segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Contrato de Talvez Três

Maio 2016- Macieira de Anedotas


Eu precisava dizer que tudo isso que nos aconteceu fez bastante diferença na minha vida, percebo que existem alguns pontos em mim que não mudaram desde as nossas últimas conversas, desde as últimas discussões, isso é sobre todas as vezes que você disse que eu era um fracasso e  as vezes em que eu acreditei, mesmo sem perceber. Saber que parte do que sinto hoje foi conquistado nos meus primeiros anos de liberdade, os primeiros anos longe de casa, os primeiros segundos de solidão. A gente aceita o amor que acredita merecer, a gente devolve o amor da forma que o recebe, eu sinto em lhe dizer, mas minhas explosões de ciúmes e meus impulsos de morte sempre tiveram um nome e eu nunca pude entender, me desculpe por um dia ter batido sua cabeça na janela ou ter jogado as flores que me dera no chão, por atirar suco de cajá em seu rosto, te perseguir pela casa, te trancar, me desculpa por ter arranhado seu rosto, jogado suas coisas para fora do quarto, gritado, puxado seus cabelos ou ter te empurrado na mesa da sala de estar, eu não sabia,  eu chorava por não compreender o que ocorria dentro da minha cabeça e com isso não podia ao menos me mover e tudo passava a nossa volta, os carros, as pessoas, os sentidos, a vida, por mim nunca seriamos agentes do nosso próprio destino. Hoje uma amiga minha se casou, fiquei olhando as borboletas enquanto meus colegas conversavam sobre drogas e quedas de bicicleta, pela primeira vez consegui dizer em público e olhando nos olhos das pessoas o nome do mal que tem assombrado meus dias. Lutei muito contra tudo isso e muitas vezes a certeza de ser um fracasso era tão grande que novamente não podia me mover. Acho que mover qualquer parte de mim sempre foi algo difícil nos momentos de grandes crises, lembro que quando criança fiquei cinco dias sem me mover pois havia tomado uma vacina dolorida, não lembro ao certo o que me fez voltar a andar, mas lembro que meu maior medo era de mexer as pernas.Hoje meu maior medo é novamente me mover, me mover pra frente, seguir e continuar sem medo da possível precipitação, afinal já cai tantas e tantas vezes. No fundo acho que eu sempre precisei te dizer tanta coisa e ao mesmo tempo  nada. Aprendi tudo de errado sobre o amor quando estive com você e me viciei em coisas tristes, não foi culpa sua, mas a submissão me dá um enorme prazer e a dor me causa calafrios, risos, espasmos, às vezes é como se toda minha libido dependesse disso. todas aquelas vezes em que gritávamos freneticamente uma com a outra e no final eu só desejava me entregar a você e quanto mais gritaria, maior o prazer. hoje eu consigo por fim entender, aqueles meses me causaram danos que até agora não pude mensurar, não sou o tipo de pessoa forte que lida bem com tudo, mas hoje tenho lidado muito melhor com quem tenho sido e quem venho buscando ser, como disse às vezes é como se eu estivesse remando loucamente contra um mar em fúria, mas sou apenas eu. Sabe eu precisava te falar que fiquei com medo de amar de novo depois de você, além de acreditar ser um fracasso, não me entender, não saber lidar com quem eu sou, tive minha autoestima destruída, apenas eu sei o quanto foi trabalhoso recupera-la, sem autoestima você apenas não consegue chegar nas pessoas, não consegue se abrir para as pessoas, não se acha válido o suficiente e não pode ao menos arriscar qualquer entrega que seja.por isso queria também me desculpar por todas as mentiras que contei, mesmo não te devendo nem um pouco essa explicação. Disse para Lola que por mais que tentasse muito, havia dias que eu não conseguia não pensar por algum segundo em você, disse que eu gostaria de sentar um dia e dizer tanta coisa e discorrer o quanto foi difícil e trabalhoso o caminho de volta a mim mesma, sentar e dizer em meio a longos goles de chá essas coisas que não teriam nenhuma importância para você, disse que gostaria de um dia sentar te perguntar como estão as coisas e ouvir de você que tudo vai tão bem que não se pode medir, gostaria de te convidar para um café, te apresentar minha Lolita,  minha doce Líli e minha nova companheira Isabela e dizer que tudo isso que vivo hoje tem um pequeno traço seu. Lola apenas me disse que eu devia lhe escrever, que escrevendo os sintomas de precisar falar vão sumindo de pouquinho em pouquinho e assim o tenho feito, todos os dias, quando algo de ruim me assola, quando coisas incríveis acontecem, quando o mundo parece que vai desabar, eu escrevo,  eu escrevo para um você inventado, um você que nunca nem chegará perto de ser real, mas assim as coisas fluem com mais delicadeza e às vezes parecem até mesmo flutuar.

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