domingo, 5 de janeiro de 2020

Suspensão.
Um dia e depois outro e outro e outro.
E a semana passa.
E o mês acaba.
E o ano termina.
*
Eu,
Que nunca acreditei no que de fato podia fazer.
Eu,
Que aceitei de supetão estar nessa posição, me arriscar de verdade, de fato, arriscar.
Eu,
Sei que doeu e dói um pouco ainda.
Mas graças a deus o passado chega e o tempo passa.
*
Hoje.
Hoje eu pude ver,
o vislumbre exato do que eu quero.
Do que eu sempre fui e nunca soube.
Esse momento.
O momento crucial que eu decido quem sou, como sou e o que farei daqui para frente.
*
Luz.
Mesmo nessa escuridão tamanha aqui de dentro, há luz.
Estou feliz por me descobrir aqui, por estar no agora tão totalmente como nunca havia estado.
Por sair motivada todo dia e saber que realizo algo importante.
Algo com sentido, que ensino algo à quem mais importa.
Que estou eu, aqui, cuidando de toda a sociedade.
Que posso olhar com ternura e ensinar amor.
Satisfação.
*
Encontro.
Eu acho que agora posso ver o que sempre quis esconder.
Arrogância
Medo
Insegurança
Despreparo.
Eu sempre quis saber e esse saber tanto me destruiu esse caminho.
Agora o reeconstruo peça por peça. Eu agora compreendi a que vim, porque estou aqui e qual o meu real papel.
*
Agora.
Os planos são esses.
Estar presente, com o toque, com o cheiro da água morna caindo sobre a pele pura e macia.
Com os olhos sempre atentos, aqui, neste momento.
Atuo no presente, sinto suas cores, toco seus sons únicos e memoráveis.
Estou aqui, estou construindo história, estou meditando vidas inteiras.
Vendo a sociedade nos seus pequenos grandes passos.
Que momento mais incrível.
*
Tempo.
Eu então me aproximo com cautela de tudo que é novo.
Está no passado o tempo de lances bruscos, de quedas livres.
A cautela dita o tom desse novo momento.
Estou cuidadosa comigo, com minhas mágoas e com as feridas revividas o tempo todo. Aqui tudo meio que doí.
Mas digo que a dor é suportável e as vezes leve. Quem vive o agora, tão puramente, sente amortecer as dores intensas.
E no agora tento me aproximar, checar os sentimentos e entender que o tempo é tão fundamental quanto a respiração. Vai devagar e vai amaciando tudo.
*
Mudança.
Batendo desesperadamente à minha porta e pedindo para entrar, difícil abrir caminho.
Travo tudo, aqui tudo vai ficar igual!
Não fica, nada nunca fica.
Nunca, em tempo algum.
E eu aceito e deixo entrar arrebentando coisas e certezas. Maré que destrói e deixa aberto o campo para novas emoções.
Era o fim e o início, dois lados de uma mesma moeda. Tudo acaba e começa em ordens parecidas, no ponto exato onde a dor cutuca.
Não há aqui sentimento que seja ruim.
Raiva, medo, desespero e tristeza.
Tudo será convertido em energia para criar, para ser e para mover.
*
Fim.
Então tudo termina, de frente ao novo e ansioso agora.
O ano passa, a vida corre e o tempo vem apaziguador de anseios, atenuando a vida é deixando clara a proximidade da morte.
O agora é de fato o único momento possível.



domingo, 20 de outubro de 2019

Fuga Litorânea

Fugiu de tarde
Pensou em ir a noite
Mas havia só o escuro
Ela não veria

Foi ao encontro
Não sabia de que...
Mas ali não poderia mais ficar

Fugiu de tarde
Começou a escurecer
O medo lhe tomou

Ouviu aquele som...
Já sabia o que era
Toda a vida esperou
Aquele era o momento

Sentiu em sua pele
Nos cabelos
Tudo ao vento

Depois do penhasco
Já sabia onde ir
Mesmo nunca estando lá

Foi encontrar o mar
Apenas encontrar
Passou pelo azul do céu

A lua a iluminou
Se jogou ao seu destino
A sua paixão

Foi encontrar o mar
Apenas encontrar
A lua te iluminou

Fugiu de tarde
E nunca mais voltou

10/09/08

sábado, 28 de julho de 2018

os dias passam e parece que não ando sendo por demais produtiva. Não que eu realmente almeje tal produção, não falar sobre textos incríveis de ótimos autores tem me mantido mais feliz e possivelmente menos ansiosa, a ausência de compromissos acadêmicos me afaga o humor por vezes, porém me suprime o ego e isso acaba me matando um pouco. Sou por demais orgulhosa para não ser produtiva. Sou por demais arrogante para não ser acomodada.

esses pontos que odeio nos outros e observo em mim, o inferno nunca sou eu.


terça-feira, 5 de junho de 2018

Chegar

porquê todas as coisas que você pensou nunca chegar estão aqui agora e nesse momento, esse em que você se sente no topo do mundo, quando você olha no espelho se reconhece tanto na imagem como profundamente, você conheceu os lados sombrios e lidou com eles, você bateu de frente com a morte e se tornou muito intima dela, todas vezes que ela invadia seus pensamentos e você ficava com aquela minima esperança ou aquele fio de empatia, compaixão e medo. Você que achou difícil levantar da cama tantas vezes, que não quis pentear os cabelos ou escovar os dentes. Todas as noites de insônia, os pânicos noturnos, as visões, os gritos e o medo. Todo dia que a luz do sol ofuscou seus olhos, que a linda Buenos Aires era feita de cinza e choro, que Pelotas era só chuva, frio e insegurança, que Porto Alegre era escura e São Paulo era lilás e barulhenta e havia um sofrimento tão grande em saber ter tudo e não conseguir sentir nada, em realizar sonhos e não sentir euforia, em olhar aos outros e não sentir amor. Todas as vezes que olhou no espelho e se odiou e quis que seu corpo se desintegrasse. Todo dia que a comida não teve gosto, que o sexo não tinha graça sem força, humilhação ou dor. Que sentir dor e sentir o peso da morte sobre sua cabeça era melhor que não sentir nada, era melhor que a apatia, aquela tela branca sem movimento ou cor.
isso, isso tudo que você acreditou nunca chegar, a libertação, olhar pra trás e ter certeza que nada daquilo foi em vão, que as coisas estão finalmente num ponto, que as pontas estão se unindo. Essa é a melhor sensação do mundo. Você sabe agora.

domingo, 13 de agosto de 2017

Ressaca Social

Não é a coisa mais fácil, eu apenas queria que a maioria das pessoas com quem convivo entendessem que não é tão simples para mim o que aparenta ser demasiado fácil para elas. Eu um dia cansei de ouvir que não queria me divertir, que eu buscava todos os estados com os quais lidava, porquê é sempre fácil para os outros olhar de fora e acreditar que ali não há esforço, que essa melancolia vem por conta de seu pessimismo, que sua falta de vontade de socializar é apenas uma timidez ou qualquer insegurança que seja. Só que não é nada disso, a maioria das pessoas jamais vai experimentar essa sensação única que é não pertencer, essa que nos faz achar ser um ser completamente aparte do lugar onde você nasceu, da condição humana a qual experimenta, esse sentimento que te garante uma falta de estabilidade em grande parte dos seus relacionamentos pessoais, porquê eu nunca sei se falei no momento oportuno, se sorri no momento certo, se fiz aquele barulho estranho com a boca enquanto lia um livro em público ou ouvia música, eu sempre saio desses momentos acreditando que eu estou tão errada de estar ali, que falei demais, que abordei coisas fora de contexto e que fui grossa apenas por ser eu mesma ou por tentar ao máximo parecer ser aceitável socialmente. As pessoas não sabem o que é uma ressaca social, o que é ter de se retirar do mundo após poucas horas de contato com muita gente, de contato com gente que você não conhece, essa relação interpessoal toma rumos desgastantes, sufocantes e aterradores. Elas nunca saberiam o que é não ter o menor jogo de cintura para lidar com assuntos corriqueiros, como o cabelo da menina na nossa frente, como o namorado da fulana ou como a outra ali não está lidando bem com seu relacionamento. Se não tiver densidade, tensão, profundidade em qualquer conversa eu nem vou, coisas superficiais me atrapalham e me irritam. Acho que aos 23 eu perdi totalmente a vontade desse esforço para me adaptar ao padrão social, eu só não quero mais me desgastar para tentar parecer normal, para estar apta a viver dessa forma. Eu levo bem minha vida, eu me dou bem em minhas escolhas quase sempre, em dar minha aulas, em montar meus planos de ensino, eu sou boa no que faço e tenho recebido as recompensas disso tudo, apesar de todas as milhares de dúvidas, apesar da aparente confusão dicotômica entre a pesquisa e a educação, aos 23, talvez eu esteja pronta para lidar com quem eu sou, sem ter que me validar de máscaras, talvez essa seja a melhor idade que experimentei até o momento, aquela tão almejada maturidade, aquela de saber que esta tudo bem, que as coisas vão acontecer e que eu não preciso me parecer nem um pouco com as pessoas da minha idade. Não dá mais para sofrer por não pertencer a locais que não são meus por natureza.


...

Do Clássico ao Funk

 JUNHO 2017

- Lucy in the Sky with Diamonds
- Across The Universe
- Let Be
- Here Comes The Sun
- I want To Hold Your Hand
- I Should Have Know Better
- Eleanor Rigby
- Revolution nº 9 *
- Black Bird
- Lady Madonna
- Strawberry Fields Forever
- I've Just Seen a Face

- Under Pressure
- Bohemian Rhapsody
- Don't Stop Me Now
- Another One Bites the Dust
- Somebody To Love
- Radio Ga Ga
- We Will Rock You
- Love of My Life

-  LOVE  WILL TEAR US APART
- Disorder
- SHE'S LOST CONTROL
-  Atmosphere
- Shadowplay
- Blue Monday
- Lullaby

- OFF TO THE RACES
- BLUE JEANS
- VIDEO GAMES
- DIET MOUNTAIN DEW
- BORN TO DIE
- National Anthem
- CARMEN
- FLORIDA KILOS
- Ultraviolence
- HIGH BY THE BEACH

- Liability
- Royals
- Team
- Green Light
- Tennis Court
- Easy
- Love me on the brain

- Despacito
- Me Gustas Tu
- Ja ne T'aime Plus
- Partiu
- Vai Embrazando
- Olha a Explosão
- Paradinha
- Na sua Cara
- Qual Bumbum mais bate...
- K.O
- Lalá

-Tangerine
- Lonely Boy
- Gold on The Ceiling
- CAN'T HOLD US
- Roxanne
- Highway to Hell
- 505
- Fake Tales of San Francisco
- Do I Wanna Know

- Bandolins
- Quando Bate aquela Saudade
- Sampa
- Por Enquanto
- A noite
- Wave*
- Aquele Abraço*
- Samba de Benção*
- A Tonga da Mironga do Kabuletê*
- Tarde em Itapuã*
- Pela Luz dos Olhos Teus*
- Samba de Orly*
- A Rita*
- A Rosa*
- Quem te viu Quem te vê*
- Fica*
- Samba e Amor*
- Tatuagem *
- Mambembe*
- Leãozinho*
- Disritmia
- Cotidiano*
- O Mundo é um Moinho
- Trevo
- Cabide

Tem asterisco todas as músicas que fazia tempo que não ouvia
Estão em maiúsculas todas as músicas que estão entre as mais ouvidas há mais de 3 meses
Em julho de 2017 adicionei pela primeira vez funks com letras pobres as minhas playlists diárias (???)


segunda-feira, 7 de agosto de 2017

O Menino

De um lado estava Tokyo, cinza e alta com seus prédios azulados meio cobertos por nuvens brancas de uma manhã fria, eu descia aquela rua e chegava ao outro lado de um viaduto igualmente cinza. Havia bancas e coisas sendo vendidas ao lado, azul e cinza. Esse cenário não é de todo desconhecido para mim, esse viaduto, essa cidade, esse azulado todo já havia estado presente em algum outro sonho complexo, mas Tokyo não, não é a primeira vez que sonho com uma cidade especifica, sabendo por meio do próprio sonho qual cidade é, mas é a estreia de Tokyo no meu inconsciente, Tokyo nunca esteve tão viva dentro de mim como estava nesse sonho. Como eu dizia, havia essas bancas, coisas dependuradas e azuis sendo vendidas, azul e cinza. De lá eu podia ver o topo da Torre de Tokyo, meio encoberta ainda pelas nuvens, eu via as casas baixas e pequenas, os prédios altos e as janelas cerradas dos minúsculos apartamentos. Fora tudo, Tokyo era barulhenta e eu corria. Noutro lado aviso meu pai, mas aquela apesar de ser eu, não sou eu, entro numa casa pulando um portão branco e alto, agora a minha visão se foca no suceder desta ação, eu consigo ver de perto meus pés se apoiando nas emendas da grade, consigo calcular o meu apoio e faço uma força significativa para me lançar sobre o topo do portão. Parece por instantes que aquela eu, não eu, havia feito isso algumas vezes, havia ali uma certa familiaridade em pular aquele portão especifico.
Dentro da casa há uma torre, eu vejo Tokyo ao fundo, mas ali, ali não é Tokyo, ali não é nada, a casa é um cenário novo, como as férias e o inicio de Agosto têm me proporcionado. Novos cenários para sonhos, esses lugares que eu nunca vi e que minha mente tira lá do fundo de mim e funde numa situação louca, trotando entre os sonhos claros e escuros, Tokyo é cinza e azul, mas o céu branco de nuvens nos deixa claro que no lado externo há mais luz que dentro da casa. O quintal, próximo a torre é repleto de velharias e sucata, nothing new, se eu puxar algumas anotações do diário de sonhos verei que não é a primeira vez que estou num lugar que me lembra um ferro velho, quando criança o ferro velho era um dos meus passeios favoritos, mas ali na casa do sonho havia um acumulo tão grande de coisas que a luz mal podia entrar, um muro alto cercava os lados da casa, de forma que fazia-se um corredor, era aquele tipo casa trem, você entra num comodo e vai seguindo de porta em porta um linha só, uma porta da no outro comodo, de modo que o quarto onde eu estava tinha então três portas, uma que vinha da sala, outra que dava na cozinha e uma que dava no muro, mas essa terceira podia ser uma janela. A casa assim com o quintal estava entulhada de coisas, caixas, brinquedos, roupas, essas em sua maioria eram azuis e vermelhas.
Nesse ponto coisas confusas acontecem e outras estórias se fundem aos acontecimentos dali, quero que no fim elas de alguma forma façam sentido, mas não fazem, num sofá uma moça esta sentada com o menino, essa é uma das estórias paralelas, lembre-se, tente lembrar eu ainda estou no quarto entulhado quando essas estórias acontecem, mas como a eu real, essa que dorme, essa que sonha, tem um foco limitado, foco no que traz a mulher e o menino e perco parte do que esta havendo no quarto, as imagens se sobrepõem, a mulher veste amarelo e faz algo com o menino que eu não consigo entender, há outros filhos, há também um pai. O foco volta para eu estar no quarto, separo roupinhas diminutas, listradas, azuis e brancas, algo sobre um bebê que já não vêm e a eu consciente pensa em usar as roupas na Eva, está frio, Eva agora dorme sozinha na caminha. Duas pessoas saem da cozinha para o quarto, elas me agradecem por algo que eu não faço ideia do que seja, uma mulher com seus 50 e poucos anos e um homem um pouco mais velho, eu me vejo então, sou uma mulher de uns 30, não sou eu, cabelos castanhos no ombro, meio ondulados, eu saio e deixo essa outra eu que até então era eu. Na saída o corredor é escuro, o menino do sofá sofre, a mãe faz mal para ele, há um julgamento paralelo, ela é condenada, o menino é grande e pequeno ao mesmo tempo, ele tem cabelos muito escuros e lisos. Eu tiro o menino do sofá, acesso de alguma forma o cenário paralelo e levo o menino nos braços numa tentativa de tira-lo daquele ciclo terrível, aquela mãe não age de forma normal, aquilo tudo não parece certo, ela me olha e diz "por quê se preocupar com a dor dele? Isso não é real." Tomo consciência do sonho e ainda sim escolho fugir com o menino, sabendo ser um sonho eu poderia deixar a tortura seguir e uma parte de mim não se importava, mas levei o menino do cenário paralelo e corri pelo corredor escuro tentando abaixar a blusinha dele para que nada das velharias pudesse arranhar a pele de suas costas, corro agarrando o menino que agora parece bem menor que antes e pulo a grade novamente, agora para fora da casa, com cuidado com o menino e calculando da mesma forma que entrei onde por os pés, as últimas cenas do sonho são de Tokyo longe com seus contornos azulados.