terça-feira, 25 de outubro de 2016

um por um

Há tempos não me sentia tão bem como hoje em dia, claro alguns momentos o tédio me pega e me reviro em muitas para contorna-lo e não deixar que os pensamentos muito ruins se acerquem, mas é inevitável, eles residem em mim, eles são eu também. Há dois dias eu durmo bem, não foi mandinga, mantra, reza brava ou rivotril e lexotan que me causaram sono. Acredito ter sido um negocio estranhíssimo que não tenho faz uma cota, fé.
Quando digo qualquer coisa relacionada a fé, já logo todos pensam no cristianismo e em deus, não, não falo disso, estou falando numa fézinha, bem pequena, qualquer coisa que se acredite com um minimo de profundidade. Bom, tenho relatado aqui que nada me fazia dormir nas minhas piores noites e tenho tentado de tudo. 
Quando o ano se iniciou eu pensava em me aprofundar no budismo vajrayana ou mesmo na vertente de nitiren daishonin com intuito de conseguir superar a depressão, já que por minha própria conta descartei o diagnostico de transtorno bipolar, contra a vontade de Dr. Cássio que logo alegou que eu perdia a criticidade e não deu semanas para que eu voltasse a seu consultório com uma crise de mania. Eu não voltei. Mas também não me curei, segui um tratamento com outro psiquiatra, mais humano, mais meu amigo, mais conversador, Dr. Benigno aparentemente se importava com que eu dizia, tinha uma visão mais humanista, holística, psicanalítica e estava sempre me indicando filmes, unguentos e florais além da medicação alopática. Mesmo para o mais poderoso opioide é necessário acreditar. Voltando ao budismo, nessa época eu já tinha desistido do cristianismo há tempos, ali nunca tive pertencimento, ali nunca pude ser quem eu realmente era, mas o budismo parecia uma opção, havia pois, convertido uma de minhas melhores amigas em uma pessoa melhor, aparentemente, visto que muitas das atitudes dela continuaram iguais, vai entender!? Mas quanto mais eu lia sobre e achava incrível de fato, por algum motivo mais distante eu ia ficando, um dos princípios básicos do budismo, o estudo sobre a doutrina, não me convencia, pois tudo que eu sentia de fé e crenças até então nunca havia requerido um estudo prévio, era apenas sentir, era apenas isso, conseguir sentir as coisas e isso eu fazia muito bem, não precisava de prova alguma para mostrar o quanto eu senti. Não naquele momento, no momento de fato, eu não sentia nada, a depressão é uma apatia constante, mas eu sabia que ali no fundo eu ainda sentia, ali no fundo de mim eu sabia qual o propósito, apenas estava meio perdida, desconectada, confusa, todavia estou. Nas minhas piores crises eu recitava mantras budistas,  metta bahavanna, nanmyohorengekyo, hare krisna hare hare, om shiva om shakti, creio em deus pai, deus prove deus proverá, eparrei aruanda a nossa mãe é iansã, o pai xangô Iemanjá, foram noites e dias de cânticos e rezas e nada me ajudava, foram inúmeras idas à centros espiritas, cura e libertação. Tudo me acalmava, tudo me fazia melhor por alguns minutos, até minha cabeça tediosa se engonhar daquela situação e ter no mais profundo de mim que porra nenhuma daquilo adiantaria. Aí eu parei, já não havia me adaptado a nenhuma dessas crenças e para falar a verdade achava tudo uma grande merda, achava tudo um grande artificio, uma grande enganação do homem para consigo mesmo. Homem esse que precisa crer em algo para não surtar, precisa crer-se divino para não se igualar aos outros animais e assim poder domina-los de alguma forma. Esse foi o aspecto que mais me incomodou em todas as doutrinas, a necessidade humana de se por no centro das coisas "deus acima de mim, mas eu soberano na terra" ou " homem imagem e semelhança de deus" ou " o aspecto humano divino" e outras variáveis.  Como quando em uma reunião budista eu conversava com um moço praticante há anos e bem mais entendido do assunto, sobre a questão da reencarnação em animais, para eles o ser humano é o topo da reencarnação, cães, gatos, gafanhotos e baratas, estão abaixo de nós como seres espirituais. De fato contradizia o que sempre acreditei do mundo, a totalidade. Eu quando criança não matava uma formiga por saber que aquela vida tem o mesmíssimo valor da minha, nós não somos iguais, mas cada uma de nós, ser humano, formiga, desempenha um papel fundamental na terra, eu sem ela, nem ao menos seria, como animal os considero seres num ponto de elevação tamanha que não precisam de nada para desempenhar com maestria seu papel, precisam apenas existir. Só observar a complexidade das árvores, quem em plena consciência de mundo estuda fisiologia vegetal e não percebe a divindade tamanha de uma frondosa árvore, cheia de ácido abcísico, etileno , Rubisco, se alimentando lindamente da luz solar e posteriormente alimentado à todos os outros seres terrestres, já que são base de cadeia? Todo esse pensamento meu, havia ficado bem claro numa experiencia mais recente, com um ritual xamânico de ayahuasca, que mesmo tendo sido libertador e esclarecedor a sensação de pertencimento ao planeta e ao mesmo tempo o distanciamento do homem com o que realmente é divino,  foi um estopim para todas as coisas que eu teria de lidar no futuro, envolvendo eu mesma, o mundo, e os acontecimentos da minha vida.

Mas como eu dizia no inicio do texto, há tempos eu não me sentia tão bem, eu consegui manter uma boa rotina nas últimas semanas. Sexta passada quando comprei um frasco com sessenta capsulas de valeriana, coloquei na cabeça que a valeriana era a coisa mais indicada para tratamento de insônia, projetei gráficos e dados mentais, mostrando a eficacia do tratamento com aquela planta, busquei no meu livrinho de plantas medicinais, escrito pelo irmão Cirilo e valeriana era o supra sumo no tratamento de insônia crônica, domingo as 23 horas eu senti muito sono como se um manto mágico caísse sobre mim, acordei as 6 horas do outro dia, revigoradíssima, tive sonhos incríveis com lagartas e animais pequenitos, pupas, casulos e muita terra molhada, dormi como não fazia há meses e me senti ainda melhor em ter conseguido. Quarta- feira passada, havia tomado um suco de maracujá batido com rivotril e ainda assim passei a noite em claro, lembrei que antes de jogar os comprimidos no liquidificador eu havia pensado que aquilo não iria dar certo, tornei o negocio impossível antes mesmo de começar. Eu as vezes desacredito demais no poder de ser ter fé. Mas fui assim desde pequenina, quando perguntei a tia da catequese como era possível uma virgem ter ficado grávida e ela disse que para deus nada era impossível e eu retruquei dizendo que para ciência deus nem existia. 

Durante essas semanas venho reparado que minha raiva estava voltando, o tempo de insônia te torna irritadiço, quem não dorme, não consegue viver bem, mas uma pessoa em especial estava me atormentando muito. Em alguns dias de profunda reflexão percebi que havia várias passagens da nossa vida conjunta que aquela pessoa havia me ferido, tinham sido coisas pequenas, mas um acumulo de anos de sentimentos não curados são bem prejudiciais. Eu percebi que possibilidades de cura de si e dos outros sempre haviam me deixado melhor, a cura em relação a quem minha melhor amiga havia sido para mim, quem eu havia sido para ela. A cura da minha mãe, das coisas em que ela falhou, as coisas em que eu falhei como filha. A cura de meu pai, do álcool  que ele sempre abusou e sempre me causou sofrimento e das vezes que eu o desprezei por isso. A cura de minha ex namorada que muito me machucou e do que eu fiz a ela, a machucando também. Tudo estava bem mais claro, no entanto os pequenos deslizes desse outro ser humano agora me incomodavam muito, decidi que era por bem me afastar, que talvez aquela relação nunca havia me feito bem, mas logo me arrependi do afastamento e quis voltar a ter contato, tudo isso foi feito sem que a pessoa tomasse consciência, quis superar aquela raiva, mas quando o tornei visível para o outro vi que só eu estava me importando com aquilo. Novamente a toxicidade da relação veio a tona, me senti mal, por que sou eu sempre a buscar? ir atrás? perguntar como tudo está? Já havíamos nos desentendido a pouco e voltei a pensar em um possível afastamento, por momentos fiquei feliz, feliz pois me sentia bem, estava alcançando coisas, objetivos, estava como uma meta, tinha novamente um propósito, por mais que aquela pessoa em especial não estivesse mais participando da minha vida. No momento seguinte fiquei triste, pois me afastava de pessoas queridas e não conseguia ver reciprocidade em nada. Precisava urgentemente de outro movimento de cura de mim, do outro. Precisava novamente daquele acreditar com profundidade, mesmo que minimante, chamado fé, a mesma que fez com que o placebo da valeriana, junto com o poder dos princípios ativos da planta, me fizessem finalmente dormir a noite inteira nos últimos dias, mas onde eu encontraria a força para a cura nesse momento de muita raiva e irritabilidade em relação aquela pessoa. 

Foi quando aconteceu um fenômeno interessantíssimo, apareceu em minha timeline no facebook, uma prostituta, pois é, uma prostituta, falando sobre uma técnica de cura e meditação havaiana, ho'oponopono, que não apela a  nenhuma lei cósmica universal, não traz a suposta divindade humana a tona, trabalhando apenas com sua parte inconsciente e as tristezas e angustias que a gente não tem acesso. Eu apenas digo, eu sinto muito, te amo, eu sinto muito, te amo, eu sinto muito... Posso faze-lo mentalmente enquanto escrevo isso, posso faze-lo recitando, cantando, como mantra. Não estou desculpando o outro nesse processo, nem dizendo que o amo, estou me desculpa, dizendo a mim mesma que me amo, pois o  que vejo no outro nada mais é que um reflexo de mim mesma, isso sempre esteve claro, por mais que as vezes nosso lado mais escuro não nos deixe enxergar e que fique claro, o lado escuro e sua aceitação são de extrema importância, não se cura o que não se aceita antes de tudo, não se cura o que você mesmo nega. Claro, sigo sentindo alguma raiva, querendo  por esse momento não estar por perto dessas pessoas que mesmo sem querer me fazem mal, mas enquanto eu trabalho em mim, curo minha visão deles também.

Un pasito adelante por vez, hasta la inmensidad  

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