sábado, 4 de fevereiro de 2017

I wish my name was Clementine

Um dia, no meu primeiro ano em Pelotas percebi um fenômeno estranho, mas que era algo muito real e corriqueiro, eu já tinha passado por muitos céus naquela cidade, muitas histórias, medos, fantasias, mas a primeira vez que notei era uma terça, era início de inverno, um vento cortante já rondava as ruas e um frio sorrateiro já adentrava os casacos de lã. Era o início do inverno e eu havia amado todo o verão,  chorado toda a primavera e ainda tinha os olhos inchados naquele outono. Todo aquele tempo havia sido uma grande eternidade, os dias foram longos e as noites regadas a solidão, soluços e músicas. Bom naquela semana fazia frio, o sol não esquentava a cimento da calçada e era preciso duas meias para poder estar lá fora, eu dormi muito, quando despertei era terça e o dia passou num piscar de olhos. Pela primeira vez na vida eu sentia a brevidade de um dia de inverno, a noite chegou tão rapidamente que jurei estar ocorrendo um eclipse, olhava para o céu e tinha certeza que alguém havia apenas apagado a luz.

Em minha primeira noite em Pelotas escureceu era quase dez da noite, revelando um por do sol majestoso que eu observava da janela de um apartamento no Porto, eu não tinha ideia de tudo que eu iria me causar naquela cidade, não tinha ideia da imensidão de amores que iria conhecer, dos laços que eu iria estreitar, dos apuros e das inseguranças que eu viveria, eu apenas olhava aquele céu vermelho tão incrível como eu jamais havia visto e pensava que tudo que eu mais almejava era estar exatamente ali naquele lugar, por uma das primeiras vezes eu estive tão puramente no presente que meu coração palpitava infinitamente. Pude ver mais céus vermelhos e mais entardeceres majestosos nas ruas da melancólica e surreal Pelotas e pude sentir muita falta de seus ventos e nuvens carregadas, de seus amanheceres tardios e suas sensações primeiras.

Era quase oito da noite e os pássaros atordoados ainda cantavam e buscavam abrigo, no carro em movimento eu olhava um fundo alaranjado e o céu coberto de nuvens, um banhado movimentado e ela batucando com os dedos no volante enquanto tocava Sarah Jaffe no Mp3 que eu acabara de conectar ao reprodutor. Era um longo dia de verão, talvez quase véspera de meu aniversário e São José repetia minha primeira noite em Pelotas enquanto mudávamos mais um plano e se criava mais uma sensitiva memória, no fundo eu apenas queria que aquele momento não terminasse, que a avenida cheia de carros fosse uma highway infinita em que eu te ouvisse batucar no volante e que essa certeza de que tudo esta bem durasse a eternidade.

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