quarta-feira, 7 de junho de 2017

Do amor, dos corpos e da orgia.

Tinha para mim no inicio dessa vida que o comportamento sexual nos humanos era algo apenas libidinoso, via o sexo algo estranho, algo meio inalcançável, algo completamente padronizado. Não achava nada daquilo belo, mas era curiosa, também não entendia o os sentimentos envolvidos em tudo, não entendia a emoção, não compreendia a complexidade.

Eis que o hoje chegou e com ele veio algo que acaba me dizendo bem mais de mim agora do que de quem um dia eu fui. Ocorre que hoje, sexo não é sexo. Aos dezoito eu amei pela primeira vez, digo o amor romântico, essa dinastia linda de emoções distintas ocorrendo em uma cascata tênue e lenta bem no meio de quem somos. Esse primeiro amor foi, de meu lado, intenso como um mar em fúria e para esse amor dediquei algum tempo de meus primeiros anos de juventude, era um desespero o desvencilhamento daquele sentimento tão bom outrora, tão amargo após e tão liberto hoje.

Houve no tempo de um amor insano inúmeras descobertas sobre o que era amar. Acreditei que o amor era uno, que o amor era livre, poligâmico, despretensioso e mesmo uma tendência pouco estudada do ser humano moderno. Mas após episódios épicos de própria contemplação, notei que eu amava sentir os outros corpos. Quando descobri duas coisas o amor é algo além do corpo, mas não é unicamente da alma. Eu comecei a ver beleza na pele, no toque, nos beijos, nas línguas e cabelos, conformações dentárias, narizes, orelhas. Onde havia pernas eu via sem jeito, não apenas pernas, mas uma infinitude de lugares percorridos, folhas secas pisadas, corridas por medo, alegria, estética. Onde havia braços, eu via abraços quentes, frios, apertados e espaçados, amores, mãe, pai, avós, netos  e afilhados. Descobri a beleza do toque, todas as peles tem marcas, pelos, unhas, pintadas, naturais, outros dedos que ali percorreram, os tombos, as quedas de árvore, acidentes de bicicleta, motos, queimados de sol, de fogo, desenhos. Tantos e tantos desenhos, sereias, faróis, gatos e leões. Besouros e libelulas.


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