sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

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Eu havia acabado de dissolver o açúcar orgânico no resto de café requentado quando você chegou aqui, passei a noite meio em claro, acordando diversas vezes e torcendo para que essa manhã não fosse tão chuvosa. Não dormi, você chegou e o dia continuou cinza. Depois de três xícaras de café sai correndo para resolver problemas de adulto, que no fundo gostaria que se resolvessem sozinhos, voltei na hora do almoço e ainda não tinha dado tempo de sentar e te falar as coisas que haviam se passado nesse mais de um mês longe, o açúcar empedrou no fundo da caneca e vi apenas quando já tinha a pia lotada de formigas pequeninas.
Almocei e bocejava enquanto você me ajudava a por a mesa e ia dizendo sobre como era lindo tudo que tinha visto, que desejaria que eu estivesse lá e eu não estava, lenços, ruínas e o som desse aparelho de celular mono que parece estar tocando mesmo quando esta tudo em silêncio.
Acho que a sensação que tenho é de que estava fazendo algo muito errado, errado a ponto de não conseguir te olhar nos olhos e falar. Eu ainda bocejava enquanto você dissertava sobre as cores saturadas e takes sem cortes de Lalaland, para quem ama cinema conversar contigo é um grande deleite, para mim, que gosto de conhecer coisas novas, o assunto passa a ser chato após um tempo e passa a ser insuportável após a análise crítica de ao menos três filmes da atualidade, mas nos clássicos e nos indie a gente sempre se entende. Enfim, eu estava tentando te contar sobre tudo o que ocorreu nesses últimos dias, não consegui te interromper, meu pensamento voava e eu queria entender o que de fato eu queria. Deixei a louça na pia e cancelei compromissos, queria dormir, fazer o que eu precisava fazer, sono, sono, sono, a privação de sono pode causar grandes danos cerebrais. Aí você deitou aqui do meu lado e ao contrário de nos atracarmos fiquei esfregando meu pé embaixo das suas pernas, enquanto você esquentava as mãos nas minhas costas. Ficamos em silêncio, as janelas fechadas, Novos Baianos tocava no notebook ao lado da cama e aquele sensação de completude ia chegando perto de mim. Por que não consigo ver as coisas estampadas na cara? Qual meu medo nisso tudo?Ppor que tanto medo do envolvimento? Por que sempre acabo estragando tudo?

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