sexta-feira, 9 de junho de 2017

pessoas, fumaça, CO2, gel agarose

eu estava querendo fumar esses dias, pela tensão, por toda essa coisa que acontece quando a gente inicia o fechamento de algo. Algo me mantinha longe de fato, mas uma amiga me trouxe um maço de cigarro como se adivinhasse o meu pensamento, eu não tinha acendido nenhum, mesmo com grande vontade, porém essa madrugada me ocorreu de acende-lo, assim o fiz

a principio me pareceu tão errado, vi minhas plantinhas no vaso ao tentar fumar ali na varandinha, elas estão brotando tão lindas, tão serenas na sua luta por um espacinho nesse espaço louco, esse que as plantinhas pequenas carecem de noção, eu não achei justo, olhei para unica Nephilingis cruentata 
que consegui salvar da destruição da laje, bom eu salvei todas as oito, mas apenas essa sobreviveu no novo ambiente e isso não deve ter sido fácil, ela, noturna tecendo sua longa e firme teia e eu ali poluindo como um todo não só a mim mesma como também o ar dela

no entanto foi aliviador sentir algo enchendo meus pulmões, algo que não fosse oxigênio ou essa merda toda que respiramos, algo denso, algo que fosse minha escolha, não esse automático todo a gente vive vivendo diariamente.

acho que a gente enlouquece um pouco ao final dos ciclos, a gente nunca sabe viver essas coisas, os fechamentos da vida, eu ao menos não sei

isa nunca sabe ao certo quando as mãos dela estão cheirando a cigarro, eu gosto de estar perto da isa, ela é apenas essa pessoa, essa como eu, isso me agrada. Ela também mantém os ombros curvados e reponde não sei e parece querer saber também e tentar, isso me familiariza com ela, com a não leveza dela, com a sensibilidade que ela demonstra ter nos desenhos de cactos e nas pinturas abstratas, mas não era da isa que pensei em dissertar nesse texto, eu deveria estar estudando log e sabe, você só mede PH com log e você pode montar mil géis de agarose e fazer 200 PCR, ainda assim a nicotina te completará mais, as vezes

a lili, a gente não se toca, eu pensei outro dia, a gente se tocou pouquíssimas vezes, mas é dela que aprendo tanto, pois essa sensibilidade enrustida, essa que a gente cria cascas para esconder, a lili tem de sobra, ela é dura como concreto e ali dentro de toda aquela dureza tem alguém que sente tanto esse mundo quanto eu, isso me aproxima, por mais que eu não a toque, por mais que possamos resumir esses três anos em dois abraços, a lili também sabe, a gente enlouquece um pouco nos finais de ciclos

o final sempre nos reserva um quê fora da casinha, os começos também e depois quem sabe uma estabilidade, depois quem sabe


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ele me apresentou essa música (quando bate aquela saudade), eu acho que o amo as vezes, mas agora ela já não sai da minha cabeça, é uma música dolorida, de um amor que lateja e ainda assim é belo, lili a colocou para tocar na sala 3 e causou um nó em minha garganta, a fumaça desceu e só o cheiro de cigarro ficou forte em meus dedos, eu também não o percebo
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achei que pudesse ser o início de uma nova crise, mas creio ser apenas esse momento torpe, a gente enlouquece um pouco nos fechamentos, a gente meio que se perde propositalmente para recobrar o fôlego e os propósitos

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