domingo, 13 de agosto de 2017

Ressaca Social

Não é a coisa mais fácil, eu apenas queria que a maioria das pessoas com quem convivo entendessem que não é tão simples para mim o que aparenta ser demasiado fácil para elas. Eu um dia cansei de ouvir que não queria me divertir, que eu buscava todos os estados com os quais lidava, porquê é sempre fácil para os outros olhar de fora e acreditar que ali não há esforço, que essa melancolia vem por conta de seu pessimismo, que sua falta de vontade de socializar é apenas uma timidez ou qualquer insegurança que seja. Só que não é nada disso, a maioria das pessoas jamais vai experimentar essa sensação única que é não pertencer, essa que nos faz achar ser um ser completamente aparte do lugar onde você nasceu, da condição humana a qual experimenta, esse sentimento que te garante uma falta de estabilidade em grande parte dos seus relacionamentos pessoais, porquê eu nunca sei se falei no momento oportuno, se sorri no momento certo, se fiz aquele barulho estranho com a boca enquanto lia um livro em público ou ouvia música, eu sempre saio desses momentos acreditando que eu estou tão errada de estar ali, que falei demais, que abordei coisas fora de contexto e que fui grossa apenas por ser eu mesma ou por tentar ao máximo parecer ser aceitável socialmente. As pessoas não sabem o que é uma ressaca social, o que é ter de se retirar do mundo após poucas horas de contato com muita gente, de contato com gente que você não conhece, essa relação interpessoal toma rumos desgastantes, sufocantes e aterradores. Elas nunca saberiam o que é não ter o menor jogo de cintura para lidar com assuntos corriqueiros, como o cabelo da menina na nossa frente, como o namorado da fulana ou como a outra ali não está lidando bem com seu relacionamento. Se não tiver densidade, tensão, profundidade em qualquer conversa eu nem vou, coisas superficiais me atrapalham e me irritam. Acho que aos 23 eu perdi totalmente a vontade desse esforço para me adaptar ao padrão social, eu só não quero mais me desgastar para tentar parecer normal, para estar apta a viver dessa forma. Eu levo bem minha vida, eu me dou bem em minhas escolhas quase sempre, em dar minha aulas, em montar meus planos de ensino, eu sou boa no que faço e tenho recebido as recompensas disso tudo, apesar de todas as milhares de dúvidas, apesar da aparente confusão dicotômica entre a pesquisa e a educação, aos 23, talvez eu esteja pronta para lidar com quem eu sou, sem ter que me validar de máscaras, talvez essa seja a melhor idade que experimentei até o momento, aquela tão almejada maturidade, aquela de saber que esta tudo bem, que as coisas vão acontecer e que eu não preciso me parecer nem um pouco com as pessoas da minha idade. Não dá mais para sofrer por não pertencer a locais que não são meus por natureza.


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