoberta ainda pelas nuvens, eu via as casas baixas e pequenas, os prédios altos e as janelas cerradas dos minúsculos apartamentos. Fora tudo, Tokyo era barulhenta e eu corria. Noutro lado aviso meu pai, mas aquela apesar de ser eu, não sou eu, entro numa casa pulando um portão branco e alto, agora a minha visão se foca no suceder desta ação, eu consigo ver de perto meus pés se apoiando nas emendas da grade, consigo calcular o meu apoio e faço uma força significativa para me lançar sobre o topo do portão. Parece por instantes que aquela eu, não eu, havia feito isso algumas vezes, havia ali uma certa familiaridade em pular aquele portão especifico.
Dentro da casa há uma torre, eu vejo Tokyo ao fundo, mas ali, ali não é Tokyo, ali não é nada, a casa é um cenário novo, como as férias e o inicio de Agosto têm me proporcionado. Novos cenários para sonhos, esses lugares que eu nunca vi e que minha mente tira lá do fundo de mim e funde numa situação louca, trotando entre os sonhos claros e escuros, Tokyo é cinza e azul, mas o céu branco de nuvens nos deixa claro que no lado externo há mais luz que dentro da casa. O quintal, próximo a torre é repleto de velharias e sucata, nothing new, se eu puxar algumas anotações do diário de sonhos verei que não é a primeira vez que estou num lugar que me lembra um ferro velho, quando criança o ferro velho era um dos meus passeios favoritos, mas ali na casa do sonho havia um acumulo tão grande de coisas que a luz mal podia entrar, um muro alto cercava os lados da casa, de forma que fazia-se um corredor, era aquele tipo casa trem, você entra num comodo e vai seguindo de porta em porta um linha só, uma porta da no outro comodo, de modo que o quarto onde eu estava tinha então três portas, uma que vinha da sala, outra que dava na cozinha e uma que dava no muro, mas essa terceira podia ser uma janela. A casa assim com o quintal estava entulhada de coisas, caixas, brinquedos, roupas, essas em sua maioria eram azuis e vermelhas.
Nesse ponto coisas confusas acontecem e outras estórias se fundem aos acontecimentos dali, quero que no fim elas de alguma forma façam sentido, mas não fazem, num sofá uma moça esta sentada com o menino, essa é uma das estórias paralelas, lembre-se, tente lembrar eu ainda estou no quarto entulhado quando essas estórias acontecem, mas como a eu real, essa que dorme, essa que sonha, tem um foco limitado, foco no que traz a mulher e o menino e perco parte do que esta havendo no quarto, as imagens se sobrepõem, a mulher veste amarelo e faz algo com o menino que eu não consigo entender, há outros filhos, há também um pai. O foco volta para eu estar no quarto, separo roupinhas diminutas, listradas, azuis e brancas, algo sobre um bebê que já não vêm e a eu consciente pensa em usar as roupas na Eva, está frio, Eva agora dorme sozinha na caminha. Duas pessoas saem da cozinha para o quarto, elas me agradecem por algo que eu não faço ideia do que seja, uma mulher com seus 50 e poucos anos e um homem um pouco mais velho, eu me vejo então, sou uma mulher de uns 30, não sou eu, cabelos castanhos no ombro, meio ondulados, eu saio e deixo essa outra eu que até então era eu. Na saída o corredor é escuro, o menino do sofá sofre, a mãe faz mal para ele, há um julgamento paralelo, ela é condenada, o menino é grande e pequeno ao mesmo tempo, ele tem cabelos muito escuros e lisos. Eu tiro o menino do sofá, acesso de alguma forma o cenário paralelo e levo o menino nos braços numa tentativa de tira-lo daquele ciclo terrível, aquela mãe não age de forma normal, aquilo tudo não parece certo, ela me olha e diz "por quê se preocupar com a dor dele? Isso não é real." Tomo consciência do sonho e ainda sim escolho fugir com o menino, sabendo ser um sonho eu poderia deixar a tortura seguir e uma parte de mim não se importava, mas levei o menino do cenário paralelo e corri pelo corredor escuro tentando abaixar a blusinha dele para que nada das velharias pudesse arranhar a pele de suas costas, corro agarrando o menino que agora parece bem menor que antes e pulo a grade novamente, agora para fora da casa, com cuidado com o menino e calculando da mesma forma que entrei onde por os pés, as últimas cenas do sonho são de Tokyo longe com seus contornos azulados.

terça-feira, 18 de julho de 2017

Junho de 2017

- Love will tear us apart
- Gold  on the ceiling
- Do i wanna know?
- RU mine?
- Tangerine
- I wanna be yours
- Fake tales of san francisco
- 505
- My medicine
- You
- Make me wanna die
- Carmen
- Florida kilos
- High by the beach
- Off to the races
- Blue jeans
- Video games
- Highway to hell
-Roxanne
- Heroes
- One for the road
- Liability
- Green light
- Easy
- Toxic
-Hallelujah
-Where is my mind?
-Trevo
- Nescafé
- Bem me leve
- Quando bate aquela saudade
- Bandolins
- Nosso xote
- Pra você guardei o amor
- Há tempos
- Será
- Ainda é cedo
- Tempo perdido
- Relicário
- All star azul
- Todo dia
- Meu amor
- Disritmia
- O mundo é um moinho
- Janta
- La bohemia
- La boheme
- All  the pretty little horses
- Big rock candy mountain
- Redemption song
- Buffalo soldier
- Three little birds
- Photograph
- Shape of you
- Partiu
- Despacito
- Vai embrazando




A decadência das férias

um fluxo de ar extremamente gelado passa por São Paulo, as temperaturas baixaram uns 11º graus nos últimos dois dias, eu me comprometi a separar roupas para doar à pessoas que precisam, que estão situação de rua ou as meninas do abrigo, pois sei que falta muita coisa para as adolescentes de lá, mas eu queria registrar aqui que eu não consegui

sinto que uma crise me toma pelos braços e é como se eu estivesse me afogando em mim mesma, em quem eu nunca quis que eu fosse, mas em quem eu talvez esteja me tornando. Um quê ranzinza, um quê de egoismo e uma pitada de puro sarcasmo me compõem nesse momento de agora

noto pelo esforço minimo que faço para agradar, o esforço minimo que faço para me vestir de acordo com as normas e parões atuais, aquele minimo esforço para me manter limpa, apesar do cabelo estar penteado e imensamente comprido, é aquilo, todos olham e dizem que meu cabelo segue lindo e está crescendo, eu não me importo, não entendo porquê de cabelo comprido ser assim tão lindo sendo que isso mais me incomoda do que da um minimo prazer. É só o minimo, o minimo para me manter aceitável frente uma sociedade que eu julgo e julgo o tempo todo, todos os dias, do momento que eu abro os olhos ao derradeiro fim de cada noite

sou uma farsa, eu olho para mim e tantas vezes não me reconheço e tantas vezes me perco dentro de tudo que sou e de todas que sou e do quanto posso mudar ainda sim, olho para o espelho e não vejo mais nada de quem já fui, no entanto está tudo ali, tudo em alguma parte de algo que me forma hoje e são tantas as pessoas que compõem tudo isso e eu

no meio disso tudo, me afogo e anteontem eu olhava fotos das pessoas que me acompanham até aqui, minhas amigas, meus amigos, minha família e eu mesma, tantos rostos e eu estava tão perdida, eles todos ali e eu sem conseguir reconhecer-los, quem são vocês? quem são? no fundo disso que a gente chama mente, no fundo de algo que aquém a própria existência tange a ascensão universal. isso que chamamos alma, mas que na verdade não sabemos ao certo. Quem são? Quem eu sou? Qual de mim seguirá em frente?

aquela que almeja uma sociedade melhor ou a que não se importa que o mundo exploda se ainda sim houver a si e seu crescimento pessoal? quem eu me tornei?

essa pessoa que evita contato e sentia pânico em descer até o hall do prédio para por o lixo fora, que não queria sair do apartamento para não cumprimentar o porteiro ou evitou ir ao mercado para não precisar apresentar o rg para o caixa ( documento esse que já não me pedem mais).

então estive com minha família e há algo bom em ser eu mesma, mas sempre tem algo que eu tento esconder e como isso é desgastante. eu sempre digo algo errado, eu sempre causo reações que não gostaria de causar, como se todos, todos se importassem, quando na realidade ninguém está preocupado necessariamente se me porto de maneira aceitável ou não.

e esse relacionamento acabou e outros se iniciam de forma tímida e descompromissada e eu odeio ter de começar tudo de novo, de me explicar tal como sou, de me apresentar e de me portar, justificar. eu sinto tanta sua falta e ao mesmo tempo agradeço por não estar mais perto, por eu ainda estar viva, por estar nessa merda e ao menos estar sentindo algo acontecendo em mim. não sentir é a pior das sensações, aquela inexistência

e aos 23, eu me irrito com a presença de crianças no mundo, eu trabalho de forma a alcançar algo só meu, eu me esforço para ser a melhor nessa área e eu apenas quero crescer loucamente e que se foda todo o resto, pois meus focos têm mudado tanto com o passar dos anos que eu estou perdida no meio de tantas possibilidades e ao mesmo tempo convicta e intermitentemente confusa.

this is me on every vacation.

o ócio e a solidão podem causar crises existenciais previamente inexistentes, adverte o ministério da saúde mental.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

pessoas, fumaça, CO2, gel agarose

eu estava querendo fumar esses dias, pela tensão, por toda essa coisa que acontece quando a gente inicia o fechamento de algo. Algo me mantinha longe de fato, mas uma amiga me trouxe um maço de cigarro como se adivinhasse o meu pensamento, eu não tinha acendido nenhum, mesmo com grande vontade, porém essa madrugada me ocorreu de acende-lo, assim o fiz

a principio me pareceu tão errado, vi minhas plantinhas no vaso ao tentar fumar ali na varandinha, elas estão brotando tão lindas, tão serenas na sua luta por um espacinho nesse espaço louco, esse que as plantinhas pequenas carecem de noção, eu não achei justo, olhei para unica Nephilingis cruentata 
que consegui salvar da destruição da laje, bom eu salvei todas as oito, mas apenas essa sobreviveu no novo ambiente e isso não deve ter sido fácil, ela, noturna tecendo sua longa e firme teia e eu ali poluindo como um todo não só a mim mesma como também o ar dela

no entanto foi aliviador sentir algo enchendo meus pulmões, algo que não fosse oxigênio ou essa merda toda que respiramos, algo denso, algo que fosse minha escolha, não esse automático todo a gente vive vivendo diariamente.

acho que a gente enlouquece um pouco ao final dos ciclos, a gente nunca sabe viver essas coisas, os fechamentos da vida, eu ao menos não sei

isa nunca sabe ao certo quando as mãos dela estão cheirando a cigarro, eu gosto de estar perto da isa, ela é apenas essa pessoa, essa como eu, isso me agrada. Ela também mantém os ombros curvados e reponde não sei e parece querer saber também e tentar, isso me familiariza com ela, com a não leveza dela, com a sensibilidade que ela demonstra ter nos desenhos de cactos e nas pinturas abstratas, mas não era da isa que pensei em dissertar nesse texto, eu deveria estar estudando log e sabe, você só mede PH com log e você pode montar mil géis de agarose e fazer 200 PCR, ainda assim a nicotina te completará mais, as vezes

a lili, a gente não se toca, eu pensei outro dia, a gente se tocou pouquíssimas vezes, mas é dela que aprendo tanto, pois essa sensibilidade enrustida, essa que a gente cria cascas para esconder, a lili tem de sobra, ela é dura como concreto e ali dentro de toda aquela dureza tem alguém que sente tanto esse mundo quanto eu, isso me aproxima, por mais que eu não a toque, por mais que possamos resumir esses três anos em dois abraços, a lili também sabe, a gente enlouquece um pouco nos finais de ciclos

o final sempre nos reserva um quê fora da casinha, os começos também e depois quem sabe uma estabilidade, depois quem sabe


...

ele me apresentou essa música (quando bate aquela saudade), eu acho que o amo as vezes, mas agora ela já não sai da minha cabeça, é uma música dolorida, de um amor que lateja e ainda assim é belo, lili a colocou para tocar na sala 3 e causou um nó em minha garganta, a fumaça desceu e só o cheiro de cigarro ficou forte em meus dedos, eu também não o percebo
...

achei que pudesse ser o início de uma nova crise, mas creio ser apenas esse momento torpe, a gente enlouquece um pouco nos fechamentos, a gente meio que se perde propositalmente para recobrar o fôlego e os propósitos

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu
Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.

Do amor, dos corpos e da orgia.

Tinha para mim no inicio dessa vida que o comportamento sexual nos humanos era algo apenas libidinoso, via o sexo algo estranho, algo meio inalcançável, algo completamente padronizado. Não achava nada daquilo belo, mas era curiosa, também não entendia o os sentimentos envolvidos em tudo, não entendia a emoção, não compreendia a complexidade.

Eis que o hoje chegou e com ele veio algo que acaba me dizendo bem mais de mim agora do que de quem um dia eu fui. Ocorre que hoje, sexo não é sexo. Aos dezoito eu amei pela primeira vez, digo o amor romântico, essa dinastia linda de emoções distintas ocorrendo em uma cascata tênue e lenta bem no meio de quem somos. Esse primeiro amor foi, de meu lado, intenso como um mar em fúria e para esse amor dediquei algum tempo de meus primeiros anos de juventude, era um desespero o desvencilhamento daquele sentimento tão bom outrora, tão amargo após e tão liberto hoje.

Houve no tempo de um amor insano inúmeras descobertas sobre o que era amar. Acreditei que o amor era uno, que o amor era livre, poligâmico, despretensioso e mesmo uma tendência pouco estudada do ser humano moderno. Mas após episódios épicos de própria contemplação, notei que eu amava sentir os outros corpos. Quando descobri duas coisas o amor é algo além do corpo, mas não é unicamente da alma. Eu comecei a ver beleza na pele, no toque, nos beijos, nas línguas e cabelos, conformações dentárias, narizes, orelhas. Onde havia pernas eu via sem jeito, não apenas pernas, mas uma infinitude de lugares percorridos, folhas secas pisadas, corridas por medo, alegria, estética. Onde havia braços, eu via abraços quentes, frios, apertados e espaçados, amores, mãe, pai, avós, netos  e afilhados. Descobri a beleza do toque, todas as peles tem marcas, pelos, unhas, pintadas, naturais, outros dedos que ali percorreram, os tombos, as quedas de árvore, acidentes de bicicleta, motos, queimados de sol, de fogo, desenhos. Tantos e tantos desenhos, sereias, faróis, gatos e leões. Besouros e libelulas.


...

Melancólica

MAIO/2017

- Back to Black - Amy Winehouse
- Rehab - Amy Winehouse
- You Know I Not Good - Amy Winehouse
- Me and Mr Jones - Amy Winehouse
- Mr Tambourine Man - Bob Dylan
- Annie's Going Sing Her Song - Bob Dylan
- Hurricane- Bob Dylan
- Like Rolling Stone- Bob Dylan
- Lonely Boy- The Black Keys
- Little Black Submarines- The Black Keys
- Psychotic Girl- The Black Keys
- Gold On The Ceiling- The Black Keys
- Stairway To Heaven- Led Zeppelin
- Tangerine - Led Zeppelin
- Black Dog - Led Zeppelin
- The Sound of Silence- Simon e Garfunkel
- El Condor Pasa- Simon e Garfunkel
- Toxic- Yael Naim
- 505- Arctic Monkeys
- Fake Tales Of San Francisco- Arctic Monkeys
- I Wanna Be Your- Arctic Monkeys
- RU mine- Arctic Monkeys
- Break Apart- Bonobo
- Cirrus- Bonobo
- Easy- Son Lux
- Can't Hold Us- Macklemore e Ryan Lewis
- You Only Live Once- The Strokes
- Love Will Tear Us Apart- Joy Division
- Disorder- Joy Division
- She's Lost Control- Joy Division
- Atmosphere- Joy Division
- Shadowplay- Joy Division
- Blue Monday- New Order
-Twenty Four Hours- Joy Division
- Enjoy The Silence- Depeche Mode
- Runaway- Aurora
- Warrior- Aurora
- Conqueror- Aurora
- Murder Song- Aurora
- Running With The Wolves- Aurora
- Off To The Races- Lana Del Rey
- High By The Beach- Lana Del Rey
- Diet Moutain Dew- Lana Del Rey

- Sorriso ao Sono - Phil Veras
- Cabide- Mart'nália
- Sem Nome, Mas com Endereço- Liniker
- Zero- Liniker
- Tua- Liniker
- Trevo- Anavitória




texto engasgado

É que eu precisava escrever, sobre tudo isso que tem acontecido e ademais de tantas outras coisas que a gente esquece, deixa passar batido, deixa estar, deixa pra lá... eu não tenho tido tempo e esses textos vão ficando aqui dentro de mim e se acumulando num misto de sentimentos que nem eu e nem ninguém no mundo poderia explicar. É tanta coisa, mas tanta coisa que eu poderia abrir uma pasta só de quase textos, trechos e histórias pela metade, como já tenho, como é esse blog de apenas trechos e nenhum texto completo, nenhuma ideia finalizada, nenhum derradeiro fim

Eu queria dizer outro dia, que sou o caos, me surpreendo por tantas vezes achar que caos eu não era, que estava tudo bem e que eu tinha essa alma tranquila, amiga e amena. Não tenho.

Outra vez haviam me falado que a gente vê o que quer, isso tudo que a gente vê, é o que está dentro da gente é a imagem de mundo que a gente externaliza, criando assim a própria realidade, difícil esse pensamento

Eu amo o que faço e tem dias que odeio o que faço, tem dias que acordo sem saber se vivo tudo isso por altruísmo ou por um egoísmo imenso, eu quero mudar algo no mundo, mas nunca sei se é por mim ou pelo mundo em si

Eu quis desistir de tudo quando me deparei com aquele obstaculo, aquele estarrecedor que tira a utopia das nossas veias, que afugenta nossos ideais, que nos torna tão descrentes de si, que nenhuma ideologia é párea e a qual nenhum sonho sobrevive

Eu tenho falado tantas vezes sobre essa desesperança, porque a gente não cria a realidade do outro e essa, essa nos enlaça e nos destrói, porque a gente nem sempre vai saber lidar com ela e temos que estar preparadas, nós sempre temos que estar de alguma forma preparadas e nunca, eu afirmo, nunca estaremos

Outro dia vi alguém de psicologia dizer que amava se cercar dessa gente good vibes, essa que um dia aos meus 20 anos quis ser, essa gente que hoje eu não gosto de ter por perto

Minhas terapeutas todas, lidaram em sua carreira, com ninguém, absolutamente ninguém que fosse good vibes, porque é isso que essa profissão faz, lida com o pior do ser humano em todos seus aspectos e de fato existe certa beleza oculta em uma obscuridade humana, existe um quê de mistério em toda subjetividade e toda melancolia

Mas reafirmo, a gente não vai estar preparado, nunca, em nenhum momento a gente vai saber lidar com algumas coisas que vem vindo do outro e a gente não sabe de onde ao certo, porque o outro não é só o que a gente vê, o outro é um amontoado de outras coisas, simples ou complexas, é uma coletânea de passados e uma incógnita tão grande que dá um negocio no nosso peito  

Eu queria ser simples e autêntica, eu pensei tanto nela outro dia, numa pessoa que eu nunca entendi porque de ser tão querida e amada, porque eu sempre estive me adaptando e ainda sim nem tão querida e amada, eu sigo a amando e tenho uma admiração profunda pela simplicidade com que essa menina lida com tudo, apesar de termos sido criadas juntas, apesar de passarmos por situações juntas, por brincarmos juntas e imaginarmos juntas, eu sempre fui cheia de becos e frestas e arestas e pedaços a compor e recompor, sempre me perdi aqui dentro enquanto na sua visão estava tudo ótimo, eu sempre quis ver aquilo depois do muro e sigo querendo e nunca, nada, nunca está tão esclarecido quanto eu gostaria, eu ainda me adapto a pessoas e assuntos

Eu sempre quis saber tudo, não haveria um assunto sequer que eu não pudesse discorrer com algum conhecimento, sempre, em toda minha infância e juventude saber tudo era a lei, EU QUERO SABER TUDO, não importava como, era um absurdo que alguém me falasse sobre algo que eu não soubesse, não aceitava não saber

A gente não abraça o mundo

A gente não conhece ou se reconhece no conhecimento e história do outro, aquele amontoado de passados que a gente não enxerga

Mas aí ela apareceu, ela respondia e gritava, mas gritava muito, alguém dava uma ordem e ela não acatava, alguém pedia uma resposta e ela xingava, alguém queria instiga-la e ela escarniava. O mundo desaba e suas vivências se enchem de frustração e por mais que você saiba que isso eventualmente acontecerá, você não estará preparada, eu reafirmo

Um conselho de classe e uma resposta que talvez eu nem quisesse, diversos abusos, tantos que os caras do conselho tutelar nem quiseram de fato informar, "temos muita gente da reabilitação comportamental aqui nessa escola", assaltantes e uma galera que já tentou matar e você terá todos, eu digo todos os tipos de abuso, de negligência, de maus tratos dentro daquela sala

Você quem cria mesmo sua realidade? Pois eu não vivi nada disso, fui protegida do mal e do mundo durante toda minha infância, ainda não conheci mulher de vinte e poucos e que não tenho sofrido tentativa ou de fato sofrido algum tipo de abuso, de desrespeito, de agressão. Mesmo conhecendo esse sentimento quando adulta, aquela história me afetou, me tirou do chão me sacudiu no alto de mim mesma e me jogou cuspida para a realidade que tenho a minha frente

Sua realidade, quem cria?

Agora o amontado de passado do outro me afetava diretamente, o descaso com o menino me afeta diretamente, a menina abusada, quem ela vai ser? em que ponto da sociedade ela via se esbarrar comigo novamente? e os filhos dela? Esses que possivelmente se encontrarão com os meus em alguma esquina. Quem serão eles?

A gente começa a sentir um medo, porque a gente percebe que a realidade não só essa que a gente externaliza, a realidade é outra, está paralelamente a tudo que a gente acredita e tem tantos agentes criadores e nos atinge em diversos aspectos

A natureza é linda, eu amo estar aqui e ali, cercada das plantas e disso tudo que eu estudo, já tenho dito tantas vezes sobre meu amor pelos ciclos e os pequenos bichinhos, mas ignorar a humanidade e sua escória, é impossível.

Escória essa que é composta por mim, por você, sua família, minha família, meus alunos, seus pais e seus algozes, mesmo quando estes alunos são os próprios algozes, porque a gente de fato nunca sabe

Mesmo com essa beleza que tange a complexidade tão oculta como é, é difícil por vezes quase impossível criar algo belo em cima dessa realidade dura, essa que eu não criei, mas me atinge

Nada no mundo é simples, nada, isso a gente sempre deve levar conosco

Nem o líquen das árvores, nem flor de bom dia, nem o olho do inseto e muito menos a mente humana e suas estruturas sociais, esquece essa simplicidade que suas crenças a fizeram acreditar

Olá complexidade, vamos tomar um chá?

domingo, 28 de maio de 2017

O lado b sempre risca primeiro

Inconstantemente,eu, fora dessa realidade que você costuma querer para si

Mais um dia, mais um passo, um dia a menos, um passo a menos

Dentro de mim algo que tange o infinito e busca inúmeras vertentes para desvendar o que há de mais lindo na terra, em você a certeza de que eu não cresço no substrato que você oferece, mas sinto que estou sendo cruel

Estou a um passo de desvendar quem sou, quem você é

Antes eu apenas via o quanto disso valeria a pena, o quanto eu poderia levar, o que a gente leva afinal? Onde mora o fim? Qual o último passo?

Depois a gente pode passar naquele café seguir com a vida apenas não falando dos aspectos mais sombrios de nossa alma. É como se a gente nem existisse mais

Fora todos os medos que tive ao seu lado, todas as inseguranças que construí e ainda peno a retirar de quem sou, andar sozinha naquelas tantas ruas, com medo, desamparo é algo que recorre nesta minha existência

Onde manter-te tornou nocivo, onde tentar manter-me aqui tornou dolorido e insustentável, como meu ser é, como eu jamais podeira manter e sustentar, como seu ser é

Rápido é como eu deixo isso, rápido como a incisão mais profunda de uma cirurgia de risco, as mãos do cirurgião moldam o tecido da forma a melhor se adaptar a essa nova realidade, aquela onde o órgão arrancado já não nos faz mais parte, por mais que ainda o sintamos latente

Saudades é algo que a gente aprende a lidar, somos seres camaleões e estamos aptos a trocar de pele quando nos convir. A saudade é um pedaço do passado que mora num lado da nossa vida, é o pedacinho do travesseiro que a gente aperta na hora do choro, a saudade nada mais é que uma parcela do passado que ainda não passou

Haverá um dia, um outro dia qualquer, em que eu vou poder te tratar com toda a sinceridade que merece, quero que sua vida esteja radiante nesse momento, esse que não sei quando existirá, se

Então a gente vai voltar pro lugar de onde todos viemos, o inicio onde tudo isso começa, onde ainda não há magoas, onde o coração estará curado de todos os caminhos errados que decidimos tomar, há coisas que eu não poderia jamais te contar e sinto muito por estar fazendo essa manobra. Eu ainda agradeço, pois você sempre fará parte de mim.





Amor, essa é sua fita


E todo vez que você está por aí, aqui por perto, aqui na minha vida, apenas estando, eu nunca entendo, você entra e sai, você machuca e assopra e me traz todos os antídotos para que minhas dores se curem. Outro dia você volta e aperta minha nuca e me segura perto e eu estou intermitentemente me submetendo.
Você esfregava um livro novo no rosto, cheirava as paginas e sentia a textura das folhas, enquanto eu estava sentada aos seus pés lendo o mais novo livro de poemas favoritos. Eu sempre ali, sentada aos seus pés, eu que levantaria ao estalar de seus dedos e que lhe serviria com o corpo, como tenho feito duranta todas as vezes que aqui está. Eu, que não me orgulho, não me arrependo e não remeto nenhuma dessas ações.
Dizem que o amor não deve doer, eu creio ser verdadeira essa premissa. Mas sempre me pergunto o que me faz te buscar?  O que me faz querer por perto você? O que me faz gostar tanto dessa toxicidade? Desse vícios, da sua falta de respeito para comigo, com você, com o mundo?  Eu tenho medo.
Te ouvi dizer que eu não sei dizer te amo, mas que isso era seletivo, que eu não tinha medo de dizer que amava outra pessoa, que não tinha medo do amor da outra, mas tinha muito medo de me doar a você, que o problema era só você. Apenas e completamente com você. Pois você é errada, você não segue esse linha reta entre dois pontos, você as vezes esta tão fora de si que me pergunto o que há ai dentro que eu jamais saberei e você jamais saberá tudo que a minha cabeça, pensa, inventa, revive ou refaz. Isso permeia nossa vida no que menos tange ao outro, apesar de as vezes também pertence-lo.

Eu queria dizer que eu também sinto medo de dizer que a amo, mesmo que esse amor já perdure uma vida, mesmo que ele esteja latente, hora dormente, hora imperceptível. Que toda vez que isso termina eu tenho medo de soletrar essa frase, eu tenho medo de dizer, para mim dizer que amo é como me dar de bandeja, como abrir aquele rombo e largar na mesa o coração, as vísceras, é como se partir em duzentos pedacinhos e voltar. Eu digo que amo, quando eu realmente amo, antes disso jamais, antes do amor existe essa coisa, isso que a gente vive, no limbo de amar-te e no limbo de doar-se. O limbo liquido dos tempos modernos, onde ninguém se frusta e não há a dor. Amar não doí, mas a entrega pode doer, entregar-se pode ser doloroso, impiedoso, pois a gente trabalha tanto em quem a gente é, a gente busca tanto se erguer, se reerguer, se restabelecer e se amar, entregar isso tudo de si pode ser penoso, dificultoso e há que se pensar.

Servir-te não é amar-te, é menos ainda amar-se. Há um quê de egoísmo em te servir, em te dar, em ser esse pessoa que vai ao seu encontro, que busca submeter-se, isso porque não há retidão nesses meus atos, eu apenas quero extravasar essa energia densa que as vezes me acomete. Mas devo dizer realmente que não te amo ou devo pensar esse submeter-se como uma forma disfuncional de amar, ainda sim amor?  Eu só queria hoje, que apesar disso, você ficasse, que me estendesse os braços e que me acorrenta-se em alguma parte sua. Eu queria hoje ter seus cabelos no meu lençol e seu cheiro em minhas roupas, assim como queria ter sua cabeça assim, bem assim apoiada em meu peito para que eu pudesse beijar-te os olhos, a boca, os cabelos e descer.

Perguntei ao baralho de tarot, com a mais pura energia da alma, se eu haverei um dia de deixar de amar, a resposta foi a carta do Enamorado, onde no presente o amor cega meu discernimento.
De agora para o mais longínquo futuro, o amor estará sempre cegando meu discernimento, pois ser racional é não amar. Para mim, sendo correta ou não a suposta premissa, o amor vai doer ainda mais um tanto, até que meu coração se acomode no canto do coração do outro e eu entenda o real significado de amar nessa Terra.

sábado, 20 de maio de 2017

Docência, essa é a sua fita.

Não, eu não estou com saco para comentar os absurdos que vêm acontecendo nesse país, queria estar realmente alheia a tudo isso, mas nessa segunda ouvir sobre a fita vazada desse presidente golpista foi como uma martelada no estomago. Socorro, eu descrente olhava para Aline e jurava estar vivendo um episodio de House of Cards. Eu quero que o interino golpista se foda, mas me assusta pensar no fim que vai dar tudo isso e me dói saber que eu não estou podendo participar do momento mais insano da história atual.
...

Esta tudo bem, meu intestino melhorou nos últimos dias, após duas semanas bem ruim, menos três quilos e duas idas ao médico, eu acho que as coisas estão fluindo, meio tropeçando, mas ao menos estão. Dias desses tive que lidar com um medo gigantesco e estarrecedor de seguir vivendo, as vezes noto que o desacomodar-se é um tanto doloroso e enfrentar algumas situações é ainda mais. Mas eu tenho me perguntado se estou no rumo certo, com tudo isso ocorrendo eu sinto mais medo ainda, eu sempre quis  um futuro melhor para esse planeta, sempre tive uma fé tamanha nesse ser que chamamos de humano que optei por seguir a docência, mesmo sabendo que o percurso seria trabalhoso, por vezes dolorido, por vezes impossível. Eu cheguei aqui, último ano de faculdade e um ponto de interrogação, por fim, o que estou fazendo da minha vida?

Entrei num vórtice de questões e mais questões que começaram a corroer algo em mim, resultando numa desesperança tamanha que antes mesmo de começar eu já estava desistindo. Eis que me bateu o medo, aquele famigerado, medo de dar o passo final, de ir lá, de aplicar as atividades do meu TCC, eu tenho um prazo, eu tenho um prazo e preciso de aulas e preciso de alunos e preciso de 120 questionários de etnobotânica respondidos e preciso ainda mais que isso seja feito com números exatos de amostragem de alunos de duas regiões diferentes da minha cidade. Eu preciso tabular todos os resultados das atividades que não fiz e dos questionários que não apliquei e apresentar numa pré banca agora no inicio de junho, que se contarmos bem e formos otimistas é praticamente amanhã. Era quinta e me agarrei numa crise, sexta nada do que comia ficava, sábado, muitas dores, domingo, pensei que iria morre, desceu meu período e logo uma infinitude de cólicas que há meses eu não via, segunda dores, gases e eletroforeses, terça, não apliquei meu projeto, quarta não apliquei meu projeto, quinta iniciei um novo projeto como se já não bastasse os outros projetos de escanteio. Então fui ver Elisa, dias antes tinha conversado sinceramente com Aline sobre como tudo aquilo mexia comigo, eu estava mesmo com medo, eu dizia a Aline que sentia medo, eu não sabia pra que lado ir. Elisa quis me ajudar, ela também sabe para onde ir, 30 anos na educação pública, hoje ela esta se aposentando e me diz não ter ideia do que fazer depois disso. Eu, entrando agora pra essa vida, o primeiro passo e não tenho ideia do que será disso, da educação, do país, de mim mesma.

...

Desesperança é um negocio que eu achei que não me atingiria tão cedo, mas a prática nada tem a ver com teoria utópica de que tudo é lindo e tudo dará certo e você pode planejar o que for, apenas nem sempre vai dar certo e quase todas as vezes um pé sai fora da linha e quase todas as vezes você se sente meio desequilibrado, meio sem saída, meio sem saber onde ir. E você pode ler o tanto de Paulo Freire que for, pode conhecer as etapas de desenvolvimento de Piaget, pode ditar frases inteiras de Vygotsky, ainda sim, você pode se perder na frente daqueles seres humanos e ainda sim você vai sentir medo.

...

Eu achava que a graduação era horrível, mas nada tem sido mais angustiante que o final dela, estarrecedor é o inicio da vida adulta, aquela que só começa quando você deixa de ser realmente assistido pela universidade, seus mestres são pessoas como você, seus alunos são pessoas como você, sua admiração por qualquer outro humano passa a ser cada vez menor, pois todos são meramente como você, humanos, errando pra tentar acertar e repetindo diversos erros.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Glicólise

eis uma noite de insônia, poderia eu dizer que não tenho nada que me preocupar, que a vida anda fácil e sorrateira e que eu não estou tropegando pelos cantos e pedindo arregos a cada esquina, mas não. Logo mais devo estra de pé, olho fundo meus olhos fundos no espelho, essas olheiras que tanto me doeram e hoje me definem, esse nariz que tanto odeie e hoje tenho afeição, esse rosto já tão costumeiro, esse expressão tão fora de si. Mas então me esqueço que logo devo estar de pé, por mais tropega que esteja, em pé, as cinco da manhã a fim de não me atrasar, a fim de cumprir meus objetivos, de estar vivendo, mais que existindo, afinal seguimos porque algo ainda há, se não houvesse eu já não seguiria, não estaria e não viveria. Eis que me pergunto onde erro e por que? Eis que no fundo eu já não enxergo nesses olhos fundos passível compreensão, eis que me sinto como Pessoa, quase sempre, em seu poema em linha reta, buscando em meio as gratidões infinitas de todos que se aceitaram em sua condição meramente humana, meros humanos, como eu tenho sido e por toda essa vida serei.

domingo, 7 de maio de 2017

A telúrica e a retórica

mas as coisas são assim mesmo, no fim a gente acaba levando muito mais de tudo isso aqui, tudo vai passando tão rápido, nada disso sera tão importante novamente. Esse momento aqui, é o único existente, só hoje, só o agora. Nada mais é tão possível e tão concreto quanto agora, nada em nenhum tempo, o agora é sua mesa de trabalho.

isso não muda quem somos, eu tenho visto em mim mesma o retrato do que observo no mundo e tenho dito que está tudo bem, mas na verdade não está. Eu tenho agido assim tanta e tanta vezes, com esse egoismo, com esta carranca lúgubre e tantas vezes áspera, inconstante e arredia. Aos vinte eu acreditava tanto na minha elevação espiritual,  pressupunha que já havia, eu vivente há duas décadas, já conhecer dores reais, amores reais e que a vida era simples como uma caixa, quatro lados e eu apenas deveria notar sua beleza e simplicidade. Mas eu nunca fui sincera, nem mesmo com as minhas próprias visões de mundo e vida de caixa, simplicidade e beleza, tem suas irrelevâncias, temores e muitas, infinitas contradições. Sua complexidade me comove.

eu conheci um lado porco e sujo de tudo isso que a gente chama de vida, quando alguém passa por isso nada volta ao normal, nada é como antes, seu sentido some e sua visão embaça.Eu conheci o lado porco e sujo do mundo, não nas minhas vivências, mas nessa capacidade adquirida da empatia humana, calçar seus sapatos é também sentir sua dor. Eu abri o manto da minha própria porquidão e sordidez. Eu, a única pessoa passível de mudança, o único material de trabalho. Você planta e pode não colher os frutos agora, pode não haver frutos nunca. Ao mesmo tempo a vida é mágica, queria acreditar que algo tão lindo possa ter sido criado por qualquer ser, queria crer no cosmos que atende as orações das almas aflitas, mas não. O "acaso" pode ser excepcionalmente deslumbrante se conseguir olhar com esses olhos, uma sucessão de "acasos" podem conter e transformar a vida e a vida, a vida sim, esse fenômeno tão singular de nascimento, perpetuação, senescência e morte é banhado pela luz de algo maior, eu, a complexidade,sublimação e estopo da própria existência. a formação de um universo que a gente não conhece e nem vai conhecer. Não como humanos, não nesse ciclo.  

seu ego é você.

basta três dias, doze horas e vinte sete minutos para convencer a si mesma de que a leveza esta no próprio pensamento de quem a vê. é preciso alguns segundos e uma leitura para notar que nada de leve provem da realidade humana.

me perguntaram então o que me fazia mais feliz nesse mundo, não foi das mais fáceis a resposta, muitas coisas reais e tangíveis me proporcionam felicidade, mas após algum tempo pensar, respondi que minha felicidade de certo modo pousa em alguns pilares, que na Terra, de forma real plantas e insetos me causam um sentimento de plenitude e aquela aterradora consciência de inconstância e pequenez humana, há quem não compreenda a intensidade de se sentir a verdade por trás das plantas e dos bichinhos minúsculos, aquela verdade que nunca queremos aceitar, a finitude de nossa semelhança ao criador, a recaptação do conceito de nosso lugar na Terra e tudo de mais estarrecedor que pensamos durante nossas crises existências. Uma planta, não entrando no quesito de valores ou mesmo de relevância para o meio, mas uma planta por diversas vezes me trouxe mais felicidade que muitas pessoas. Esse suspiro de perfeição de milhares e milhares de anos na Terra.

eu notei, logo cedo que não era igual aos outros, a você. Era apenas eu, quando criança tinha em mim uma coragem e curiosidade natas, no que diz respeito a explorar o novo, desvendar o mistério por trás de tudo. Na juventude fiquei insegura, perdi a audácia daqueles primeiros anos e passei sentir que eu era pouco demais, perto de tudo, das coisas, dos outros, ainda assim o novo era atraente e tentador. Mais tarde conheci o medo, o medo da mudança, o atraente e tentador novo, agora me parecia um monstro de sete cabeças pronto para me engolir, regurgitar e cuspir, sete vezes eu mesma, mastigada, fadigada e sozinha. E o medo me trouxe isso, o vislumbre de quem sou, a verdade por trás não das coisas, mas de mim mesma. A curiosidade se voltou para dentro com o medo de ver lá fora e após fuçar livros, reler histórias e folhear cadernos, contornar todo sistema límbico e aquele hipocampo logo ali atrás, os olhos espiam o futuro e sorriem.

azar o seu que não estará lá para ver.




domingo, 30 de abril de 2017

Eclética

ABRIL/2017

- Hallelujah - Leonard Cohen
- Felling Good - Nina Simone
- I Put Spell On You - Nina Simone
- Bohemian Rhapsody - Queen
- Love of My Life- Queen
- Under Pressure - Queen
- Redemption Song - Bob Marley
- Bufalo Soldier - Bob Marley
- Off To The Races - Lana Del Rey
- High By The Beach - Lana Del Rey
- Love Will Tear Us Apart - Joy Division
- Atmosphere - Joy Division
- She's Lost Control - Joy Division
- Disorder - Joy Division
- Lullaby - The Cure
- Blue Monday - New Order
- Enjoy The Silence - Despeche Mode
- You Only Live Once - The Strokes
- Liability - Lorde
- Royals - Lorde
- Where My Mind? - Pixies
- You're My Sunshine - Johnny Cash
- Big Rock Candy Mountain - Harry Macclintock
- Andança - Beth Carvalho
- Mulher do Fim do Mundo - Elza Soares
- Maria da Vila Matilde - Elza Soares
- Pra Fuder - Elza Soares
- Triste, Louca ou Má-  Francisco, el Hombre
- Preciso Me Encontrar - Cartola
- Sina - Djavan
- Debaixo d' Caracóis- Caetano Veloso
- Oração ao Tempo - Caetano Veloso
- Sangue Latino - Secos e Molhados
- O Bêbado e o Equilibrista - Elis Regina
- Perfume do Invisível - Céu
- Você Partiu Meu Coração - Anitta, Nego do Borel e Safadão
- Ojos Color Sol - Calle 13
- Vuelta al Mundo - Calle 13
- Pa' Norte - Calle 13
- Orishas - A Lo Cubano
- Besame Mucho - Perotá Chingo
- Paloma Negra - Perotá Chingo
- Volver a Los Diecisiete - Mercedes Sosa



quinta-feira, 20 de abril de 2017

Don't walk away, in silence

Você sempre acha que para mim não faz nenhuma diferença, está sempre tratando tudo isso com descaso e com aquele ar de soberba e deboche, é sempre assim quando se trata de nós, disso que a gente passa. Por certo tenho uma parcela grande de culpa nisso tudo, você sempre acha que eu não me importo, que eu realmente não me importo, isso é por que eu não vou atrás, eu não insisto, eu não te chamo, eu não suplico e não demonstro. Mas eu sinto, eu sinto muito, sinto quando você não vem, quando não fala, quando finge que nada nunca esta acontecendo, quando para você nem sua própria vida realmente importa. Eu sinto.

Eu só não sei mais demonstrar com tanta intensidade, eu só não sei como fazer isso acontecer, como estar perto sem abrir um rombo em meu peito, por onde irão escapar todas coisas de mim que não quero, todas as coisas de mim que não sou, que sou, que não quero ser, que pretendo de ser. Um rombo tão grande que por algum descuido eu escape e comece a me confundir com você, comece a me tropeçar em quem é você, comece por fim a não me ver sem você. Eu não saberia andar na rua sem ser em sua presença, eu não saberia acordar sem ser ao seu lado e não saberia viver sem ser sob seu atento olhar. Eu correria atrás de quem é você por todas as salas e lugares e espaços e vidas até estar por perto. Esse rombo deixaria vazar a mim, minha história, meus sonhos. E ficaria ali exposto tudo isso que sou, todas as feridas abertas, todos os passiveis locais dolorosos onde você toca tão sem perceber e mesmo quando não há rombo nenhum no peito, dói. Mesmo que não haja feridas abertas, mesmo que um tecido duro, resistente e massudo tenha unido tudo isso, todas as partes. Mesmo com um escudo de concreto, alguns toques seus doem, a falta deles dói ainda mais.

Acontece que a gente nunca quer lembrar, mas um dia você vai embora e eu vou ter de ficar secando a enxurrada de coisas abertas, rotas e soltas que você irá deixar quando for. Porque por mais que queira percorrer salas, lugares, espaços e vidas atrás de você, eu já estarei tão sem tempo, sem saco, sem brio para lidar com tudo isso, vou apenas soltar sua mão, você vai e eu fico de peito aberto, roto, solto, tentando novamente estancar a insanidade de mim.

Eu queria que fossemos leves como qualquer dia ensolarado em Ubatuba, Peruíbe ou Arpoador, mas isso não somos nós, nós somos os inferninhos da Augusta, um corredor de motos e um banco de praça no meio da chuva. Nós somos Atmosphere ao fundo enquanto alguém recita Schopenhauer (respectivamente uma banda que você adora e um cara que você idolatra), nós somos uma noite de domingo, somos Réquiem para um Sonho enquanto todos os outros parecem ser  Pequena Miss Sunshine.

Eu sinto e quero que saiba a cada dia que abrir os olhos que eu sinto e se não digo, se não sei dizer o quanto há desse sentimento em mim, se de minha boca não saem essas palavras que você quer ouvir é porque eu preciso aprender ainda, aprender como amar essa loucura, como manter a mente sã, como levar a vida e como finalmente poder te amar sem medo de me perder.



quarta-feira, 19 de abril de 2017

Clara

é o futuro, ao menos se parece o futuro. Flora volta de Pelotas numa van colorida, quem dirige é o menino Mateus, que não se chama Mateus nessa realidade. Flora traz consigo a Sol e pela primeira vez Sol e Eva se encontram, esta frio e ambas usam casaquinho listrado, Sol usa um casaquinho azul escuro com listras brancas e Eva usa um casaquinho branco com listras azuis. Elas se tornam muito amigas e passam a dividir a mesma caminha. Nesse momento estamos nós todos na casa antiga de meu tio Reginaldo, as crianças ainda são pequenas, João tem cerca de dois anos e brinca com a cachorras. Nesse momento o até então futuro se torna uma lembrança da minha infância, eu e Marcela estamos juntas, brincamos e contamos coisas da vida uma para outra, paralelamente Flora segue sendo adulta e estando preparando as coisas para partir na van colorida, saio da casa e sou adulta também, cumprimento o menino Mateus, que não tem esse nome e nem se parece com ele fisicamente, mas tudo bem, fico feliz de estar conhecendo-o naquela noite, está frio e tomamos quentão enquanto esperamos a lua crescer no céu. Sol e Eva brincam e a noite segue escura, o único lugar iluminado é a casa e nela as crianças ainda são pequenas e eu também sou, então não quero voltar lá para dentro, prefiro ser adulta, ter a Flora por perto e sentir o frio da noite sem lua. Escolho estar no futuro.

...

separo as coisas da Flora para encher a van, ela saiu e Mateus (não Mateus) me ajuda a arrumar a van para partimos para qualquer lugar ainda mais futuro, eu pegaria uma carona com eles, há também outro carro e Flora iria guiar um deles, aparentemente seria uma viagem longa. Entro na casa novamente e tudo esta como no passado, o quarto dos meus primos é como era quando o João nasceu, há ursinhos na parede e um fundo bege, a cama de casal fica bem no meio e a banheira do João está do outro lado, vejo os brinquedos da Marcela e bola cor de rosa fajuta que fez tantas vezes a gente brigar, olho para o espelho e aquela sou eu aos cinco, estou nua e minha tia havia acabado de me dar banho, é uma imagem de algo que realmente aconteceu, algo que eu realmente me lembro, a gente tomava banho juntas e tínhamos corte de cabelo igual. Saio da casa e a varanda é o presente, a varanda está como agora, depois de todas as reformas. Sento e a menina da série coloca a cabeça no meu colo, ela se parece Lola e Nabila simultaneamente, mas logo passa a ser só Lola e eu a aperto muito e sinto coisas estranhas e amores ao beijar seus cabelos e começo a dizer a Lili, Marcela e Flora que se ela morresse eu iria querer morrer junto. Ela esta com a cabeça no meu colo e olho em seus olhos verdes tão profundamente e sinto muito carinho por ela, beijo seus olhos, cabelos, bochechas e boca diversas vezes e ela fica sorrindo e me olhando nos olhos. Logo volto a arrumar as coisas da Flora, há dentre essas coisas, anéis e um sabonete em formato de coração, que lembro de alguma parte de minha vida, mas não me lembro qual, ele é de glicerina e tem o cheiro da Flora e flores secas dentro.

...

estou com Lola no apartamento em algum lugar que não é São Paulo, parece muito São Paulo, mas não é, é um lugar nenhum de nenhum lugar aparentemente, provavelmente algum cenário reutilizado de sonhos mais antigos, pois se parece muito com algum outro lugar que eu conheço. O chão é de mogno, os moveis são de mogno, há gavetas, balcões e armários, há duas grandes janelas panorâmicas. A tv está ligada em algum jornal, que informa em meio a muitas noticias o suicídio de uma moça jovem em São Paulo, paro o que estou fazendo para ver, sento no chão e vejo aparecer a foto da Nanda, não acredito no que estou vendo, me recuso, a imagem que vem em seguida é uma garota dependurada numa sacada, suspensa por um fio de alta tensão, desses bem grossos. A imagem me atormenta, me jogo no chão e começo a chorar desesperada, choro muito. Não consigo me mexer e grito muito, Lola tenta me acalmar e nada adianta, sigo sem conseguir me mexer e gritando muito, sinto uma dor horrível pelo corpo todo, como se tivessem me matando.

...

aperto forte a mão de Kaio depois de buscar noticias da Nanda pelo Facebook, começo a chorar novamente, mas ele não parece abalado com a morte da esposa, diz que essas coisas acontecem, eu berro e sinto um desespero imenso, me imagino morrendo e desejo que tudo não passe de um sonho horrível.

...

saímos com a van, passamos por lugares lindos,lagos, flores e terras coloridas. Morros, montanhas e cordilheiras, chegamos em uma casa diferente, há muita gente, agora estou com Javiera, uma garota de cabelos curtos, sinto por ela o mesmo que sentia por Lola na segunda parte do sonho, não estou sentindo nenhuma dor e a acho linda, fico admirando a beleza dela, olhando o tempo todo, ela é a líder de qualquer coisa que esteja acontecendo por ali, uma moça negra linda dança com uma roupa colorida, ela tem cabelos dourados e estamos muito perto de um lago, tudo é colorido e o sol incide de uma forma maravilhosa em todos os lugares e nas pessoas que riem e bebericam líquidos coloridos e comem frutas, há muita felicidade e não há dor. Parece uma festa e ao mesmo tempo um movimento, uma intervenção, uma reunião de movimento estudantil. Esta entardecendo e recebo a noticia de que minha irmã havia nascido, peço a van emprestada para ir até lá ver o bebê. Saio e de repente minha tia avó está no sonho, para chegar a van passo pelo lago, numa parte mais funda minha tia cai e começa a se afogar, deixo o rosto dela para fora da água turva e a levo para a margem, ela parece pequena e frágil, está desnorteada e confusa. A tiro da água e alguém a embrulha em um fralda, ela é pequena e frágil, um moça aparece e leva a tia para casa dos meus pais, estamos na curva do Fernando Pantaleão, perto da casa dos meus pais. Alguém está com a bebê no colo, parece minha mãe, porém mais nova, em algum momento do passado, a bebê não se parece comigo, é branca e não tem cabelo, os olhos são bem castanhos e expressivos. Eu fico feliz com a bebê, subo até a casa e encontro a Javiera lá, sorrindo. Tenho que escolher o nome da minha irmã e vejo que a moça é bem parecida com a bebê. Chamo-a e beijo a testa dela, dizendo que a menina vai se chamar Clara em homenagem a ela. Era Clara Javiera a moça, ela fica muito feliz e saímos rindo do local.


Acordo e vou ver a última vez que Nanda esteve online no whatsapp, a chamei e ela estava em aula e não pensava em suicídio.



domingo, 2 de abril de 2017

Redatora

Esse post tem um único intuito, o de deixar registrado que há seis meses Anelise, essa pessoa que vos fala sustenta uma paixonite platônica ( aqui leia-se hiper platônica, impossibilíssima) por uma moça de cabelos vermelhos residente em São Paulo, que indica livros incríveis e tem um ar tão mórbido e estranho que me faz querer gritar. Mulher, eu acho que nunca sustentei uma paixão tão avassaladora e impossível por alguém que eu mal conheço. Obrigada por existir nessa sua estranheza e encher minha imaginação de causos impossíveis. Fim.

dos planos

Pausa para um fim de semana onde nada ocorre, a não ser aqueles pensamentos, aqueles que enchem a nossa cabeça de dúvidas e desesperos. Essa casa parece pequena, suja, mal decorada, parece tudo que eu não gostaria de ter nesses dias, eu pareço pequena, suja, mal vestida, pareço tudo que não gostaria de ser nesses dias. São quarenta e oito horas de nada, nada para todos os lados, apenas um grande e insano nada, que ser for insano de fato, nada deixa de ser. Pausa para lembrar que você esteve aqui e que eu recebi aquele convite irrecusável para estar junto de ti, eu paro porque preciso pensar e estou sempre tentando colocar tudo no lugar. Tolinha, no fundo eu sei que esse caos aqui sou apenas eu mesma e que ordenar isso no momento de agora é quase impossível. Melhor deixar tudo para lá, para depois, para o futuro que sabe-se lá quando chega. Mas eu sempre esqueço que amanhã já futuro e também já é o agora e tudo que eu arrastei até ali vai dar um jeito discrepante de bater na minha cara, gritando OIIIIIIII, EU TÔ AQUI!.
...

Uma reflexão imensa sobre todos os anos de curso, o arraste significativo até a minha formação profissional, pessoal, sindical, professoral, gradual, oi? É, é sobre isso mesmo a graduação e seu famigerado fim, onde no caso eu deixo de me definir como estudante e passo  a ser uma profissional sem emprego. Onde finalmente eu completo 24 anos sem ter nada do que eu nos meus tempos áureos de infância havia planejado para essa idade. No plano da vida, aquele que todos fazem, mesmo que inconsciente, mesmo que negando até o fim, Aos 25 eu era uma profissional bem sucedida, que usaria talvez umas belas roupas sóbrias e camisetas sociais com belos sapatos de salto fino. Aos 25 eu era além de bem sucedida profissional, uma mãe de primeira viagem, cujo filho ia ser belo, rechonchudo, de bochechas rubras e cabelos pretos lisos, todo trabalhado no método montessoriano, comendo papinha orgânica e ouvindo música clássica para dormir. Aos 25 eu teria um belo apartamento/casa, com hortas suspensas nas varandas e comida cara nos armários. Eu teria aulas de yoga e tatame oriental num quarto sóbrio. Aos 25 eu teria uma companheira igualmente bem sucedida e toda trabalhada no padrão de beleza ocidental, ela possivelmente seria um pouco rica e teria um escritório de qualquer coisa no centro da cidade, que podeira ser Porto Alegre, São Paulo ou Paris. Aos 25 eu viajaria para fora do país anualmente, teria conhecido metade da América e claro, teria realizado com maestria aquele mochilão planejado. Bem, ainda são dois anos para os 25, dois curtos e fugazes anos, porque desses últimos tempos para cá venho notando que o tempo salta não passa, você pode parar um pouco e quando vai ver já é julho e de repente já é natal e de repente você tem 50, logo você já nem é mais matéria na Terra, dois anos são nada nesse nosso cenário politico/social.  Dois anos não passam de uma mísera poeira de tempo desse universo

segunda-feira, 27 de março de 2017

Mansplaining

Eu achava meio bosta a definição de mansplaining, achava que talvez fosse coisa de radfem, essa personificação que eu não queria para mim, mas eu estava achando errado, pois isso existe e eu percebo agora.

Numa aula de química, Nat por acabar de colocar lindas unhas com fibra de vidro, não conseguia abrir o ziploc, era cedo, perto das 10, um coleguinha da engenharia beirando lá seus 18 anos, com cara de recém parido da High School, na maior boa vontade do mundo se dispõem a ajudar, pergunta se Nat quer ajuda, ela diz que não precisa e segue tentando abrir. Após alguns segundos sem sucesso o mocinho prestativo decide ensinar minha amiga como se faz para abrir um ziploc, super didaticamente e agindo como se estivesse se dirigindo à uma criança de cinco anos, ele disserta um tutorial detalhado de como se abre um ziploc. Desnecessário, visto que ali todos estamos na universidade, Nat no caso, assim como eu termina a graduação esse ano, bem ao contrário do nosso colega explicativo e calouro. Cansada de assistir a situação ridícula, peguei o saco da mão da Nat e abri o ziploc em alguns segundos, agradecendo o amigo, mas dizendo que nós sabíamos sim abrir um ziploc. E também sabemos comparar estruturas homologas em animais, construir cladogramas do zero, além de fazer extração de DNA de plantas. Aliás o que é um ziploc perto de uma forquilha de replicação não é mesmo?

Numa aula prática de anatomia, descubro que o colega novo vindo da Unesp esta em meu grupo de estudo, acho bom, pois um cara vindo da Unesp certamente sabe bastante coisa. Após alguns minutos de aula ou nem isso, uma mariposa passa sobrevoando nossa mesa, Erika brincando diz que tem uma borboleta na sala, eu rio e fazendo uma brincadeira digo que é muito feio alguém no último ano de biologia não saber diferenciar uma mariposa de uma borboleta, partindo daquela ideia de senso comum que diz que biólogos devem saber absolutamente tudo sobre bichos e plantas. Rimos todos até que o amigo sabichão me interrompe visando explicar sobre como é difícil diferenciar mariposas de borboletas, pois não é assim tão fácil, pois não se pode saber sem observar de perto o exemplar. Sim o amigo tinha razão, mas acho que ele havia se esquecido que apesar de características isoladas de cada exemplar não serem decisivas para uma boa identificação, um conjunto de características pode sim auxiliar numa rápida identificação através da observação. No caso o serzinho voador era de coloração amarronzada ( presente tanto em mariposas como em borboletas, porém mais comum em mariposas) abdome inchado ( muito comum em mariposas) e fundamentalmente hábito noturno ( raro em borboletas e muito comum em mariposas) um pequeno conjunto de características que juntas podem me dar uma ideia de que o bichinho, voando, as 21 horas era na verdade uma mariposinha. Expliquei calmamente para o amigo sobre essa situação e ele concordou ainda meio contrariado. 

Um colega outro dia quis me explicar durante uma aula de diversidade o que era orientação sexual, partindo daquele pressuposto básico de que eu, talvez por ser mulher, não sabia. Ao dizer para ele que eu agradecia a explicação, mas eu já sabia o que era orientação sexual, ele querendo afirmar meu conhecimento me solta " então me explica para eu ver se você entendeu mesmo". Eu ri e agradeci novamente dizendo que aquilo era desnecessário pois eu realmente sabia o que era orientação sexual. Quis pagar de sabichão da diversidade comigo? Logo eu bissexual militante da causa LGBTTT?

domingo, 26 de março de 2017

Bolha

É possível te sentir vindo, mas ao mesmo tempo tento ao máximo evitar sua aproximação, não agora, não é este o momento para que todo esse sentimento retorne, as semanas passam e eu mal vejo tudo acontecer, basta vir um ócio, um único ócio de fim de semana e essa cabeça enche, os olhos ardem, as lágrimas chegam. Mas isso não pode chegar agora, esse momento é essencial, eu tenho me esforçado tanto, eu tenho realmente me esforçado, eu tenho sido uma sobre-eu, tenho agido como nunca acreditei que pudesse agir, tenho sentindo a maturidade chegando, tenho pesado as consequências e tenho notado os temores da vida adulta, das responsabilidades. É difícil aceitar que há sonhos impossíveis e ideais utópicos, é difícil aceitar que eu estarei disposta a abrir mão de muito mais coisas por propósitos que até ontem jamais fariam sentido, é difícil aceitar que sempre irá existir novas crises e novas tempestades, o mundo não é sereno, o ritmo é insano e não, nada irá parar junto comigo, nem hoje, nem amanhã e eu me arrasto, porém sempre devo continuar, e não minha criatividade, emotividade, sensibilidade, empatia nem sempre ajudam, ás vezes aparentam até mesmo atrapalhar. Atualmente tudo é frio e eu estou aqui na mais afastada câmara de gelo, eu ouço de minha orientadora sobre meu maravilhoso potencial para um mestrado, ouço que não devo fugir do currículo, ouço que devo seguir na botânica, ouço que talvez seja melhor fazer concurso, tentar IBAMA, tentar a vida longe, perto, aqui, ali, fazer uma pós, bacharelado, desistir da licenciatura, educação, oi? E a vida me chama para a fisiologia, toxicologia, etnobiologia, aparentemente eu tenho aptidão para tudo, aparentemente eu sou uma das melhores, aparentemente eu sou ótima, mas eu sei que sou apenas a pessoa mediana que procrastina uma leitura de artigos para ver vídeo bosta no youtube e ler Dostoiévski. Eu sou aquela que vai acumulando os sentimentos pois não consegue resolver questões existenciais e se dedicar a um projeto simultaneamente, no fundo eu sei que sou ótima mesmo em pintar imagens que não são reais de mim mesma, no fundo eu estou assutada e orgulhosa ao mesmo tempo, eu estou insegura e determinada, eu estou muito bem e muito confusa. E é possível te sentir vindo, sentir aquela fugaz sensação de que tudo faz sentido e em questão de segundos tal noção se esvair com um soprar de vento. Esta tudo se encaminhando e eu apenas sei que um turbilhão de coisas não podem me atingir agora, estou na bolha que eu criei para não me desviar do foco, a frágil e translúcida bolha.   

Eu vou conseguir!

domingo, 5 de março de 2017

Ir

Você vai!
Não importa como, não importa a forma com que vai chegar,
mas você vai!

Eu sempre coloco na minha cabeça "isso vai acontecer" não importa esse percurso louco, não importa essa vontade de desistir no meio do caminho, morrer na praia, não importa, isso vai acontecer.

Você vai!

Eu sempre penso que não vai dar, que uma força descomunal não vai me deixar sair da cama, nem hoje e nem amanhã. Mas eu vou! Eu coloquei na cabeça que isso vai acontecer e sim, isso vai acontecer!

Eu vou, eu digo, mesmo que eu queira ficar em casa, deitada, dormindo, assistindo intermitentemente temporadas intermináveis de séries, mesmo que doa cada pedacinho do meu corpo, eu só tenho que ir.

Deixo pra trás esse dor, esse medo e estou lá e quando estou, parece que eu apenas não deveria estar em nenhum outro lugar, apenas ali, trabalhando naquilo.

Pode parecer que estou me deixando para trás, mas há momentos que é necessário apenas ir e se forçar a ir e estar no agora, depois cuido disso, amanhã, amanhã eu levanto e cuido disso tudo que esta ficando para trás, desse relacionamento conturbado, da minha cabeça confusa e do meu medo do futuro, do tempo, do amor.

amanhã.

Os Gêneros

Nós, mulheres, resistimos sim! Agora te pergunto, você trabalha com educação ? Já teve algum(a) aluno(a) que não se reconhecia no próprio gênero? Já conviveu/conversou com pessoas trans? Sabe qual é o real sentimento dessas pessoas em relação ao órgão sexual com o qual nasceram? Se por algum motivo você não teve a oportunidade de alguma dessas vivências, vou te contar duas coisas, a primeira, mulheres ditas trans negam o próprio falo, sim, elas negam! Geralmente durante a excitação sexual elas se constrangem, sério mesmo, elas odeiam aquele pedaço do corpo, muitas querem realmente se ver livre daquilo e a maioria delas, quando se relacionam com alguém, seja essa pessoa mulher ou homem geralmente não costumam coagir ninguém a lidar com o falo, pelo simples fato de não se sentirem bem com o órgão sexual.

Muitas dessas pessoas se privam de relacionamentos íntimos justamente por não se sentirem a vontade com o corpo biológico. Segunda coisa, eu tive sorte de entrar na federal no ano de 2012, se eu não tivesse entrado aos 18 anos no meio acadêmico certamente não teria tido contato com o movimento feminista. Agora, interessante lembrar que o meio acadêmico é elitista, eu cheguei a federal de Pelotas aos 18 porque tive a oportunidade de estudar em uma escola paga durante parte da minha vida, hoje estou me formando, novamente, porque tive e tenho a oportunidade de ter uma mãe que pode me bancar enquanto eu me dedico totalmente ao meu curso e minha profissão. Bom, minha mãe não teve essa oportunidade, assim como a minha prima não teve também, minha mãe conheceu o feminismo por mim e minha prima por algumas amigas que também tiveram a oportunidade que ela não teve, essa de estar na universidade.

No dia em que o programa foi ar, minha mãe me ligou falando que nosso movimento estava sendo citado na TV aberta, super empolgada. Minha mãe tem 54 anos e só hoje compreende as repressões que viveu. Já minha prima tem 23, me mandou mensagem no whatsapp dizendo que tinha uma galera falando de liberdade sexual da mulher na TV. Eu não assisto TV, mas fui buscar ver o programa citado e bom, achei diversas abordagens péssimas, assim como acho péssimo muita coisa dentro do movimento ao qual participo, mas ainda sim achei válido, porque sim, eu como mulher quero um movimento que abranja todas e não que segregue ainda mais, o movimento não é democrático e não chega à todas, quanto mais vinculado for, melhor! Claro há melhores abordagens, mas ver sua aluna de 16 falando sobre liberdade sexual da mulher, sobre respeito e sobre assédio é maravilhoso, ouvir sua mãe dizer super empolgada "nosso movimento esta na TV aberta" é emocionante. Sei que nem te conheço direito, mas sabe experimentei essa discussão com minhas alunas de segundo ano de uma escola estadual e foi ótimo, tínhamos uma trans na discussão, foi lindo e enriquecedor, eu recomendo!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Cadeira

Eu chego em casa e penso em comer e dormir. Agora olho fixamente para uma cadeira  desbotada, as cores formam um degradê que passa do preto ao amarelo e seguem faixas de vermelho alaranjadas, não tem como distinguir se fora amarela, preta ou vermelha no passado, no momento não existe uma única cor que possa representa-la.

Mas eu sei, chego em casa cansada e tento ao máximo me focar nisso que faço, na vida que levo, quero que nada no momento tire essa minha atenção do momento de agora, essa que venho sendo é algo novo para mim, estou fazendo as coisas e indo e tendo coragem, passo grande para quem antes não podia ao menos se mover.

Quero economizar e tenho conseguido não gastar tanto com bobagens, quero estar aqui e é isso que tenho feito.

É um artigo por dia e meio caminho andado até 03 março, enquanto isso existir estarei aqui, trabalhando e correndo atrás dessa vida, me senti melhor, mais disposta a cada longo dia, ainda há os dias meio ruins, dias em que quero apenas ficar dormindo e nem ver o sol. Nesses dias eu me arrasto, mas vou, o problema é sempre dar o primeiro passo e agora tudo que me enche de medo, me enche de esperança também;

Agora, faltará todo tempo e ainda sim tenho tanto a minha frente.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

lie's anatomy

Há três partes de mim envolvidas quando se trata das mentiras, medo, arrependimento, palavras.

Bom, a primeira me causa uma insegurança, o medo de ser descoberta, esse persiste durante muito tempo e é só eu me ocupar com algo do presente ou focar em uma invenção do futuro que por instantes esse medo se esvai, basta eu confrontar a mentira outra vez e o medo volta com tudo, ossudo e truculento "oh,oh,oh, vou te tirar a paz" ele diz calmamente, "oh,oh,oh, sou seu fruto" ele clama, "você é a única responsável por mim".

O segundo medo é o arrependimento, não por medo de ser descoberta e sim por me sentir mal por mentir, principalmente quando é alguém que amo, como família e amigos, hoje foi com ela e a de hoje foi a que trouxe maior remorso em relação a isso, o segundo medo é o da confiança perdida pelas pessoas que amo. Pois me sinto o pior tipo de gente quando minto para alguém amado, pois não consigo justificar e já não posso desmentir, o que esta feito, esta feito. Hoje vi nos olhos dela que ela seguia  botando fé no que eu dizia, no fundo meu peito gritou e eu quis dizer "É UMA CILADA BINO", mas essa parte de mim se resignou e atendeu ao dominante e mentiroso outro eu. Em segundos o medo pesado e truculento já arrombava as portas.

Jess, uma tarde, apôs me foder lindamente, ficou por alguns minutos me olhando nos olhos, naquela época eu já sentia algo por ela e tentava entender porque, sendo que já sabíamos que seria só sexo, eu vi que ela se parecia com a primeira, no jeito de falar, de agir, até a forma como conduzia o carro, fecho os olhos e é como se eu a ouvisse falar novamente. Ela me disse aquele dia " você é uma menina perigosa", perguntei porque e ela me respondeu "você mente". Eu quase nunca paro para ponderar o aporte moral da mentira, faço por auto preservação, creio eu. Acho que eu surtaria se começasse a pensar seguidas vezes nesse arrependimento de mentir e seguir mentindo e tentar muito, muito, muito e não conseguir controlar isso. Euforia me leva a mentir, insegurança também, disforia se apertar um pouco pode desencadear uma mentira, o ápice da mania, quando já nenhuma automutilação resolve, quando as pernas e braços já estão completamente lesionadas, ela escapa como um último suspiro para atingir ao deleite, uuufff, ela sai;

Não pense que eu sinto prazer em tudo isso, não, eu apenas não consigo controlar as vezes, ou me faço crer nisso, de ambas as formas preciso encontrar uma forma de fazer com que as crises de mania não se tornem mentiras e que as depressivas não me tornem psicóticas, dois comprimidos de valeriana officinalis, seguido de chás de qualquer outra coisa e a eterna escrita, as palavras me soterram as vezes, elas  e apenas precisam sair e precisam sair logo, com presa, com fúria, como uma iminente explosão e quando saem é mais um alivio momentâneo que um deleite descomunal.

Palavras, mentiras, você, eu, eu, eu,  sigo tentando manter o curso e ponderar a vida, hoje foi esse pequeno golpe, mais pensamentos, mais medos, mais incertezas, amanhã, logo cedo não haverá tempo para isso.

me desculpe por toda essa bagunça interna. eu não posso te ajudar.

Sociedade Botânica

A fumaça subia do café recém passado, o calor nos olhos era como algum alivio de mais uma noite em claro, a dor quase inexistia quando aquela calorosidade tocava o rosto. A vista para os lados embaçava e eu tinha absoluta certeza que o dia tinha que render, por mais que a cabeça doesse, que os olhos embaçassem ou que os dentes rangessem, era preciso prosseguir. Esse dia tem que acontecer!

Após provar três goles de café notei um gosto distinto, uma consistência fora do normal, havia aquecido a água numa cheleira com justicia pectoralis, a qual havia feito um chá há alguns dias atrás, no momento de sono e necessidade de uma caneca de café, nem notei que ainda estavam as folhas da planta dentro da chaleira, até aí tudo bem, plantas do gênero são muito utilizadas na medicina natural da América Latina, como analgésicos funcionais e por esse motivo havia feito o chá há dias atrás, a possibilidade de voltas as aulas e principalmente o início do TCC haviam me trazido sonhos bizarros e dores de cabeça, acontece que justicia gendarussa e principalmente j.pectoralis possuem propriedades alucinógenas ainda pouco estudadas aqui no Brasil.

No dia do chá, acho justo dizer, a dor de cabeça não passou, me deu uma zonzeira e pensei " que bom que ainda tenho convênio e que bom que estou a poucos passos do hospital", após uma pequena tontura, senti sono e dormi. Nenhuma alucinação, nenhuma intoxicação, nada de nada, apenas o sono comum dos justos. Acordei ainda com dor, entendendo que aquilo poderia ser algo da vista ou uma sinusite mal curada.

Hoje pela primeira vez notei que a cana do brejo esta sendo ninho de alguma residente perigosa, ao tirar com dor no coração as ervas daninhas notei que havia algo mais que folhas secas entre a densa vegetação, era pele de cobra, comprida e bem demarcada entre abdome e dorso. Parei por um instante para olhar a pele no sol, bom, fazia um mês que eu não limpava aquele canteiro, a vegetação esta densa, os galhos estão tomando conta de tudo. Ao mexer um pouco mais, agora com o rastelo, ouvi aquele som de guizo e já me afastei, emiti o comunicado ao serpentário e logo mais eles irão remanejar a minha inquilina.

Entrei numa loja do centro pesquisando preços de smartphone, havia trabalhado a manhã inteira no canteiro de ervas medicinais, vestia uma jardineira, all star azul desbotado e camisa preta, estava com o cabelo preso num coque e o rosto possivelmente cansado, tendo que não havia dormido até então. Há tempos não experimento esse sentimento de ser muito mal atendida, eu estava com uma aparência ruim, olheiras e cabelo desgrenhado, mas ainda sim merecia respeito por parte dos vendedores que possivelmente não são pessoas com melhores condições de vida que eu. Parece que a galera esquece que somos todos assalariados e se esta trabalhando como vendedor em loja de rua certamente é porque não nasceu rico. Na high society paulistana, é comum notar muita galera tratando mal quem tem menos, vi de perto e me senti muito nada naquele local, observar por um tempo essa gente me fez sentir um pouco de nojo de tudo isso, até então eu não havia me tocado que realmente existia gente que com muita grana, nunca tive os pezinhos muito no chão, é verdade, mas tem uns tapas que a gente toma que ficam marcados para sempre. A elite e sua falta de lei foi um deles.

As vezes eu me olho e me acho horrível, as vezes me acho linda e acho meu corpo maravilhoso, hoje ainda bem, esse segundo sentimento é mais abrangente. Outro gole de café e agora...

sábado, 4 de fevereiro de 2017

I wish my name was Clementine

Um dia, no meu primeiro ano em Pelotas percebi um fenômeno estranho, mas que era algo muito real e corriqueiro, eu já tinha passado por muitos céus naquela cidade, muitas histórias, medos, fantasias, mas a primeira vez que notei era uma terça, era início de inverno, um vento cortante já rondava as ruas e um frio sorrateiro já adentrava os casacos de lã. Era o início do inverno e eu havia amado todo o verão,  chorado toda a primavera e ainda tinha os olhos inchados naquele outono. Todo aquele tempo havia sido uma grande eternidade, os dias foram longos e as noites regadas a solidão, soluços e músicas. Bom naquela semana fazia frio, o sol não esquentava a cimento da calçada e era preciso duas meias para poder estar lá fora, eu dormi muito, quando despertei era terça e o dia passou num piscar de olhos. Pela primeira vez na vida eu sentia a brevidade de um dia de inverno, a noite chegou tão rapidamente que jurei estar ocorrendo um eclipse, olhava para o céu e tinha certeza que alguém havia apenas apagado a luz.

Em minha primeira noite em Pelotas escureceu era quase dez da noite, revelando um por do sol majestoso que eu observava da janela de um apartamento no Porto, eu não tinha ideia de tudo que eu iria me causar naquela cidade, não tinha ideia da imensidão de amores que iria conhecer, dos laços que eu iria estreitar, dos apuros e das inseguranças que eu viveria, eu apenas olhava aquele céu vermelho tão incrível como eu jamais havia visto e pensava que tudo que eu mais almejava era estar exatamente ali naquele lugar, por uma das primeiras vezes eu estive tão puramente no presente que meu coração palpitava infinitamente. Pude ver mais céus vermelhos e mais entardeceres majestosos nas ruas da melancólica e surreal Pelotas e pude sentir muita falta de seus ventos e nuvens carregadas, de seus amanheceres tardios e suas sensações primeiras.

Era quase oito da noite e os pássaros atordoados ainda cantavam e buscavam abrigo, no carro em movimento eu olhava um fundo alaranjado e o céu coberto de nuvens, um banhado movimentado e ela batucando com os dedos no volante enquanto tocava Sarah Jaffe no Mp3 que eu acabara de conectar ao reprodutor. Era um longo dia de verão, talvez quase véspera de meu aniversário e São José repetia minha primeira noite em Pelotas enquanto mudávamos mais um plano e se criava mais uma sensitiva memória, no fundo eu apenas queria que aquele momento não terminasse, que a avenida cheia de carros fosse uma highway infinita em que eu te ouvisse batucar no volante e que essa certeza de que tudo esta bem durasse a eternidade.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

O Grande Final

Estamos aqui, eu, você, eu, eu, eu, eu. Perante mim, o medo, porque o amanhã não existe, a única coisa que pode ser feita é agora, aqui, esse preciso momento. E estamos aqui e chove muito lá fora e inunda tanta coisa aqui dentro. Medos, confusões, incertezas flutuam num mar salubre e ácido de mim, ás vezes dissolvem, mas voltam como um iceberg profundo e gigante bem no meio do meu ser. Agora está aqui na minha frente, o caminho árduo por entre as brancas geleiras do ártico e eu, eu estou descalça, sei que vai ser fadigante e doloroso, mas o bom é que o gelo adormece tudo. Dei o primeiro passo, aquele mais difícil, aquele que faz congelar até a alma mais cândida e terna, mas eu pisei forte e fui certeira. Ainda sinto medo, eu realmente não sei que caminho seguir, olho para os lados e tudo é novo, alvo e reluzente. Beleza e insanidade caminham lado a lado, incertezas e medos estão logo ali na frente, mas nós continuamos e continuaremos. Que mais fazemos da vida se não continuar? Seguir um caminho? Adentrar o futuro inexistente, que passa a ser agora a partir do momento que é tocado. Nós estamos aqui, eu, você. é o final do ciclo e foi dada a largada.

Contrato de Talvez Três

Maio 2016- Macieira de Anedotas


Eu precisava dizer que tudo isso que nos aconteceu fez bastante diferença na minha vida, percebo que existem alguns pontos em mim que não mudaram desde as nossas últimas conversas, desde as últimas discussões, isso é sobre todas as vezes que você disse que eu era um fracasso e  as vezes em que eu acreditei, mesmo sem perceber. Saber que parte do que sinto hoje foi conquistado nos meus primeiros anos de liberdade, os primeiros anos longe de casa, os primeiros segundos de solidão. A gente aceita o amor que acredita merecer, a gente devolve o amor da forma que o recebe, eu sinto em lhe dizer, mas minhas explosões de ciúmes e meus impulsos de morte sempre tiveram um nome e eu nunca pude entender, me desculpe por um dia ter batido sua cabeça na janela ou ter jogado as flores que me dera no chão, por atirar suco de cajá em seu rosto, te perseguir pela casa, te trancar, me desculpa por ter arranhado seu rosto, jogado suas coisas para fora do quarto, gritado, puxado seus cabelos ou ter te empurrado na mesa da sala de estar, eu não sabia,  eu chorava por não compreender o que ocorria dentro da minha cabeça e com isso não podia ao menos me mover e tudo passava a nossa volta, os carros, as pessoas, os sentidos, a vida, por mim nunca seriamos agentes do nosso próprio destino. Hoje uma amiga minha se casou, fiquei olhando as borboletas enquanto meus colegas conversavam sobre drogas e quedas de bicicleta, pela primeira vez consegui dizer em público e olhando nos olhos das pessoas o nome do mal que tem assombrado meus dias. Lutei muito contra tudo isso e muitas vezes a certeza de ser um fracasso era tão grande que novamente não podia me mover. Acho que mover qualquer parte de mim sempre foi algo difícil nos momentos de grandes crises, lembro que quando criança fiquei cinco dias sem me mover pois havia tomado uma vacina dolorida, não lembro ao certo o que me fez voltar a andar, mas lembro que meu maior medo era de mexer as pernas.Hoje meu maior medo é novamente me mover, me mover pra frente, seguir e continuar sem medo da possível precipitação, afinal já cai tantas e tantas vezes. No fundo acho que eu sempre precisei te dizer tanta coisa e ao mesmo tempo  nada. Aprendi tudo de errado sobre o amor quando estive com você e me viciei em coisas tristes, não foi culpa sua, mas a submissão me dá um enorme prazer e a dor me causa calafrios, risos, espasmos, às vezes é como se toda minha libido dependesse disso. todas aquelas vezes em que gritávamos freneticamente uma com a outra e no final eu só desejava me entregar a você e quanto mais gritaria, maior o prazer. hoje eu consigo por fim entender, aqueles meses me causaram danos que até agora não pude mensurar, não sou o tipo de pessoa forte que lida bem com tudo, mas hoje tenho lidado muito melhor com quem tenho sido e quem venho buscando ser, como disse às vezes é como se eu estivesse remando loucamente contra um mar em fúria, mas sou apenas eu. Sabe eu precisava te falar que fiquei com medo de amar de novo depois de você, além de acreditar ser um fracasso, não me entender, não saber lidar com quem eu sou, tive minha autoestima destruída, apenas eu sei o quanto foi trabalhoso recupera-la, sem autoestima você apenas não consegue chegar nas pessoas, não consegue se abrir para as pessoas, não se acha válido o suficiente e não pode ao menos arriscar qualquer entrega que seja.por isso queria também me desculpar por todas as mentiras que contei, mesmo não te devendo nem um pouco essa explicação. Disse para Lola que por mais que tentasse muito, havia dias que eu não conseguia não pensar por algum segundo em você, disse que eu gostaria de sentar um dia e dizer tanta coisa e discorrer o quanto foi difícil e trabalhoso o caminho de volta a mim mesma, sentar e dizer em meio a longos goles de chá essas coisas que não teriam nenhuma importância para você, disse que gostaria de um dia sentar te perguntar como estão as coisas e ouvir de você que tudo vai tão bem que não se pode medir, gostaria de te convidar para um café, te apresentar minha Lolita,  minha doce Líli e minha nova companheira Isabela e dizer que tudo isso que vivo hoje tem um pequeno traço seu. Lola apenas me disse que eu devia lhe escrever, que escrevendo os sintomas de precisar falar vão sumindo de pouquinho em pouquinho e assim o tenho feito, todos os dias, quando algo de ruim me assola, quando coisas incríveis acontecem, quando o mundo parece que vai desabar, eu escrevo,  eu escrevo para um você inventado, um você que nunca nem chegará perto de ser real, mas assim as coisas fluem com mais delicadeza e às vezes parecem até mesmo flutuar.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Voltar

Eu havia acabado de dissolver o açúcar orgânico no resto de café requentado quando você chegou aqui, passei a noite meio em claro, acordando diversas vezes e torcendo para que essa manhã não fosse tão chuvosa. Não dormi, você chegou e o dia continuou cinza. Depois de três xícaras de café sai correndo para resolver problemas de adulto, que no fundo gostaria que se resolvessem sozinhos, voltei na hora do almoço e ainda não tinha dado tempo de sentar e te falar as coisas que haviam se passado nesse mais de um mês longe, o açúcar empedrou no fundo da caneca e vi apenas quando já tinha a pia lotada de formigas pequeninas.
Almocei e bocejava enquanto você me ajudava a por a mesa e ia dizendo sobre como era lindo tudo que tinha visto, que desejaria que eu estivesse lá e eu não estava, lenços, ruínas e o som desse aparelho de celular mono que parece estar tocando mesmo quando esta tudo em silêncio.
Acho que a sensação que tenho é de que estava fazendo algo muito errado, errado a ponto de não conseguir te olhar nos olhos e falar. Eu ainda bocejava enquanto você dissertava sobre as cores saturadas e takes sem cortes de Lalaland, para quem ama cinema conversar contigo é um grande deleite, para mim, que gosto de conhecer coisas novas, o assunto passa a ser chato após um tempo e passa a ser insuportável após a análise crítica de ao menos três filmes da atualidade, mas nos clássicos e nos indie a gente sempre se entende. Enfim, eu estava tentando te contar sobre tudo o que ocorreu nesses últimos dias, não consegui te interromper, meu pensamento voava e eu queria entender o que de fato eu queria. Deixei a louça na pia e cancelei compromissos, queria dormir, fazer o que eu precisava fazer, sono, sono, sono, a privação de sono pode causar grandes danos cerebrais. Aí você deitou aqui do meu lado e ao contrário de nos atracarmos fiquei esfregando meu pé embaixo das suas pernas, enquanto você esquentava as mãos nas minhas costas. Ficamos em silêncio, as janelas fechadas, Novos Baianos tocava no notebook ao lado da cama e aquele sensação de completude ia chegando perto de mim. Por que não consigo ver as coisas estampadas na cara? Qual meu medo nisso tudo?Ppor que tanto medo do envolvimento? Por que sempre acabo estragando tudo?

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Para uma eu aos 23

Você esta se saindo muito bem, acredito que isso tudo irá durar por muito tempo, mas tenho uma coisa importante para te dizer sobre o mundo. Você nunca irá saber! Essa é a premissa de toda uma vida e aceite isso para que as coisas fluam mais leves.

Você nunca vai saber o dia de amanhã, apenas não saberá, pode achar que esta começando a compreender as coisas, agora com seus vinte e poucos anos, bom você se considera uma adulta em quase grande parte do tempo, mesmo ainda dependendo minimante de seus pais, mesmo ainda querendo o aval de algo de alguém, mas tudo que você compreende hoje pode tomar outro rumo no momento seguinte e quando você tinha absoluta certeza que ia, não foi. E isso, vai acontecer uma, duas, três vezes.

No entanto, você esta se saindo muito bem, com medo é claro, mas a cada dia as coisas ficam mais claras e mesmo com esse medo todo, uma hora você chega lá. Apenas não queira engolir o mundo antes dos 30 e acredite, é normal estar confusa em grande parte das vezes, no fundo todos estão.

Não queira resolver sua vida esse ano e não se cobre se o concurso não sair ou se ficar alguma disciplina pendente, lembre-se isso tem que ser proveitoso e prazeroso, você tem um grande privilégio de poder estudar o que quer e sabe, muitos dariam tudo para estar no seu lugar. Tem dias que são difíceis, tem dias que parece que nada vai para frente, nada. Mas calma, esses dias passam também, podem demorar a eternidade, mas uma hora chegam ao fim e você estará livre deles.

Não pense que as coisas vão ficar mais fáceis depois, vá com a convicção de que elas nunca estarão mais fáceis, mas sempre passam e sempre trazem algo a que se aprender, tudo isso, absolutamente tudo é necessário para te fazer melhor, muito melhor.

Você tem um objetivo e ele não é enriquecer e sim fazer algo bom pela sociedade, tenha esperança, acredite em seus alunos e deposite muita fé neles, sua missão é ensinar algo, no fundo você sabe que ainda há motivos para seguir na Terra.

Pode ter medo sim e pode ser covarde as vezes, não nascemos prontos e nem sempre nos sentimos bem para estar em alguma situação. Mas lembre-se sempre que não se deve deixar o medo vencer, mas as vezes pode acontecer e esta tudo bem.

Faça o melhor para si, não tente agradar ninguém, apenas não tente, faça o que for te fazer feliz e mais humana.

Entenda que apesar de ter passado tanto tempo, você ainda esta bem no inicio e tem uma vida toda de escolhas por aí, não se preocupe com isso, quando estiver pronta vai dar, apenas assim simples e fácil.

A vida adulta é complexa, complicada e amedrontadora, mas você desfruta de coisas que antes eram impensáveis, como autoconhecimento e uma estranha e confusa clareza, mais segurança em si mesma e mais autonomia.

Conheça ao menos quatro lugares novos, ano passado foram três, mais um ano, mais um lugar.

Apresente seu TCC com maestria e não sinta medo disso, você acreditava que iria demorar muito para esse momento chegar e agora chegou, em breve você deixa de ser uma graduanda para se titular professora de biologia e isso é ao mesmo tempo maravilhoso e aterrador.

Mantenha seus relacionamentos de forma saudável e tente manter contato sempre que se sentir bem para isso.

Cuide de si e cuide de quem você ama, pode insistir as vezes, algumas pessoas funcionam melhor na base da pressão e nem sempre elas percebem o que pode ajudar no momento, naquela situação.

Seja mais tolerante, nem todos tiveram as mesmas vivências que você, é fácil respeitar o momento de desconstrução do outro, quando você sabe que as vivências e realidades são distintas e você sabe disso.

O futuro é incerto e perspicaz, amedrontador e as vezes lindo, apenas tenha certeza de todos esses conselhos, vá com segurança de que nunca, nunca você vai saber. Apenas não vai saber e esse mistério todo é o que torna a vida maravilhosa!

Trechos de rascunhos 2015/2016

Intervalo. Finalmente consegui dormir em um horário razoável, reza braba, mandinga, gasto significativo de energia, não sei. Sei que as onze horas eu estava sentindo muito sono e decidi desenhar ouvindo umas músicas clássicas, pouco tempo depois eu já estava apenas ouvindo música clássica e depois de alguns cochilos tirei a música. Sempre que me deito cedo, quando o sono não vem de vez e fica fazendo um vem não vem em minha cabeça,eu sinto medo. Não é um medo consciente e nem mesmo sei explicar. Sei que esse limiar de sono é tomado por imagens horríveis, acontecimentos bizarros, vozes tenebrosas e eu acordo diversas vezes com palpitação e assustada até finalmente pegar no sono. Eu geralmente tento deixar minha cachorra bem próxima, pois ela me traz uma sensação de segurança nessa entrada de sono.  
...

Desrespeitoso é ser homofóbico,foi uma forma de manifesto contra uma instituição machista e homofóbica, isso deve ser respeitado, afinal vivemos numa democracia onde a manifestação e protesto são assegurados pela constituição. No mais, esse cara deve ser o orgulho da família, afinal se formou engenheiro na melhor faculdade de engenharia do Brasil. LGBTs estão em todos os lugares, fazem parte da sociedade, se formam em faculdades e estão no meio acadêmico em peso, não frequentam apenas a Parada Gay.

...

As vezes a gente só quer que as coisas voltem ao estado anterior. Isso é medo, isso é falta de coragem de lidar com muitas coisas, mas as vezes essa parece a única opção plausível. Voltar ao estado anterior, voltar a calmaria e a acomodação. Estou prestes a dar um passo grande na minha vida familiar e hoje vi que isso esta mexendo comigo de fato. Não tão perceptivelmente, porém de uma forma sutil e estarrecedora. Eu sei quem sou, em relação a minha sexualidade, eu quase sempre soube quem sou.

...

Dado grande introspecção de sábado, achei por bem fazer uma lista (tenho escrito sobre listas com frequência) de tudo que me serviu de gatilho nos últimos três anos, é uma lista grande e acredito que muita coisa dela realmente foi essencial para mim, mas também causaram grandes problemas com os quais eu tive que lidar. Acredito que a introspecção é algo realmente necessário, mas sei que passo melhor o tempo quando ela não ocorre, acho que essa é uma das chaves de se viver bem, se perdoar pelo seu próprio passado e evitar ao máximo desgraçamentos e explosões de informações que possam te fazer pensar demais e talvez reviver coisas que te farão sofrer.

...

Eu não conheci Ibiza e nem pretendo conhecer mais, meus planos de viagem futuras não estão incluindo esse passeio no momento, não gosto de festas e não gosto de boates e segundo Lolita, Ibiza tem tudo isso, muito! O forte no turismo da ilha são os festivais de música eletrônica que ocorrem anualmente e eu prefiro não estar inserida nessa brincadeira. 

...


Comida rápida e fácil, de preferencia que não suje muitos utensílios domésticos, no mais faço arroz para semana inteira, separo e congelo, tenho costume de congelar outras coisas também, como tortas, vagens, legumes cozidos e bananas, laro quando consigo ir a feira. Com tudo isso a única coisa que me falta fazer, fora aquecer tudo no microondas é um ovo mexido ou dois, as vezes uma omelete, a salada eu deixo lavada e pico tudo num segundo. Na sobremesa, café da manhã ou lanche da tarde um smoothie de banana mais algo, caso não role um preguiça, que trafega entre maça, pêssego, cenoura ou outro diacho qualquer que tiver na geladeira. Nos dias mais corridos, rola comer na casa das tias avós, macarrão com alho e óleo e claro miojinho. No fins de semana em que fico no ócio de casa, geralmente como qualquer merda e as vezes rola uma panqueca ou bolo, as vezes, muito raramente eu diria. 

...