quarta-feira, 19 de abril de 2017

Clara

é o futuro, ao menos se parece o futuro. Flora volta de Pelotas numa van colorida, quem dirige é o menino Mateus, que não se chama Mateus nessa realidade. Flora traz consigo a Sol e pela primeira vez Sol e Eva se encontram, esta frio e ambas usam casaquinho listrado, Sol usa um casaquinho azul escuro com listras brancas e Eva usa um casaquinho branco com listras azuis. Elas se tornam muito amigas e passam a dividir a mesma caminha. Nesse momento estamos nós todos na casa antiga de meu tio Reginaldo, as crianças ainda são pequenas, João tem cerca de dois anos e brinca com a cachorras. Nesse momento o até então futuro se torna uma lembrança da minha infância, eu e Marcela estamos juntas, brincamos e contamos coisas da vida uma para outra, paralelamente Flora segue sendo adulta e estando preparando as coisas para partir na van colorida, saio da casa e sou adulta também, cumprimento o menino Mateus, que não tem esse nome e nem se parece com ele fisicamente, mas tudo bem, fico feliz de estar conhecendo-o naquela noite, está frio e tomamos quentão enquanto esperamos a lua crescer no céu. Sol e Eva brincam e a noite segue escura, o único lugar iluminado é a casa e nela as crianças ainda são pequenas e eu também sou, então não quero voltar lá para dentro, prefiro ser adulta, ter a Flora por perto e sentir o frio da noite sem lua. Escolho estar no futuro.

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separo as coisas da Flora para encher a van, ela saiu e Mateus (não Mateus) me ajuda a arrumar a van para partimos para qualquer lugar ainda mais futuro, eu pegaria uma carona com eles, há também outro carro e Flora iria guiar um deles, aparentemente seria uma viagem longa. Entro na casa novamente e tudo esta como no passado, o quarto dos meus primos é como era quando o João nasceu, há ursinhos na parede e um fundo bege, a cama de casal fica bem no meio e a banheira do João está do outro lado, vejo os brinquedos da Marcela e bola cor de rosa fajuta que fez tantas vezes a gente brigar, olho para o espelho e aquela sou eu aos cinco, estou nua e minha tia havia acabado de me dar banho, é uma imagem de algo que realmente aconteceu, algo que eu realmente me lembro, a gente tomava banho juntas e tínhamos corte de cabelo igual. Saio da casa e a varanda é o presente, a varanda está como agora, depois de todas as reformas. Sento e a menina da série coloca a cabeça no meu colo, ela se parece Lola e Nabila simultaneamente, mas logo passa a ser só Lola e eu a aperto muito e sinto coisas estranhas e amores ao beijar seus cabelos e começo a dizer a Lili, Marcela e Flora que se ela morresse eu iria querer morrer junto. Ela esta com a cabeça no meu colo e olho em seus olhos verdes tão profundamente e sinto muito carinho por ela, beijo seus olhos, cabelos, bochechas e boca diversas vezes e ela fica sorrindo e me olhando nos olhos. Logo volto a arrumar as coisas da Flora, há dentre essas coisas, anéis e um sabonete em formato de coração, que lembro de alguma parte de minha vida, mas não me lembro qual, ele é de glicerina e tem o cheiro da Flora e flores secas dentro.

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estou com Lola no apartamento em algum lugar que não é São Paulo, parece muito São Paulo, mas não é, é um lugar nenhum de nenhum lugar aparentemente, provavelmente algum cenário reutilizado de sonhos mais antigos, pois se parece muito com algum outro lugar que eu conheço. O chão é de mogno, os moveis são de mogno, há gavetas, balcões e armários, há duas grandes janelas panorâmicas. A tv está ligada em algum jornal, que informa em meio a muitas noticias o suicídio de uma moça jovem em São Paulo, paro o que estou fazendo para ver, sento no chão e vejo aparecer a foto da Nanda, não acredito no que estou vendo, me recuso, a imagem que vem em seguida é uma garota dependurada numa sacada, suspensa por um fio de alta tensão, desses bem grossos. A imagem me atormenta, me jogo no chão e começo a chorar desesperada, choro muito. Não consigo me mexer e grito muito, Lola tenta me acalmar e nada adianta, sigo sem conseguir me mexer e gritando muito, sinto uma dor horrível pelo corpo todo, como se tivessem me matando.

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aperto forte a mão de Kaio depois de buscar noticias da Nanda pelo Facebook, começo a chorar novamente, mas ele não parece abalado com a morte da esposa, diz que essas coisas acontecem, eu berro e sinto um desespero imenso, me imagino morrendo e desejo que tudo não passe de um sonho horrível.

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saímos com a van, passamos por lugares lindos,lagos, flores e terras coloridas. Morros, montanhas e cordilheiras, chegamos em uma casa diferente, há muita gente, agora estou com Javiera, uma garota de cabelos curtos, sinto por ela o mesmo que sentia por Lola na segunda parte do sonho, não estou sentindo nenhuma dor e a acho linda, fico admirando a beleza dela, olhando o tempo todo, ela é a líder de qualquer coisa que esteja acontecendo por ali, uma moça negra linda dança com uma roupa colorida, ela tem cabelos dourados e estamos muito perto de um lago, tudo é colorido e o sol incide de uma forma maravilhosa em todos os lugares e nas pessoas que riem e bebericam líquidos coloridos e comem frutas, há muita felicidade e não há dor. Parece uma festa e ao mesmo tempo um movimento, uma intervenção, uma reunião de movimento estudantil. Esta entardecendo e recebo a noticia de que minha irmã havia nascido, peço a van emprestada para ir até lá ver o bebê. Saio e de repente minha tia avó está no sonho, para chegar a van passo pelo lago, numa parte mais funda minha tia cai e começa a se afogar, deixo o rosto dela para fora da água turva e a levo para a margem, ela parece pequena e frágil, está desnorteada e confusa. A tiro da água e alguém a embrulha em um fralda, ela é pequena e frágil, um moça aparece e leva a tia para casa dos meus pais, estamos na curva do Fernando Pantaleão, perto da casa dos meus pais. Alguém está com a bebê no colo, parece minha mãe, porém mais nova, em algum momento do passado, a bebê não se parece comigo, é branca e não tem cabelo, os olhos são bem castanhos e expressivos. Eu fico feliz com a bebê, subo até a casa e encontro a Javiera lá, sorrindo. Tenho que escolher o nome da minha irmã e vejo que a moça é bem parecida com a bebê. Chamo-a e beijo a testa dela, dizendo que a menina vai se chamar Clara em homenagem a ela. Era Clara Javiera a moça, ela fica muito feliz e saímos rindo do local.


Acordo e vou ver a última vez que Nanda esteve online no whatsapp, a chamei e ela estava em aula e não pensava em suicídio.



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