terça-feira, 25 de outubro de 2016

um por um

Há tempos não me sentia tão bem como hoje em dia, claro alguns momentos o tédio me pega e me reviro em muitas para contorna-lo e não deixar que os pensamentos muito ruins se acerquem, mas é inevitável, eles residem em mim, eles são eu também. Há dois dias eu durmo bem, não foi mandinga, mantra, reza brava ou rivotril e lexotan que me causaram sono. Acredito ter sido um negocio estranhíssimo que não tenho faz uma cota, fé.
Quando digo qualquer coisa relacionada a fé, já logo todos pensam no cristianismo e em deus, não, não falo disso, estou falando numa fézinha, bem pequena, qualquer coisa que se acredite com um minimo de profundidade. Bom, tenho relatado aqui que nada me fazia dormir nas minhas piores noites e tenho tentado de tudo. 
Quando o ano se iniciou eu pensava em me aprofundar no budismo vajrayana ou mesmo na vertente de nitiren daishonin com intuito de conseguir superar a depressão, já que por minha própria conta descartei o diagnostico de transtorno bipolar, contra a vontade de Dr. Cássio que logo alegou que eu perdia a criticidade e não deu semanas para que eu voltasse a seu consultório com uma crise de mania. Eu não voltei. Mas também não me curei, segui um tratamento com outro psiquiatra, mais humano, mais meu amigo, mais conversador, Dr. Benigno aparentemente se importava com que eu dizia, tinha uma visão mais humanista, holística, psicanalítica e estava sempre me indicando filmes, unguentos e florais além da medicação alopática. Mesmo para o mais poderoso opioide é necessário acreditar. Voltando ao budismo, nessa época eu já tinha desistido do cristianismo há tempos, ali nunca tive pertencimento, ali nunca pude ser quem eu realmente era, mas o budismo parecia uma opção, havia pois, convertido uma de minhas melhores amigas em uma pessoa melhor, aparentemente, visto que muitas das atitudes dela continuaram iguais, vai entender!? Mas quanto mais eu lia sobre e achava incrível de fato, por algum motivo mais distante eu ia ficando, um dos princípios básicos do budismo, o estudo sobre a doutrina, não me convencia, pois tudo que eu sentia de fé e crenças até então nunca havia requerido um estudo prévio, era apenas sentir, era apenas isso, conseguir sentir as coisas e isso eu fazia muito bem, não precisava de prova alguma para mostrar o quanto eu senti. Não naquele momento, no momento de fato, eu não sentia nada, a depressão é uma apatia constante, mas eu sabia que ali no fundo eu ainda sentia, ali no fundo de mim eu sabia qual o propósito, apenas estava meio perdida, desconectada, confusa, todavia estou. Nas minhas piores crises eu recitava mantras budistas,  metta bahavanna, nanmyohorengekyo, hare krisna hare hare, om shiva om shakti, creio em deus pai, deus prove deus proverá, eparrei aruanda a nossa mãe é iansã, o pai xangô Iemanjá, foram noites e dias de cânticos e rezas e nada me ajudava, foram inúmeras idas à centros espiritas, cura e libertação. Tudo me acalmava, tudo me fazia melhor por alguns minutos, até minha cabeça tediosa se engonhar daquela situação e ter no mais profundo de mim que porra nenhuma daquilo adiantaria. Aí eu parei, já não havia me adaptado a nenhuma dessas crenças e para falar a verdade achava tudo uma grande merda, achava tudo um grande artificio, uma grande enganação do homem para consigo mesmo. Homem esse que precisa crer em algo para não surtar, precisa crer-se divino para não se igualar aos outros animais e assim poder domina-los de alguma forma. Esse foi o aspecto que mais me incomodou em todas as doutrinas, a necessidade humana de se por no centro das coisas "deus acima de mim, mas eu soberano na terra" ou " homem imagem e semelhança de deus" ou " o aspecto humano divino" e outras variáveis.  Como quando em uma reunião budista eu conversava com um moço praticante há anos e bem mais entendido do assunto, sobre a questão da reencarnação em animais, para eles o ser humano é o topo da reencarnação, cães, gatos, gafanhotos e baratas, estão abaixo de nós como seres espirituais. De fato contradizia o que sempre acreditei do mundo, a totalidade. Eu quando criança não matava uma formiga por saber que aquela vida tem o mesmíssimo valor da minha, nós não somos iguais, mas cada uma de nós, ser humano, formiga, desempenha um papel fundamental na terra, eu sem ela, nem ao menos seria, como animal os considero seres num ponto de elevação tamanha que não precisam de nada para desempenhar com maestria seu papel, precisam apenas existir. Só observar a complexidade das árvores, quem em plena consciência de mundo estuda fisiologia vegetal e não percebe a divindade tamanha de uma frondosa árvore, cheia de ácido abcísico, etileno , Rubisco, se alimentando lindamente da luz solar e posteriormente alimentado à todos os outros seres terrestres, já que são base de cadeia? Todo esse pensamento meu, havia ficado bem claro numa experiencia mais recente, com um ritual xamânico de ayahuasca, que mesmo tendo sido libertador e esclarecedor a sensação de pertencimento ao planeta e ao mesmo tempo o distanciamento do homem com o que realmente é divino,  foi um estopim para todas as coisas que eu teria de lidar no futuro, envolvendo eu mesma, o mundo, e os acontecimentos da minha vida.

Mas como eu dizia no inicio do texto, há tempos eu não me sentia tão bem, eu consegui manter uma boa rotina nas últimas semanas. Sexta passada quando comprei um frasco com sessenta capsulas de valeriana, coloquei na cabeça que a valeriana era a coisa mais indicada para tratamento de insônia, projetei gráficos e dados mentais, mostrando a eficacia do tratamento com aquela planta, busquei no meu livrinho de plantas medicinais, escrito pelo irmão Cirilo e valeriana era o supra sumo no tratamento de insônia crônica, domingo as 23 horas eu senti muito sono como se um manto mágico caísse sobre mim, acordei as 6 horas do outro dia, revigoradíssima, tive sonhos incríveis com lagartas e animais pequenitos, pupas, casulos e muita terra molhada, dormi como não fazia há meses e me senti ainda melhor em ter conseguido. Quarta- feira passada, havia tomado um suco de maracujá batido com rivotril e ainda assim passei a noite em claro, lembrei que antes de jogar os comprimidos no liquidificador eu havia pensado que aquilo não iria dar certo, tornei o negocio impossível antes mesmo de começar. Eu as vezes desacredito demais no poder de ser ter fé. Mas fui assim desde pequenina, quando perguntei a tia da catequese como era possível uma virgem ter ficado grávida e ela disse que para deus nada era impossível e eu retruquei dizendo que para ciência deus nem existia. 

Durante essas semanas venho reparado que minha raiva estava voltando, o tempo de insônia te torna irritadiço, quem não dorme, não consegue viver bem, mas uma pessoa em especial estava me atormentando muito. Em alguns dias de profunda reflexão percebi que havia várias passagens da nossa vida conjunta que aquela pessoa havia me ferido, tinham sido coisas pequenas, mas um acumulo de anos de sentimentos não curados são bem prejudiciais. Eu percebi que possibilidades de cura de si e dos outros sempre haviam me deixado melhor, a cura em relação a quem minha melhor amiga havia sido para mim, quem eu havia sido para ela. A cura da minha mãe, das coisas em que ela falhou, as coisas em que eu falhei como filha. A cura de meu pai, do álcool  que ele sempre abusou e sempre me causou sofrimento e das vezes que eu o desprezei por isso. A cura de minha ex namorada que muito me machucou e do que eu fiz a ela, a machucando também. Tudo estava bem mais claro, no entanto os pequenos deslizes desse outro ser humano agora me incomodavam muito, decidi que era por bem me afastar, que talvez aquela relação nunca havia me feito bem, mas logo me arrependi do afastamento e quis voltar a ter contato, tudo isso foi feito sem que a pessoa tomasse consciência, quis superar aquela raiva, mas quando o tornei visível para o outro vi que só eu estava me importando com aquilo. Novamente a toxicidade da relação veio a tona, me senti mal, por que sou eu sempre a buscar? ir atrás? perguntar como tudo está? Já havíamos nos desentendido a pouco e voltei a pensar em um possível afastamento, por momentos fiquei feliz, feliz pois me sentia bem, estava alcançando coisas, objetivos, estava como uma meta, tinha novamente um propósito, por mais que aquela pessoa em especial não estivesse mais participando da minha vida. No momento seguinte fiquei triste, pois me afastava de pessoas queridas e não conseguia ver reciprocidade em nada. Precisava urgentemente de outro movimento de cura de mim, do outro. Precisava novamente daquele acreditar com profundidade, mesmo que minimante, chamado fé, a mesma que fez com que o placebo da valeriana, junto com o poder dos princípios ativos da planta, me fizessem finalmente dormir a noite inteira nos últimos dias, mas onde eu encontraria a força para a cura nesse momento de muita raiva e irritabilidade em relação aquela pessoa. 

Foi quando aconteceu um fenômeno interessantíssimo, apareceu em minha timeline no facebook, uma prostituta, pois é, uma prostituta, falando sobre uma técnica de cura e meditação havaiana, ho'oponopono, que não apela a  nenhuma lei cósmica universal, não traz a suposta divindade humana a tona, trabalhando apenas com sua parte inconsciente e as tristezas e angustias que a gente não tem acesso. Eu apenas digo, eu sinto muito, te amo, eu sinto muito, te amo, eu sinto muito... Posso faze-lo mentalmente enquanto escrevo isso, posso faze-lo recitando, cantando, como mantra. Não estou desculpando o outro nesse processo, nem dizendo que o amo, estou me desculpa, dizendo a mim mesma que me amo, pois o  que vejo no outro nada mais é que um reflexo de mim mesma, isso sempre esteve claro, por mais que as vezes nosso lado mais escuro não nos deixe enxergar e que fique claro, o lado escuro e sua aceitação são de extrema importância, não se cura o que não se aceita antes de tudo, não se cura o que você mesmo nega. Claro, sigo sentindo alguma raiva, querendo  por esse momento não estar por perto dessas pessoas que mesmo sem querer me fazem mal, mas enquanto eu trabalho em mim, curo minha visão deles também.

Un pasito adelante por vez, hasta la inmensidad  

sábado, 22 de outubro de 2016

Wake Up Donnie

Esta sou eu, vinte e dois anos sentada desconfortavelmente em frente a uma tela tentando padronizar dois artigos para submeter dentro de dias, tomando café amargo e quase botando todo o ovo mexido que comi no café para fora. Sou eu aqui sem dormir, tendo passado uma noite inteira lendo o enredo sombrio e sem cortes de Donnie Darko, sou eu com uma insônia que vem durando meses, anos, talvez vidas. Sou eu ouvindo uma chuva inexiste, mas que em algum lugar de mim existe e deságua e se acaba em fluidos fantasmas em minha memória. Esta sou eu observando uma mosca pousar na banana que esta na fruteira e ouvindo o ronco do estomago do meu cão, sou eu pensando que semestre passado eu jamais me imaginaria assim, escrevendo artigo, botando a cara a tapa e gritando para o mundo que estou aqui. Sou eu quando saio atrasada de casa para estar sentada dentro de uma sala  assistindo aulas enfadonhas ministradas à alunos de fundamental, sou eu no intervalo sendo consumida pelas crianças loucas para saber sobre a universidade e morrendo de vontade de dizer a elas que tudo isso é uma grande cilada da vida. Tem pontinhos verdes na parede e as noites fazem as vezes uma falta imensa, mas nem o mais forte mantra e a mais sagrada reza me põem finalmente para abraçar o senhor Morfeu

Quando minha mãe me trouxe da maternidade, depois de mentir após uma cesária de emergência que havia evacuado satisfatoriamente, eu não dormia. Foram longos 20 dias da minha vida sem dormir à noite e dormindo minimante durante o dia, o que resultou à ela, disfórica desde a juventude, uma depressão pós parto, por estafa acredito eu. Eu nunca dormi.

Sendo sincera nem nascer eu queria ainda, até que o infeliz obstetra resolveu me tirar, alegando que eu estava "passando" do tempo de nascer, depois de grande fui saber que uma gestação pode durar até 42 semanas, eu nasci de 39 e meia, as 22:45 no horário de verão do fatídico dia 11, num calor infernal de fevereiro. Nasci já toda errada, comecei minha vida à noite e segundo relatos meus olhos eram arregalados como duas jabuticabas pretas que permaneceram abertas até eu mamar no peito pela primeira vez quase 48 horas depois de nascida. Nesses 20 primeiros dias não dormi, segundo especialistas recém- nascidos dormem até 17 horas por dia, isso provavelmente devastou meu sistema límbico.  Agora tô aqui juntando caquinhos da infância tentando uma vez mais descobrir como e por que de mim.  

domingo, 16 de outubro de 2016

insônia

Camomila para dormir
Lúpulo para dormir
Aspirina para dormir
Maconha para dormir
Erva de São João para dormir
Clonazepam para dormir
Álcool para dormir
Meditação para dormir
Hipnose para dormir
Música para dormir
Mantra para dormir
Maracujá para dormir
Zolpidem para dormir
Flurazepam para dormir
Valium para dormir
Melatonina para dormir
Lexotan para dormir
Alpraxolam para dormir
Depakote para dormir
Meditação guiada para dormir
Clamor a deus para dormir
Pacto com o capiroto para dormir
Dramin para dormir
Depakote para dormir
Jasmim para dormir
Aloe Vera para dormir
Papoula para dormir
Ópio para dormir
Banho quente para dormir
Morfina para dormir
Metadona para dormir
Dormir
Dormir
Dormir
Dormir
Dormir

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Undergroud

Êxtase. Eu apenas queria lhe dizer que não sei o que pensar sobre tudo que vem acontecendo. Quero encontrar de fato o que me faz caminhar, quero seguir buscando quem eu sou e porque sou. Mas veja bem, é tão difícil sentir todas essas coisas simultaneamente, estou tentando desfazer papeis e me encontrar tal como sou, fico sentada nesse quarto, a luz esta acessa, mesmo que o dia já esteja lá fora, ouço vir um som da sala e queria poder coloca-lo nessas palavras, queria poder escrever tão condizentemente com o todo que sinto, mas apesar de maravilhosas, as palavras sempre faltam. 
Conhecendo esse novo/antigo lado, quem eu sempre fui ou talvez quem eu queira ser, quem sabe
Ela está ouvindo Where is my mind e eu também me pergunto, onde estará?
Noto que todos seus livros são de uma editora chamada Dark Side, poderia ser o destino 
We Have Cookies, dizia um cartaz na sala
Minutos antes eu estava ao lado de A, segurando suas mãos costuradas tentando entender o porque disso tudo e vendo que o corpo sem a mente nada é, ele já não estava mais lá
Lembrando simultaneamente de quando falávamos de The Black Parede e tentávamos entender a morte de Hannah Bond
Estávamos sempre na sombra, mas eramos felizes e viviámos rindo e buscando explicações para o universo. Sentados na calçada, tocando violão e gritando Viva a Sociedade Alternativa. 
Ainda estou a escutando, Oh, Sweet Nuthin, algo faz um nó rolar por minha garganta, em breve estarei pegando o ônibus
Aquela época eu não conhecia a depressão, não entendia como era não sentir nada e nem tinha um medo absurdo do porvir.


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Disparate, sexualidade difusa

Não foi a primeira vez que discorri sobre minha sexualidade para alguém, é um fato, aparento ser bem mais resolvida sexualmente do que realmente sou. Me garanto muito bem quando o assunto envolve homens, eles não tem a menor noção da subjetividade do prazer e quase sempre que puderem penetrar alguém o farão e apenas isso basta. Não me esforço em nada para agradar um cara, basta fazer cara de menininha, vestir o moletom deles e dizer me come, isso por que até hoje não encontrei nenhum homem homem mesmo, que se interessasse por mulheres resolvidas e independentes, coisa que eu realmente não sou, talvez mais independente do que resolvida de fato, mas acredito piamente que uma coisa leva a outra.
Tudo ocorre de forma extremamente diferente quando estou com uma mulher, minhas colegas e até mesmo N acreditam que sou uma sapatão foda, eu costumo mesmo passar muita segurança em relação a isso, na verdade eu não faço ideia nada, tenho uma pequena noção de como deixar uma mulher feliz, mas nem tento e as vezes até mesmo travo e quero sumir. Sou passiva, mas nem sempre porque quero, quase sempre tenho  o desejo na mesma intensidade de chupar ou foder uma mulher e de dar para ela. Os joguinhos e as provocações me atraem muito, nem sempre consigo curtir esse momento numa boa, algo que faz novamente travar e passar a atuar mesmo durante o sexo. Eis o motivo de eu ter passado longos dois anos sem conseguir chegar a um orgasmo junto, a atuação. Ainda não entendi como estou indo bem como educadora, sendo que meu maior mérito na vida é ser várias e agir como várias e nunca entender de fato quem sou eu de verdade. Penso que estou realmente tão escondida em mim mesma que para me encontrar nessa bagunça toda travo inúmeras batalhas.
A sexualidade segue sem ser entendida por mim e tento ao máximo deixar que as coisas aconteçam de forma tranquila e natural, mesmo sabendo que isso é quase impossível por agora.

Eu aos 8 anos sabia como os bebês eram feitos, tinha ciúmes da minha  mãe e sentia nojo de pensar que meus pais podiam transar, credo, asqueroso. Nessa idade também vivia dando selinho em G, sempre que podia a gente sumia de perto das professoras e ficávamos lendo os livros sobre sexo que tinham na biblioteca, era de fato bem raro quando isso ocorria, porque nosso passatempo favorito era brincar de cúmplices de um resgate no gramado, quando G era Mariana, I era Silvana e eu nem queria ser gente e achava mais legal ser o cachorro. Silvana era ruim, mas eu era loucamente  apaixonada por ela e por I, tanto que quando mudamos de sala passei dias chorando ao ouvir Milton Nascimento em casa, também chorava com algumas músicas de Sandy e Júnior. I, foi sem a menor dúvida minha primeira paixão de infância, já mostrava naquela época que eu seria uma fã indiscutível do amor de simulacros, das imagens da caverna, do platonismo como um todo. Drama Queen.

Doze anos e nem I e nem G participavam tanto de minha vida, ainda conversava algumas vezes com I no recreio, mas estava fissurada em Let e em sexo. E, um dia ensinou Carol a masturbação feminina, usou o estojo como modelo anatômico de vagina e colocava dois dedos na abertura do zíper, mexendo para baixo e para cima. Eu de fato odiava E, já havia algumas vezes batido nele, arranhado e até mesmo o insultado para que parasse de encher o saco de minhas amigas, Carol e M. Era uma mocinha estourada e ciumenta. Eu tinha inúmeros DVDs de shows, Avril Lavigne e RBD dominavam minha vida e meu Jesus, que pernas eram aquelas da Dulce Maria, brincávamos de rebelde e eu estava o tempo todo falando sobre sexo com as pessoas, na brincadeira faltava gente, no caso falta os meninos e então improvisávamos meninos de almofadas ou travesseiros, que eram no caso nossos namorados. Foram varias as vezes que dormi abraçada com um travesseiro, que podia ser Poncho, Miguel, Diego, mas na minha cabeça sempre era a Anahí.

Tinha acesso livre a internet e logo o assunto sexo migrou para rede o que caracteriza um sério problema de negligencia parental em relação ao uso do computador por minha parte. Já buscava nessa época fotos um pouco mais picantes de Avril e as mocinhas do RBD, um dia Let me mandou um gif de pinto e aquilo ficou rodando na minha cabeça por algum tempo, era de fato uma grande e divertida brincadeira, envolvendo um assunto de adultos, sexo.

O conto:
Uma noite tinha um trabalho para fazer sobre contos, fabulas e estórias. Grande surpresa a minha ao descobrir um site chamado Casa dos Contos Eróticos, logo de cara um relato detalhado de ménage envolvendo incesto e pedofilia, claro, para que começar de forma sutil e bem orientada uma vida sexual!? O relato em si, não tinha um tom agressivo, mas era riquíssimo em detalhes, eu tinha uma mente demasiadamente fértil e imaginativa, tanto que os livros me interessavam mais que os filmes na época, dado que eu conseguia visualizar todos os detalhes da escrita. Era um casal que passa uma noite com um sobrinho de 12 anos em casa e acabam induzindo o menino a fazer sexo com a tia e posteriormente com o tio. A história me impressionou bastante, assim como um vídeo que pulou em minha tela de uma mulher dando para um pastor alemão, ali meu contato até então didático com sexo havia sido ilustrado da pior maneira possível.

N

Com os cabelos ruivos, um piercing no septo, uma camisa social preta e calça jeans rasgada ela veio atender à porta, logo na entrada se podia ver uma imagem de baphomet sobre a porta que dava do hall de entrada para o corredor, o corredor por sua vez acabava na sala que era dívida entre uma pequena sala pouco iluminada e a cozinha, ela então se sentou no sofá, se jogando esparramada em umas almofadas feitas com velhas camisetas todas com a logo de uma banda de rock distinta. Lola havia me dito que ela não era muito de ficar jogando conversa fora, mas conseguiu quebrar o gelo de nosso primeiro encontro oferecendo uma pizza de brócolis que estava sobre o fogão, me acompanhou até a cozinha enquanto Lola bolava um cigarro de fumo orgânico, a geladeira antiga e toda gasta na parte de baixo estava coberta por imãs de diversos países, alguns tinham os símbolos do anarquismo, mas também do ocultismo e muitos possuíam pentagramas. Ao abrir a geladeira ela me ofereceu uma cerveja e agarrou um pedaço de pizza. Eu recusei a cerveja, foquei nos gatos que andavam espalhados pela sala.

Tolerância

Tenho percebido, minha paciência para lidar bem com algumas situações tem sido pouca. Costumo não julgar as pessoas por terem pensamentos que já tive, mas tem sido extremamente difícil lidar bem com pensamentos divergentes do meu. Uns dias atrás exclui meu facebook pois não conseguia não retrucar coisas que achava ridícula, como citei na limpeza, falsa empatia, hipocrisia e todos os tipos de achismos não embasados, me irritavam. Eu preciso lembrar sempre que já estive e ainda estou do outro lado em diversas situações, mas existem épocas da minha vida que a razão toma a frente de tudo, no momento a razão tem me feito mais dedicada e interessada em meu curso, futuramente minha profissão, mas saber demais nunca fez bem ao meu ego, me tornava mesquinha e noto muito facilmente que quanto mais estudo, mas quero provar algo a alguém. Claro, não tem um alguém especifico e também não faz grande sentido, mas aos poucos consigo entender.

De onde veio!? 
Tive uma educação muito boa ao meu ver, há que diga que meus pais não souberam me educar, que sou vagabunda e não faço um nada, nunca. De fato, meus pais não foram os melhores a me ensinar o valor que o dinheiro tinha e como era difícil conquista-lo. Desde muito nova sempre fui bem mandona, péssima em trabalhos em grupo, amante do individual. Em parte se deve ao grande tempo que passei com minha mãe, aos 6 anos de idade eu podia discorrer com muita certeza sobre animais vertebrados, invertebrados, bípedes, quadrúpedes e marsupiais. Também já sabia quem foi Copernico, Thomas Edson, que por acaso nasceu no mesmo dia que eu, Galileu e Maria Montessori. Minha mãe fez o melhor que pode, mas as aulas que me dava em relação ao mundo prejudicaram minha conquista social, já que percebi muito logo que ninguém sabia coisas que eu sabia, que as crianças da mesma faixa etária não conversavam sobre as coisas que eu conversava, que enquanto eu queria brincar de testar tatu-bola na água elas queriam pular elástico, brincar de pega e imitar a xuxa. Não digo que era melhor, só tive um início de vida diferente, minha mãe sempre me diz que eu era uma criança diferente, mas também me disse várias vezes que eu era igual. Querendo ou não eu, naquela época me achava boa demais para o mundo, no sentido de estar sempre sabendo mais que alguém, foi assim até a graduação, mais precisamente até conhecer a Nabila, que como ela mesma dizia: me pôs no meu lugar, já que eu teimava em me achar mais do que realmente era.

Minha mãe sempre me disse que eu era muito boa, escrever, desenhar, discorrer, persuadir, discursar. Minha mãe me dizia que eu era muito inteligente, curiosa e autodidata, antes do ensino médio percebi que o mundo gostava mais da aparência e crianças, quando não bem instruídas podem ser cruéis, minha prima uma vez me disse que os meninos não iam gostar de mim porque eu era chata e dentuça, que eu era magra demais e todo mundo gostava mais de menina branca, nessa idade, meu sonho era ser loira de olhos claros( na classificação do ibge, sou branca, tenho privilégios brancos, nunca nada foi me negado justamente por ser branca) naquela época me neguei a ler Mauricío de Souza, sorte que tinha ganhado uma coleção inteira de quadrinhos da Mandame Min e de Maga Patológia, que aposto meu dedo, a geração de hoje não faz ideia de quem sejam, elas eram bruxas e muito perspicazes, naquela época eu já tinha noção de maldade e mesmo assim eu mentia, era a forma mais fácil de elevar minha autoestima, que por conta da aparência, que veja bem, não é tão ruim assim, mas que na época estar fora do padrão me atingia muito.

Não consigo entender por que, mas mesmo com os esforços da minha mãe, fui construída com uma auto estima deplorável, especialmente no que dizia respeito a como eu era aparentemente, a inteligencia e o conhecimento se tornaram algo ao qual eu me gabava de ter, meu prazer em humilhar, consistia em estar sempre me sentindo menos que todos eles, naturalmente, para uma pessoa em formação todas essas questões foram cruciais. Não há porque se gabar por ter tido privilégios que outros não tiveram, no caso eu tinha acompanhamento na escola, minha mãe me levava periodicamente a biblioteca da cidade, liamos juntas, estudei em escola particular até o segundo ano do fundamental e logo voltei para um colégio particular para fazer o médio.        

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

"This little light of mine,
I'm going to let it shine.
This little light of mine,
I'm going to let it shine.
This little light of mine,
I'm going to let it shine,
Every day, every day,
Every day, every day,
Gonna let my little light shine"
Até a nossa próxima existência e me desculpe por tudo o que o mundo lhe causou.