domingo, 7 de maio de 2017

A telúrica e a retórica

mas as coisas são assim mesmo, no fim a gente acaba levando muito mais de tudo isso aqui, tudo vai passando tão rápido, nada disso sera tão importante novamente. Esse momento aqui, é o único existente, só hoje, só o agora. Nada mais é tão possível e tão concreto quanto agora, nada em nenhum tempo, o agora é sua mesa de trabalho.

isso não muda quem somos, eu tenho visto em mim mesma o retrato do que observo no mundo e tenho dito que está tudo bem, mas na verdade não está. Eu tenho agido assim tanta e tanta vezes, com esse egoismo, com esta carranca lúgubre e tantas vezes áspera, inconstante e arredia. Aos vinte eu acreditava tanto na minha elevação espiritual,  pressupunha que já havia, eu vivente há duas décadas, já conhecer dores reais, amores reais e que a vida era simples como uma caixa, quatro lados e eu apenas deveria notar sua beleza e simplicidade. Mas eu nunca fui sincera, nem mesmo com as minhas próprias visões de mundo e vida de caixa, simplicidade e beleza, tem suas irrelevâncias, temores e muitas, infinitas contradições. Sua complexidade me comove.

eu conheci um lado porco e sujo de tudo isso que a gente chama de vida, quando alguém passa por isso nada volta ao normal, nada é como antes, seu sentido some e sua visão embaça.Eu conheci o lado porco e sujo do mundo, não nas minhas vivências, mas nessa capacidade adquirida da empatia humana, calçar seus sapatos é também sentir sua dor. Eu abri o manto da minha própria porquidão e sordidez. Eu, a única pessoa passível de mudança, o único material de trabalho. Você planta e pode não colher os frutos agora, pode não haver frutos nunca. Ao mesmo tempo a vida é mágica, queria acreditar que algo tão lindo possa ter sido criado por qualquer ser, queria crer no cosmos que atende as orações das almas aflitas, mas não. O "acaso" pode ser excepcionalmente deslumbrante se conseguir olhar com esses olhos, uma sucessão de "acasos" podem conter e transformar a vida e a vida, a vida sim, esse fenômeno tão singular de nascimento, perpetuação, senescência e morte é banhado pela luz de algo maior, eu, a complexidade,sublimação e estopo da própria existência. a formação de um universo que a gente não conhece e nem vai conhecer. Não como humanos, não nesse ciclo.  

seu ego é você.

basta três dias, doze horas e vinte sete minutos para convencer a si mesma de que a leveza esta no próprio pensamento de quem a vê. é preciso alguns segundos e uma leitura para notar que nada de leve provem da realidade humana.

me perguntaram então o que me fazia mais feliz nesse mundo, não foi das mais fáceis a resposta, muitas coisas reais e tangíveis me proporcionam felicidade, mas após algum tempo pensar, respondi que minha felicidade de certo modo pousa em alguns pilares, que na Terra, de forma real plantas e insetos me causam um sentimento de plenitude e aquela aterradora consciência de inconstância e pequenez humana, há quem não compreenda a intensidade de se sentir a verdade por trás das plantas e dos bichinhos minúsculos, aquela verdade que nunca queremos aceitar, a finitude de nossa semelhança ao criador, a recaptação do conceito de nosso lugar na Terra e tudo de mais estarrecedor que pensamos durante nossas crises existências. Uma planta, não entrando no quesito de valores ou mesmo de relevância para o meio, mas uma planta por diversas vezes me trouxe mais felicidade que muitas pessoas. Esse suspiro de perfeição de milhares e milhares de anos na Terra.

eu notei, logo cedo que não era igual aos outros, a você. Era apenas eu, quando criança tinha em mim uma coragem e curiosidade natas, no que diz respeito a explorar o novo, desvendar o mistério por trás de tudo. Na juventude fiquei insegura, perdi a audácia daqueles primeiros anos e passei sentir que eu era pouco demais, perto de tudo, das coisas, dos outros, ainda assim o novo era atraente e tentador. Mais tarde conheci o medo, o medo da mudança, o atraente e tentador novo, agora me parecia um monstro de sete cabeças pronto para me engolir, regurgitar e cuspir, sete vezes eu mesma, mastigada, fadigada e sozinha. E o medo me trouxe isso, o vislumbre de quem sou, a verdade por trás não das coisas, mas de mim mesma. A curiosidade se voltou para dentro com o medo de ver lá fora e após fuçar livros, reler histórias e folhear cadernos, contornar todo sistema límbico e aquele hipocampo logo ali atrás, os olhos espiam o futuro e sorriem.

azar o seu que não estará lá para ver.




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